Ele me olhou, os olhos duros.

— Você está se iludindo. Você acha mesmo que pode ter um relacionamento assim, nesse meio, sem consequências?

— Eu não estou pedindo a sua permissão para tentar — respondi. — Só estou pedindo que pare de atrapalhar.

Meu peito subia e descia rápido, como se estivesse segurando algo mais forte ali dentro. Algo que, se eu deixasse sair, poderia me desmontar inteiro.

— Você está me atrasando, Jeong. E não é nos compromissos. É na vida.

Ele me olhou mais uma vez, mas dessa vez não rebateu. Só se virou, pegou o celular e mandou o motorista acelerar.

Eu encostei a cabeça na janela e fechei os olhos. Se eu estivesse em um desenho animado, meu rosto já estaria completamente vermelho agora. De raiva.

Mais tarde, em casa, o mundo finalmente ficou em silêncio.

O banho quente tinha ajudado a tirar o peso do corpo, mas não o da cabeça. A conversa com Jeong não saía da minha memória. As palavras ficaram presas ali, batendo nos cantos como se ainda estivessem vivas.

Me joguei no sofá, cabelo úmido, camiseta larga, o celular pesando na mão. Encarei a tela por longos segundos, antes de desbloquear. Nenhuma notificação nova.

Deslizei até o contato do Ji-hoon.

Fiquei ali por mais um tempo, só olhando o nome dele. Só ele conseguia me fazer respirar direito quando tudo parecia desmoronar. Só ele sabia quando meu silêncio era um pedido de ajuda.

Toquei para ligar.

Demorou um pouco. O suficiente para meu coração começar a bater mais rápido. Mas ele atendeu.

Alô? — a voz veio meio baixa, rouca. Ele parecia estar deitado.

— Ei... — murmurei, me encostando no sofá. — Estava dormindo?

Não. Só estava deitado... pensando. — Uma pausa. — Aconteceu alguma coisa?

Fechei os olhos por um instante.

— Foi um dia de merda.

Jeong?

Assenti, mesmo sabendo que ele não podia ver.

— Ele me pressionou, perguntou se eu ainda estava me encontrando com você... começou a falar aquelas coisas. As mesmas de sempre. Como se eu fosse destruir minha carreira só por querer viver.

Ji-hoon não respondeu de imediato. O silêncio dele nunca me incomodava, era diferente do dos outros. Era um espaço seguro.

O que você respondeu? — ele perguntou, por fim.

— Perguntei se ele tinha algum problema com o fato de ser entre dois homens.

E?

— Ele não respondeu. Não precisou.

Um suspiro veio do outro lado da linha.

Choi...

— Eu estou cansado — interrompi, baixinho. — Não de você. Nunca de você. Mas de ter que lutar com todo mundo para conseguir te ver. Para conseguir... te amar.

As palavras escaparam antes que eu pudesse pensar. Um nó se formou na garganta. Não era uma declaração — não como nos filmes — mas era o mais próximo que eu tinha conseguido dizer em voz alta.

Eu sei — ele disse, por fim. — Eu também estou cansado.

Quis atravessar a tela. Ir até ele. Encostar a testa na dele e só ficar ali, sem mais ninguém, sem esconder nada.

Fora do Script Where stories live. Discover now