Ele deu um empurrão leve no meu ombro e por um segundo tudo pareceu fácil. Como se o mundo não estivesse ali fora. Como se não houvesse câmera, fãs, boatos, medo. Como se fôssemos só dois caras num carro qualquer, tentando matar o frio da madrugada.

— Ji-hoon.

Olhei pra ele.

— Promete que, se a gente for se ver de novo... vai ser assim?

Assenti devagar.

Ele sorriu.

— Então, combinado.

Ficamos em silêncio de novo, mas era um silêncio confortável.

Depois de alguns minutos, olhei o relógio.

— Acho que preciso ir.

— Eu levo.

— Não precisa.

— Eu faço questão.

O carro deslizou pelas ruas quase vazias, com a cidade ainda dormindo do lado de fora. Lá dentro, o aquecedor seguia funcionando, como se lutasse para manter o clima ameno entre nós.
Não era exatamente constrangido, só silencioso. Quente. Quase bom demais para durar.

Choi parou o carro quando faltavam uns quatro quarteirões para minha casa. Eu já me mexia no banco quando ele franziu a testa.

— Aqui?

— Sim.

— Tá brincando?

— Não. Aqui está ótimo.

— Ji-hoon, tá frio pra caramba e você vai andar tudo isso?

— São só quatro quarteirões.

— Com esse vento?

— É melhor do que me deixar na frente do prédio, com a câmera da portaria filmando. E se tiver alguém na rua?

Choi me olhou, como se quisesse discutir mais, mas respirou fundo e assentiu.

— Tá. Mas coloca o capuz e não tira a máscara por nada.

Sorri com o canto da boca.

— Sim, mãe.

Ele riu baixinho, mas a expressão logo ficou séria. Me encarou por um instante mais longo.

— Foi bom te ver.

— Você também.

A gente não se tocou. Nem uma despedida mais próxima. Só um aceno discreto e um "até".

Saí do carro e fechei a porta com cuidado. Não olhei para trás enquanto andava até meu prédio.
Mas tive certeza que ele ficou me olhando até eu virar a esquina.

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Acordei com o celular vibrando.

Me virei, tonto, com a cabeça ainda latejando do frio da noite anterior. Peguei o aparelho no escuro e atendi sem nem ver quem era.

— ALÔ? — A voz da Minji atravessou meu cérebro como um raio. — O QUE É AQUILO, JI-HOON?

— Hã?

— ME DIZ QUE NÃO É VOCÊ NAQUELA FOTO.

— Que foto?

— A FOTO. SAINDO DE UM CARRO PRETO DE MADRUGADA. COM OS VIDROS ESCUROS. COM A MESMA ROUPA QUE VOCÊ ESTAVA ONTEM. TEM GENTE DIZENDO QUE ERA O CHOI.

Silêncio.

— VOCÊ TÁ LOUCO? ACHA QUE NINGUÉM IA VER?

— Minji...

— FICA EM CASA. TÔ INDO PRAÍ AGORA.

Ela desligou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Olhei pro teto. Suspirei.

Um arrepio subiu pelas costas. E dessa vez não era frio.

Cerca de uma hora depois, ela entrou no meu apartamento como um furacão.

— Você perdeu o juízo? — disse assim que fechou a porta. — Você quer jogar tudo no lixo?

— Minji...

— Não tem Minji. Eu te avisei. Eu sempre te aviso e você sempre acha que está tudo sob controle.

— Os vidros eram escuros, ninguém viu o rosto dele.

— Mas sabiam que era você! Por causa da roupa, da rua, da hora. Já tem perfil no Twitter comparando roupas.

— Não tinha ninguém lá, foi por acaso...

— Não interessa! Você saiu do carro dele!

Fiquei em silêncio.

Ela passou a mão pelo rosto, tentando respirar mais devagar.

— Isso... não pode acontecer de novo, Ji-hoon. Você entende?

— Entendo.

— Eles não podem te ver com ele. Não assim. Não de madrugada. Não nesse contexto. Vocês não são um casal de fanfic. Isso aqui é vida real. E você tem contratos, campanhas, patrocinadores que pagam pelo seu rosto limpo, pela sua imagem inabalável. Entende?

Assenti devagar.
Ela suspirou e se acalmou um pouco.

— A partir de agora... vocês dois não podem se ver fora do trabalho.

Engoli em seco.

— Eu sei que não é o que você quer ouvir. Mas é o que precisa ser feito.

Senti um peso no peito. Não era raiva. Era outra coisa. Alguma coisa mais funda.

Ela caminhou até a porta.

— Se alguém te perguntar, diga que estava com um amigo de infância. Qualquer coisa. Mas some por uns dias. Nada de sair. Nada de post novo. A gente precisa apagar o fogo antes que vire incêndio.

Ela fechou a porta e o silêncio voltou.

Fiquei ali parado por um tempo, olhando para o chão.

E pela primeira vez, pensei que talvez ver Hyun-wook tivesse sido um erro.

Mas por algum motivo, lá no fundo, eu não me arrependia.

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