Voltar pra Seul me deu uma falsa sensação de alívio. Minji estava até mais calma, quase carinhosa comigo por eu ter seguido suas ordens.
Ela me recebeu no aeroporto sem bronca, com um café na mão e um:

— Até que você fica mais bonito depois de uns dias sem internet.

Era o jeito dela dizer "obrigada por não se meter em confusão de novo".

A van me deixou na frente do prédio. A mesma rua, a mesma portaria.

Tudo igual.
Como se nada tivesse acontecido.

Digitei a senha na porta, meio sonolento ainda e ouvi passos atrás de mim.

Antes que pudesse reagir, senti um toque no ombro.

Dei um pulo, quase tropeçando para trás. Virei com o coração disparado.

— Aish... — murmurei.

Choi estava parado ali.Capuz na cabeça, máscara pendurada no queixo. Um sorriso pequeno, sem mostrar os dentes, como se pedisse desculpa antes mesmo de abrir a boca.

— Tá maluco?! — soltei, baixo, olhando para um lado e para o outro, desesperado para ver se tinha alguma câmera ou vizinho por perto.

Ele só arqueou as sobrancelhas.

— Você tá bem?

Abri a porta às pressas e puxei ele pelo moletom pra dentro, fechando atrás de nós como se fosse uma emergência nacional.

— Quer ser fotografado de novo? — murmurei.

— Oi pra você também — ele resmungou, já tirando o capuz.

Me apoiei na parede e fechei os olhos por um segundo, respirando fundo.

— Por que você tá aqui?

— Porque você sumiu — ele respondeu, simples. — E porque a gente precisa conversar.

— Eu já voltei. Tá tudo bem.

— Não parece.

Fiquei em silêncio por um instante.

— O que aconteceu, Ji-hoon?

Lhe encarei por longos segundos, decidindo se contaria, se a presença dele ali era o certo, se Minjin descobrisse...

Levantou as sobrancelhas, esperando repostas.

— Você sabe o que aconteceu... e aquilo não podia acontecer mais. — cocei a cabeça, sem jeito. — Tenho medo dos rumores. Tenho uma carreira...

— Eu fiquei preocupado.

— Eu sei. Vi suas mensagens. Eu só...

— Eu não estou cobrando resposta — ele cortou. — Mas a gente precisava conversar. E, sinceramente... não queria fazer isso por mensagem.

Sentei no sofá e deixei a cabeça tombar pra trás.

— Tá, então conversa.

Ele se sentou do outro lado, mas virou o corpo na minha direção.

— Ji-hoon, somos amigos, certo?

Assenti.

— Então por que tanto medo?

Virei o rosto na direção dele.
Minha voz saiu mais baixa do que imaginei.

— Porque as pessoas não pensam assim.

Ele franziu a testa, confuso.

— Como assim?

— Elas não acham que a gente é só amigo, Choi. Elas têm certeza de que tem alguma coisa a mais. Elas analisam os nossos olhares, as pausas, os vídeos, os sorrisos... até o jeito que a gente senta um do lado do outro. Elas criam teorias. Fazem edições. Pegam frame por frame. Isso não é mais só a nossa amizade.

Ele abaixou o olhar por alguns segundos.

— Mas a gente não fez nada, Ji-hoon.

— Eu sei. Mas pra elas, não importa. E pra Minji... para minha carreira... pra tudo que eu construí até agora, isso é perigoso.

— Você tá com medo de mim?

— Não — respondi, firme. — Estou com medo de perder o que eu tenho. De jogar tudo fora por algo que nem sei o que é.

Choi ficou quieto por um tempo.

Eu também.

Depois de um tempo, ele se levantou devagar.

— Tá bom, eu precisava ouvir isso. Só isso.

— Vai embora?

— Sim. Já me coloquei demais em risco vindo até aqui, não é? — ele tentou sorrir, mas não era um sorriso verdadeiro.

Eu levantei também.

— Choi...

Ele parou na porta, mas não se virou.

— Desculpa. Por tudo. — falei.

Ele assentiu, de costas.

— Tá tudo bem.

E saiu.

Fiquei ali, olhando a porta fechada, sentindo um gosto amargo na garganta e com uma vontade absurda de correr atrás dele.

Mas não corri.

Porque Minji tinha razão.

E o mundo lá fora...
...não estava pronto para tudo isso.

Fora do Script Where stories live. Discover now