Ela voltou a andar, meio inquieta, o salto ecoando no chão do camarim vazio.
— A foto é ruim. A qualidade é péssima — ela disse, como se estivesse tentando se convencer. — Eu estou tentando entender o que a gente faz se isso ganhar força.
Aquela frase me acertou diferente.
"O que a gente faz."
Porque agora não era mais só sobre mim e ele. Era sobre equipe. Imagem. Contratos. Futuro.
Suspirei, fechei os olhos por um segundo.
— Desculpa — murmurei.
Ela não respondeu de imediato.
Depois de um tempo, disse:
— Não me pede desculpa ainda. Só... não faz nada por impulso. Não responde nada. Não procura ele. — suspirou fundo. — Espera. Vamos ver o que acontece nas próximas horas.
Concordei. Sem vontade.
Ela se aproximou de novo, devagar, como quem queria tocar, mas não sabia se podia.
— Você está bem?
Neguei.
Ela assentiu.
— Eu volto depois da gravação.
E saiu, deixando o camarim em silêncio.
Fiquei ali parado, olhando para o nada.
A porta do camarim ainda balançava levemente depois que Minji saiu. Meu reflexo no espelho também. Pálido. Quase irreconhecível.
Peguei o celular de volta, abri a galeria. As fotos ainda estavam ali.
Granuladas, tremidas, estouradas.
Mas era eu.
E era ele.
Me carregando nas costas como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se a gente pudesse viver assim — do lado de fora, mesmo que por um segundo.
Na hora, eu nem pensei.
Quer dizer, pensei.
Pensei rápido. Muito rápido.
Choi até disse: "Torça pra ninguém ter tirado foto."
E eu ri.
Ri porque estava bêbado.
Porque parecia impossível alguém se importar com dois garotos na rua, uma da manhã, depois de um bar qualquer.
Mas agora...
Agora parecia bem possível.
O problema é que, se disserem que aquilo sou eu... ninguém vai acreditar que foi só amizade.
Nem a gente acredita.
E se disserem que a gente está junto... aí é pior.
A Coreia não vai perdoar.
Tem fã que apoia? Tem.
Alguns até torcem, comentam coisas, sonham com isso.
Mas e o resto?
As marcas? As emissoras? Os contratos?
A gente sabe como funciona.
Aqui, amar em silêncio ainda é a única forma segura de amar.
Apertei o celular com mais força.
Quis ligar pra ele.
Ou mandar uma mensagem qualquer.
Mas o que eu ia dizer?
"Desculpa por ter existido do seu lado na rua"?
"Foi bom enquanto durou"?
A cabeça latejava.
Não só pelo medo.
Mas pelo aperto de imaginar que, se isso sair do controle... a gente vai ter que voltar a fingir que nunca existiu.
Depois da gravação, pedi para ir direto pra casa.
Minji não disse nada.
Acho que ela entendeu o que eu precisava.
Silêncio.
Desliguei o celular no caminho e deixei a testa encostada no vidro da van. A cidade passava embaçada lá fora. Eu só queria parar de pensar.
Mas quando cheguei no apartamento e fechei a porta, o silêncio bateu de outro jeito. O tipo que pesa no peito.
Joguei a mochila num canto, tirei o casaco e fui andando até o sofá, sem nem acender as luzes.
Sentei, peguei o celular e liguei de novo.
Sem motivo.
Só... por fazer.
Porque o gesto já virou automático.
Abri o Instagram.
Não para stalkear ele. Nem sei o que eu ia ver.
Talvez só para sentir que ele ainda estava ali, mesmo que fosse pela tela.
Cliquei no perfil dele, vi algumas coisas e depois entrei no meu.
Demorei alguns segundos para entender.
Não tinha curtida na última foto.
Nem na anterior.
Nem no clipe que postei semana passada.
Desci mais.
Nada.
Fui até os stories.
Vazios. Como se nunca tivesse visto nenhum.
Demorei um pouco mais para clicar nos seguidores.
O nome dele... não aparecia.
Meu peito travou.
Fechei o aplicativo. Abri de novo.
Nada.
Ele não me seguia mais.
O coração começou a bater mais forte.
Quis pensar que não foi ele.
Que alguém da equipe apagou tudo, que foi o manager, o staff, a assessoria.
Mas mesmo assim... doeu.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
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