Franzi a testa.

— Quem?

— Essas pessoas. Que falam sem saber. Que julgam, especulam, distorcem. Se você se esconde, elas ganham. Se você trava, elas têm razão. Eu te conheço. Você é mais forte do que isso.

Engoli em seco.

— Eu estou cansado, Minji.

Ela assentiu.

— Eu sei. Mas você também é teimoso. E quando começa a se deixar afundar assim, eu preciso te puxar de volta. Mesmo que você me odeie por isso.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Ela se levantou e foi até minha mala.

— Se arruma. Temos uma gravação às quatro. É uma participação pequena, em um set fechado. Ninguém de fora. Nada de público.

Me sentei devagar na cama, como se cada movimento exigisse força.

— Vai ser rápido?

— Se você colaborar, sim. — Ela sorriu, mas era um sorriso gentil, que tentava aliviar o peso.

Fiquei olhando para ela por um tempo.

— Obrigado — murmurei.

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O carro parou em frente ao galpão de gravação. Minji desligou o motor e olhou para mim pelo retrovisor.

— Você não precisa sorrir pra ninguém. Só faz o que tem que fazer e a gente volta logo.

Assenti em silêncio, com o gorro puxado até metade da testa e os olhos escondidos pelos óculos escuros.

Por dentro, eu ainda estava oco.

Desci do carro sentindo o ar mais seco do que o normal. A equipe na porta fez uma leve reverência. Cumprimentei com um aceno discreto, sem tirar os óculos.

O set era fechado, pouca gente. O comercial era para uma marca de produtos de skincare. Já tínhamos ensaiado antes, tudo que eu precisava fazer era sorrir, passar o creme no rosto e repetir duas falas.

Mas hoje... tudo parecia um esforço.

— Ji-hoon-ssi! — o diretor veio até mim, animado. — Que bom ter você de volta! Descansou bastante, né?

— Estou pronto — respondi, com um sorriso treinado.

Ele não comentou nada sobre a "pausa". Nem sobre os rumores. Mas os olhos diziam o que a boca não ousava.

Fui levado até a cadeira de maquiagem. As funcionárias faziam o trabalho em silêncio, com gestos rápidos e leves. Minji ficou de pé ao lado, com os braços cruzados.

— Pode olhar o celular enquanto terminamos — disse a maquiadora, educada.

Peguei o aparelho da bancada e desbloqueei. Havia algumas notificações da equipe e uma mensagem nova no Instagram.

Era dele.

Choi Hyun-wook: "Você tá aí. Não sei como, mas só de ver isso, eu fiquei mais tranquilo."

Fiquei olhando a mensagem por alguns segundos. O rosto imóvel. Coração disparado. Com certeza deve ter visto fotos de quando entrei aqui.

Bloqueei o celular de novo, com os dedos gelados.

— Vamos para o set? — alguém chamou.

Me levantei.

As luzes eram fortes. A música ambiente, artificial. Posicionei o corpo diante da câmera. O diretor explicou de novo os movimentos, como se eu não tivesse feito isso mil vezes antes.

A gravação começou.

Fiz tudo mecanicamente. Sorri. Apliquei o creme. Olhei direto para a lente. Disse as falas.

Mas por dentro, tudo estava embaçado. Como se eu estivesse vendo a cena de fora. Como se fosse outra pessoa naquele estúdio.

Quando o diretor disse "Corta!", alguém bateu palmas. Ouvi um "ótimo, Ji-hoon-ssi!" vindo de algum canto.

Assenti, agradecendo.

Voltei para o camarim sem dizer nada.

Minji apareceu logo depois, com o celular dela na mão.

— A marca amou. Disseram que você continua entregando mesmo com o mundo em chamas.

Revirei os olhos, cansado.

Minji largou o celular na bolsa e puxou uma cadeira.

— Quer comer aqui ou quer ir embora direto?

— Vamos direto.

Ela assentiu. Não insistiu.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela mexia no zíper da jaqueta com uma calma que me deixava ainda mais inquieto.

— Você acha que ele está bem? — perguntei, baixinho. Quase sem querer.

Minji não reagiu de primeira. Depois, ergueu o olhar até mim.

— Quem?

— O Hyun-wook.

Ela se encostou na cadeira.

— Eu não sei. Mas aposto que ele está se perguntando a mesma coisa sobre você.

Me encolhi um pouco, como se quisesse desaparecer dentro do moletom.

— Ele mandou mensagem hoje — confessei. — Não disse muita coisa. Só que ficou mais tranquilo depois de me ver trabalhando.

Minji suspirou, ajeitando a franja com os dedos.

Peguei o celular de novo. A mensagem ainda estava lá, aberta. A bolinha verde acesa ao lado do nome dele.

Digitei algo. Apaguei.

Digitei de novo:

"Você também tá bem?"

Mas não enviei.

Só fiquei olhando para a tela, com a ponta do dedo parada no botão azul.

Minji me observava de canto. Mas dessa vez, não disse nada.

Fora do Script Where stories live. Discover now