Por alguns metros, não dissemos nada.
Até ele quebrar o gelo:
— Você me chamou por quê?
— Como assim?
— Você nunca chama. E hoje, do nada... o que houve?
Parei um segundo. Depois continuei andando.
— Só quis sair de casa. Estava... entediado.
Ele me olhou de canto.
— Só isso?
— Uhum.
Ficamos quietos de novo.
O vento aumentou. Entrei mais fundo no casaco, tentando proteger o rosto. Minhas mãos já estavam geladas dentro dos bolsos.
— Droga, tá congelando — murmurei.
De repente, ele parou de andar.
— Vem cá.
Me virei, franzindo a testa.
— O quê?
— Vem cá, tô falando.
Me aproximei devagar. Ele tirou as mãos do bolso e começou a esfregar os meus braços, ainda por cima do casaco.
Movimentos rápidos, como quem tenta devolver circulação a um corpo congelado.
— Isso ajuda? — ele perguntou, focado.
— Um pouco — respondi, baixinho, quase sem voz.
Olhei pra ele. E por um segundo, ele levantou os olhos também.
Nossos olhares se cruzaram. A luz do poste iluminava parte do seu rosto e eu percebi os fios soltos da franja caindo perto dos olhos. Senti minha respiração acelerar, mas sem razão concreta.
Choi pigarreou sem graça.
— A gente devia achar algum lugar pra se esquentar. Se ficar mais cinco minutos aqui fora, vai ter que me carregar congelado.
Dei uma risada curta.
Andamos mais um pouco, até ele parar subitamente.
— Pensando bem... a minha casa é aqui perto. Se quiser...
— Melhor não. — respondi antes que ele terminasse.
Ele pareceu surpreso com a rapidez.
— Não é uma boa ideia — completei.
— Por que não?
— Você sabe por quê.
Ele desviou o olhar e assentiu.
O silêncio caiu de novo.
— A gente pode ir embora então — murmurei. — Não conheço nenhum lugar por aqui onde teríamos privacidade.
Ele ficou parado por um segundo, pensativo.
Depois, tirou o celular do bolso e fez uma ligação rápida.
— Alô? É o Dongjin. Traz aquele carro. Sim, agora. Pode deixar na rua de trás... Tá, obrigado.
Desligou.
— Quem é Dong-jin? — perguntei.
— Meu nome falso. — ele ri.
Pouco depois, um carro preto e discreto virou a esquina. Parou devagar e o motorista — um rapaz que eu nunca tinha visto — saiu, entregou as chaves ao Choi sem dizer uma palavra e se afastou andando, como se já estivesse combinado.
Choi destravou o carro com a chave e me olhou.
— Entra. Vai estar quentinho em dois minutos.
— A gente vai... dirigir para algum lugar?
— Não. Vamos só... sentar. Conversar. Com aquecedor. E vidro escuro.
Fiquei parado por alguns segundos.
— E o motorista?
— É meu carro.
— Mas você mandou alguém trazer.
— Tá com ele desde a última filmagem fora de Seul, não o conheço, mas ficou na produtora. Eu só pedi de volta. Anda logo, Ji-hoon!
Suspirei e entrei no carro. Ele entrou logo depois, fechando a porta com força.
O ar gelado foi imediatamente substituído pelo aquecedor, que soprou calor nos nossos rostos.
Ficamos alguns segundos em silêncio.
O som abafado do motor em descanso. A rua lá fora congelada e quieta.
Eu tirei as luvas, finalmente sentindo os dedos de novo.
— Isso é tão... aleatório — murmurei.
— Não é? — ele respondeu. — Uma noite gelada e dois caras que não sabem o que estão fazendo.
Ri baixo.
— É. Exatamente isso.
— Mas... eu queria que você tivesse me chamado antes.
— Eu quase não te chamei agora.
— Por quê?
— Porque eu não sei o que a gente está fazendo.
Ele olhou pra frente. O vidro começou a embaçar aos poucos com a diferença de temperatura.
— Nem eu. — ele disse. — Mas pela primeira vez em muito tempo... eu queria não precisar entender.
Olhei pra ele e dessa vez não desviei.
A gente não se tocou. Não disse nada que comprometesse. Mas o ar entre nós era pesado, carregado de tudo o que não era dito.
A cidade dormia lá fora. E dentro daquele carro escuro, pela primeira vez, parecia que ninguém podia nos ver.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
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