A música tocava baixa, mas nem sei o que estava passando. Eu só deixei no automático.

Quando estacionei em frente ao meu prédio, o sol já se escondia atrás dos prédios mais altos.

Subi com passos lentos, arrastando a mala, e quando abri a porta do meu apartamento, a primeira coisa que vi foi Minji sentada no meu sofá, com as pernas cruzadas.

— Porque está aqui? — perguntei, largando a mala perto da porta e tirando os sapatos com um suspiro.

— Porque trabalho para você e você sumiu dois dias sem dar sinal de vida. — Ela levantou. — Mesmo que eu já sabia onde você estava, precisava me dizer se estava vivo.

Revirei os olhos, indo direto pra cozinha pegar um copo d'água.

— Ji-hoon.

Ignorei. Bebi metade do copo, encarando o chão.
Minji me seguiu até ali e se encostou na bancada, cruzando os braços.

— E aí?

— Eu não quero falar sobre isso — murmurei.

— Tá, então eu vou perguntar de outro jeito: você está bem?

Suspirei. Me encostei na parede fria e fiquei ali, parado, alguns segundos em silêncio.

— Estou. — Fiz uma pausa. — Só... diferente.

Ela não respondeu. E aquele silêncio me fez sentir ainda mais pressionado. Como se eu devesse algo. Como se ela já soubesse. E claro que sabia. Minji sempre soube mais do que eu dizia.

— Tá, a gente se beijou. — Falei rápido, como quem tira um band-aid. — Pronto. É isso. Você pode parar de me olhar assim agora.

Ela arregalou os olhos, mas logo disfarçou.

— Vocês... se beijaram?

Assenti, deixando o copo na pia.

Ela ficou em silêncio por um instante, séria. O ar mudou. Não tinha sorriso, nem piada, nem comentário leve.

— E você está preparado para lidar com isso? Com o depois?

— Eu não sei. Eu só estou tentando respirar.

Minji andou devagar até o sofá e se sentou. Agora era ela quem precisava de um minuto para pensar.

— Ji-hoon, escuta. Eu não estou dizendo que você fez algo errado, tá? Eu só... preciso saber até onde você vai com isso. Porque se for só um beijo, um momento, ok. A gente lida. Mas se for mais que isso... se isso virar algo... você sabe o que isso significa, né?

Assenti. Sentei do outro lado do sofá, sem coragem de olhar para ela.

— Eu sei. É por isso que eu estou assustado.

— E ele?

Demorei a responder.

— Não sei. Ele foi gentil. Disse que foi um dia bom, que não era para eu ficar sem graça.

Minji respirou fundo. A testa franzida.

— Eu só quero que você pense em você. No que isso pode te causar. No que você quer de verdade. Porque, Ji-hoon... você é um ator em ascensão. Tem contratos, imagem, campanhas, publicidade. O que aconteceu lá pode ter sido lindo, mas o mundo nem sempre é bonito com esse tipo de coisa.

— Eu sei. — Minha voz saiu baixa. — Mas ontem... pela primeira vez em muito tempo, eu só fui eu. E isso foi bom.

Ela ficou em silêncio de novo. Dessa vez, sem argumentos.

— Tudo bem. — Ela disse, depois de um tempo. — Eu vou estar aqui para te proteger no que der. Mas me promete que vai tomar muito cuidado com todos os seus passos a partir de agora?

Assenti.

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O alarme tocou às 6h. E, pra minha própria surpresa, eu acordei com vontade de levantar. O corpo cansado, claro, mas a mente leve. Como se alguma coisa tivesse se encaixado dentro de mim. Nem sei explicar o quê.

Tomei banho devagar, escolhi a roupa com mais atenção que o normal. Nenhuma gravação especial hoje, só sessões de fotos, reuniões, entrevistas... o de sempre.

Às 7h30 a van me esperava na frente do prédio. Minji já estava lá dentro, mexendo no celular. Entrei, dei bom dia e sentei ao lado dela. Não falamos muito. Era sempre assim nas manhãs, silêncio respeitoso, cada um ainda acordando por dentro.

Enquanto o carro seguia pelas ruas de Seul, abri o celular. Notificações, mensagens da equipe, lembretes de agenda. Tudo comum.

Mas ali, no meio, um nome me travou por dentro.

Choi Hyun-wook.
Bom dia. Como você tá?

Simples. Direto.
Mas só de ver o nome dele na tela, meu coração deu um pulo.

Não respondi de imediato. Fiquei olhando aquela mensagem como se ela fosse importante demais pra ser respondida com pressa. Sorri sozinho, sem perceber.

Minji, que parecia distraída ao meu lado, virou o rosto devagar e me olhou de canto. Não disse nada. Só observou, como quem junta peças num quebra-cabeça.

Eu continuei olhando o celular por um tempo, depois bloqueei a tela e encostei a cabeça no banco.

O dia foi longo.

As fotos correram bem, os jornalistas foram respeitosos, os roteiros estavam organizados. As palavras fluíam melhor do que eu imaginava e eu sentia como se estivesse mais inteiro ali. Como se tivesse algo novo dentro de mim, alguma chama que acendeu e agora me empurrava com mais vontade pra frente.

Minji notou.

Durante uma pausa entre as fotos, ela comentou com um meio sorriso:

— Está rindo de quê?

— De nada — respondi, enquanto passava a mão no cabelo.

Mas a verdade é que tinha algo sim. Algo que não dava para explicar em voz alta.

Já era noite quando voltei para o apartamento.
A cabeça cansada, mas o corpo leve.

Nem jantei direito. Comi qualquer coisa rápida, me joguei na cama e fiquei ali, deitado, com o celular nas mãos, olhando pro teto como quem esperava alguma resposta do universo.

Até que abri o Instagram.

E pela primeira vez, sem pensar muito, fui direto no nome dele.

@_choiiii__

O perfil estava como sempre: discreto, algumas fotos de trabalho, outras mais pessoais. Aquelas que a gente posta só para parecer espontâneo, mesmo quando tudo foi planejado.

Comecei a rolar o feed sem pressa, analisando detalhes que antes nunca importaram. E me peguei sorrindo de novo, de forma involuntária, quando vi uma foto dele com o cabelo bagunçado, tirada no espelho, com a legenda: "마지막 촬영 전날. (Na véspera da última gravação.)"

Fiquei encarando aquela legenda por um tempo.
O Choi do Instagram era mais contido, mais "profissional". Mas eu sabia — agora eu sabia — que existia outro ali por trás. O que me olhou ontem e disse, com a voz baixa: "Ontem foi um dia bom."

Fechei o aplicativo. Coloquei o celular ao meu lado.

Apaguei a luz.

E fiquei ali, no escuro, tentando entender por que aquele dia comum parecia o começo de alguma coisa maior.

Fora do Script Where stories live. Discover now