Demorou mais para ele responder essa. Quase achei que tinha exagerado. Mas então a notificação apareceu:
Ji-hoon:
Idiota
Choi:
Queria poder ficar mais tempo com você.
Ji-hoon:
Eu também.
Simples.
Mas suficiente.
Sorri sozinho, deixei o celular no criado-mudo e apaguei a luz. Pela primeira vez em dias, o silêncio não incomodava.
━────────━━────────━
Me joguei no sofá com o celular na mão, só querendo desligar a cabeça. Mas aí a notificação apareceu:
"Ji-hoon ao vivo no YouTube — entrevista com Jang Do-yeon."
Cliquei na hora.
Claro que cliquei.
A câmera abriu nele. Cabelo alinhado, pele boa demais para ser real, o mesmo sorriso controlado de sempre. A apresentadora sorria como se já estivesse encantada e, pra ser justo, todo mundo sempre ficava.
Comecei a assistir sem esperar muita coisa. Só queria ouvir a voz dele. Ver aquele jeitinho de coçar qualquer parte do corpo quando está tentando parecer relaxado.
Mas aí veio a pergunta.
— Você está namorando?
Ele riu. Ajeitou o cabelo. Fingiu pensar.
— Não... Não estou.
— Jura mesmo? Um cara como você, bonito, talentoso, sempre ocupado. Não tem ninguém que mexeu com seu coração?
Dei uma risada sozinho no sofá. Daquelas que saem meio soltas, meio irônicas.
Ela não tem ideia.
Deitei mais fundo no sofá, com um sorriso meio torto no rosto. Ele estava indo bem. O mesmo discurso de sempre. Mas dava para ver no jeito como ele piscava mais devagar, como mexia no anel do polegar — ele odiava mentir.
— Acho que meu coração está focado no trabalho agora, sabe? Relacionamento exige tempo e isso é o que eu menos tenho.
Frase ensaiada. Bonita até. Mas a voz dele falhou um pouco no final. Só o suficiente pra quem conhece perceber.
— E se aparecesse alguém que valesse a pena?
Ele riu outra vez. Aquela risadinha discreta, como se estivesse pensando em algo que não podia dizer.
Ou em alguém.
— Teria que ser alguém que me entendesse — ele disse. — Que não exigisse muito. Gosto de pessoas quietas, fofas. Gente que não precisa de muito para me fazer sorrir.
Travei o celular por um segundo, só para respirar. Soltei uma risada curta, debochada. Quase cuspida.
— Tá. Então não sou eu — falei em voz alta, rindo sozinho no sofá.
Peguei o celular e abri a conversa com ele.
Choi:
Gente quieta..?
Você acabou de me eliminar aí ao vivo, sabia?
Esperei. A live ainda estava rolando, então ele provavelmente não iria ver agora. Mas mandei mesmo assim.
Fiquei olhando para a tela. Ele ainda sorria pra apresentadora, fingindo estar confortável.
Todo mundo achando que conhecia o Ji-hoon.
Mas eu sabia o que tinha por trás daquele olhar contido.
Deitei na cama, luz apagada, só a tela iluminando meu rosto. Liguei e desliguei o celular umas dez vezes.
Nada.
Também, né, pensei. Você manda mensagem provocando o cara ao vivo e quer que ele responda na hora.
Deixei o celular de lado. Fechei os olhos.
Queria não me importar. Mas me importava.
Queria esquecer aquele sorriso dele. A risada na entrevista. A forma como ele disfarçou tão bem o que sentia — como sempre.
A notificação vibrou quando eu já estava quase pegando no sono.
Ji-hoon:
Você sabe que é roteiro.
Me virei na cama na mesma hora. Peguei o celular rápido, como se ele fosse fugir da minha mão. Fiquei olhando a mensagem por um tempo.
Ji-hoon:
Aliás, estava assistindo tudo?
Choi:
Sim, eu gosto de te ouvir falando.
Queria te ver de novo.
Ele visualizou.
Nada.
Esperei trinta segundos. Um minuto.
Dois.
Peguei o celular de novo. Toquei no nome dele.
Liguei.
Do outro lado, demorou.
Toques longos, frios.
Quase desisti.
Mas ele atendeu.
— Alô? — a voz veio baixa, meio rouca. O som mais bonito da noite inteira.
Sorri, automático.
— Ji-hoon... — falei. — Você podia ter respondido.
— Eu estava pensando em como — ele disse, quase num sussurro.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
Mas era um silêncio confortável. Eu ouvia a respiração dele do outro lado e isso já bastava.
— Queria te ver — repeti.
— Choi... — ele soltou meu nome num suspiro. — É arriscado.
— Eu sei — falei, apertando o celular contra a orelha. — Mas e se eu arrumasse um lugar longe? Tipo da última vez. Só pra gente passar um tempo. Algumas horas.
Silêncio.
— Ou... sei lá — continuei. — A gente podia marcar com o pessoal da série, inventar uma reunião do elenco. Só pra ficar no mesmo lugar. Mesmo que a gente não se fale muito, eu só...
Queria estar perto.
Silêncio. Mas eu sentia a respiração dele mudar.
— Choi...
— Só me diz que não sente o mesmo e eu paro.
— Você sabe que eu sinto. — respondeu. — Me manda o endereço.
Abri os olhos.
— O quê?
— Se você tiver mesmo um lugar... me manda. — a voz dele ainda era baixa. Mas firme.
— Sério?
— Sério.
Sorri. Um sorriso inteiro, cheio, quase aliviado.
— Já estou vendo um lugar agora.
Escutei sua risada abafada do outro lado da linha.
— E Choi...
— Hum? — resmunguei, enquanto rolava a tela de um site de hospedagem.
— Não faz mais aquilo.
— Aquilo o quê?
— Me beijar daquele jeito.
Dei uma risada sincera.
— Estou falando sério, por que está rindo Hyun-wook?
— Ficou desorientado?
— Aishh!!!!
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
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