Mas mesmo com a cabeça latejando, o corpo doendo, e uma multa nas mãos... Era ali que eu queria estar.

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O carro seguia silencioso pela avenida, a cidade ainda acordando devagar enquanto a luz do sol filtrava pelas janelas da van. Minji dirigia com os óculos escuros tortos no rosto, um copo de café na mão e a cara de quem não devia ter bebido tanto soju na noite anterior.

A ressaca tinha deixado de bater. Agora ela estava sentada no banco da frente, dirigindo.

Tentei conter o sorriso, mas não consegui.

— Você estava inspirada ontem no sofá, hum?

Ela nem olhou para mim. Só ajeitou os óculos no rosto e soltou um longo suspiro.

— Não começa, Ji-hoon.

— Sério. Aquela parte que você subiu com um pé no encosto e o outro no braço do sofá? Arte.

— Eu juro por tudo que é mais sagrado que eu te largo no meio da estrada.

Mordi o lábio, segurando o riso. Olhei pela janela, fingindo desinteresse.

— O Choi mandou bem também, né? Aquela guitarra imaginária dele quase virou realidade. — ela também alfinetou.

— Mas pelo menos ele ainda continuou bonito.

Minji virou o rosto na minha direção, uma sobrancelha arqueada por trás dos óculos escuros.

— Você está defendendo ele?

— Só estou sendo justo — respondi, dando de ombros.

Ela me encarou por mais dois segundos antes de voltar os olhos para frente e soltar um riso fraco.

— Vocês dois juntos vão me matar.

— Você que começou pulando no sofá — retruquei.

— E você que deixou.

Rimos juntos, o silêncio confortável voltando a se instalar. Do lado de fora, a cidade já se movimentava, como se nada tivesse acontecido.

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O estúdio de rádio era pequeno, com aquelas paredes cobertas de espuma acústica e luzes fluorescentes que sempre me deixavam meio vesgo. Havia uma câmera no canto, gravando tudo para o canal da rádio no YouTube e um copo de água gelada em cima da mesa. Fora isso, era só eu, o microfone e a apresentadora com um sorriso gentil.

Antes de começar, o produtor chamou a apresentadora no canto e disse:

— Sem perguntas pessoais hoje, tá?

A entrevista correu tranquila. Falamos sobre o novo projeto, sobre a experiência de gravar aquela cena intensa do episódio sete, sobre meu processo de preparação para personagens mais fechados. Eu ri, falei com calma, até brinquei um pouco. Senti minha voz firme. Minji, do outro lado do vidro, me observava com um leve sorriso, e por um segundo, me senti inteiro.

Depois que acabou, acenei para os funcionários, agradeci educadamente e saí pelos fundos, onde uma pequena grade de contenção me esperava com algumas fãs. Eram poucas, talvez umas dez com olhares ansiosos. Quando me viram, algumas levantaram os celulares, outras apenas sorriram.

— Ji-hoon, fighting! — uma delas gritou, erguendo um banner feito à mão.

Meu peito apertou.

Eu parei por um segundo, acenei devagar e agradeci em voz baixa. Uma das meninas estava tremendo de emoção e eu queria ter dito mais. Queria dizer que eu estava lutando, estava tentando.

Mas só sorri.

Na van, sentei no banco de trás, com o corpo ainda meio tenso, mas o coração... ele estava mais leve. Pela primeira vez em semanas, eu não sentia medo. Talvez ainda tivesse um pouco de receio, sim, mas medo não.

Estar ali, de volta ao que eu amo, cercado por pessoas que torcem por mim mesmo sem saber de tudo, me fez perceber que talvez eu estivesse começando a parar de ligar tanto para o que os outros pensam.

Talvez, pela primeira vez em algum tempo, eu estivesse voltando a ser eu mesmo.

Choi Hyun-wook:
"Vi uns clipes seus na rádio. Está bonito de novo."

Mordi o lábio para não sorrir demais, mas foi inútil. Eu nem tinha visto os vídeos saírem ainda.

Respondi:

"Está me stalkeando?"

A resposta veio rápido.

"Sempre. Tô investindo no meu maior vício."

Revirei os olhos, escondendo o riso atrás da mão. Minji, lá na frente, me olhou pelo retrovisor, desconfiada.

— Está sorrindo por quê?

— Nada... só estou feliz de estar de volta — menti, meio verdade, meio desculpa.

Cheguei em casa no fim da tarde com o corpo moído, mas a cabeça mais leve. Era estranho dizer isso depois de tudo que aconteceu nos últimos dias, mas eu estava em paz. Ou tentando, pelo menos.

Minji tinha me deixado na porta e saído logo depois para resolver alguma coisa, então entrei sozinho, tirando os sapatos na entrada e sentindo o silêncio bom da casa nova. Ainda cheirava a tinta fresca e as caixas empilhadas no canto me lembravam que eu ainda precisava desempacotar metade da vida.

Respirei fundo, joguei a mochila no sofá e comecei a abrir uma das caixas. Meus livros. Passei os dedos pelas lombadas, sentindo aquela sensação besta de reencontro, como se cada um deles fosse uma parte de mim que eu estava encaixando de volta no lugar.

Liguei uma música baixinha no celular, deixei tocando enquanto arrumava a pequena estante na sala. Aos poucos, fui colocando os objetos no lugar: os quadros que eu ainda ia pendurar, umas velas que Minji tinha jurado que davam "energia boa" e a caneca lascada que eu usava desde pequeno.

Fora do Script Where stories live. Discover now