— Não é que eu nunca pensei... — ele respondeu, baixo.

Ele olhou pra mim por um segundo e dessa vez não desviou tão rápido.

— Eu não sei o que sinto quando estou com você. — ele disse, num sussurro quase. — Mas também não sei o que sinto quando você vai embora.

Aquilo bateu diferente.

Como se ele tivesse dito mais do que achava que estava dizendo.

Ji-hoon conseguiu me deixar sem palavras. Na verdade, eu pedi por aquilo.

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— Você está falando sério? — Ji-hoon me encarava com as sobrancelhas franzidas, os braços cruzados e o moletom fechado até o pescoço. — Uma trilha? Com esse frio?

— Justamente por causa do frio. A gente precisa movimentar o corpo. Vai ser bom. — sorri como quem já sabia que ele ia reclamar o caminho inteiro.

— Você tem um conceito muito estranho de "bom", Hyun-wook.

— Anda logo, vai. É curta. E dizem que a vista compensa.

— Dizem... — ele repetiu, bufando. — Quem são "eles"? As três pessoas que já tiveram coragem de subir isso no inverno?

Mesmo com as reclamações, ele me seguiu. A trilha começava logo atrás da casa e não era muito íngreme. Só tinha umas pedras escorregadias e uns galhos que arranhavam de leve a perna. Nada que matasse ninguém.

— Só não escorrega. — falei quando ele tropeçou na terceira pedra seguida.

— Vou escorregar de propósito só pra você ter que me carregar.

— Eu carrego se você quiser...

Ji-hoon jogou uma folha em mim e eu me desviei rindo, fingindo que ia devolver o ataque. Ele riu também, tentando esconder o quanto já estava ofegante com a subida.

Chegamos no topo alguns minutos depois. A trilha abria num mirante natural, de onde dava para ver o mar ao fundo, as montanhas cobertas de vegetação seca pelo inverno e o sol descendo devagar no horizonte. A luz dourada deixava tudo com cara de cena final de filme.

Ji-hoon ficou parado ao meu lado, ofegante e com as mãos nos bolsos.

— Tá. A vista é boa.

Assenti, também olhando pra frente.

Ficamos ali por um tempo, só deixando o vento passar. Sem correr, sem fugir, sem fingir que não era bom estar junto.

O vento bateu mais forte e Ji-hoon encolheu os ombros como se quisesse se esconder dentro do próprio casaco. O nariz dele já estava completamente vermelho e a ponta das orelhas também.

Me aproximei devagar e parei na frente dele.

— Vem cá.

— O quê? — ele me olhou desconfiado, sem se mexer.

— Seu nariz está congelado. — falei, esticando a mão.

Ele recuou um passo.

— Hyun-wook...

— Fica quieto. Só quero ajudar. — toquei levemente a ponta do nariz dele com dois dedos, e ele estremeceu.

— Está gelado também, seus dedos.

— Calma, calma. — ri. — Então vou tentar com outra coisa.

Antes que ele dissesse qualquer coisa, aproximei meu rosto e encostei minha bochecha na ponta do nariz dele. Era quente, ou pelo menos mais quente que o vento cortante.

— Pronto. Calor humano. Ciência pura. — falei baixinho.

Ele ficou completamente imóvel. Paralisado. Dava pra sentir a respiração curta dele roçando minha pele.

— Hyun-wook... — ele sussurrou, com a voz engasgada.

Me afastei só o suficiente pra ver o rosto dele. As bochechas estavam ainda mais vermelhas agora, e não era só por causa do frio. Ele não desviou o olhar, mas também não dizia nada.

Por alguns segundos, só nos olhamos. O vento ficou mais leve. O barulho do mar, distante.
Era como se tudo tivesse parado, só ali, só entre a gente.

Até Ji-hoon soltar um suspiro mais alto e dar dois passos para trás.

— Vamos voltar antes que a gente vire estátua aqui.

Ele virou de costas voltando para a trilha e soltei um sorriso travesso. Era bom implicar com Ji-hoon

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