Fechei os olhos.

Sim. A gente se vê.

Mas quando?

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No dia seguinte, acordei com o celular vibrando direto no criado-mudo.

Mensagem do produtor.
Mensagem da agência.
Mensagem do Jeong perguntando se eu já estava de pé — como se não tivesse sido ele mesmo que montou a minha agenda para começar às sete da manhã.

Ajeitei os cabelos com uma mão enquanto passava as mensagens com a outra.

E lá estava:

Evento promocional novo confirmado. Requer interação com Ji-hoon. Vídeo curto + fotos. Gravação semana que vem, a confirmar com os dois.

Fiquei olhando pra tela por alguns segundos, parado na cama.

Era só mais um conteúdo.
Só mais um vídeo de dois minutos com corte rápido, talvez alguma pergunta sobre bastidores, talvez mais um par de tênis pra decorar.

Mas meu estômago revirou.

Não porque eu não queria.
Mas porque agora eu queria demais.

E isso, sim, era estranho.

Levantei, tomei banho, joguei uma roupa básica e desci pro carro. Jeong já me esperava, como sempre, com a cara fechada e uma pasta na mão.

— Dormiu bem? — ele perguntou sem olhar.

— Acho que sim.

— Está com a cara de quem sonhou com problema.

Soltei um suspiro e ele me olhou pelo retrovisor.

— O que foi?

— Nada.

— Não parece.

Ficamos em silêncio por uns bons minutos. O rádio ligado num volume baixo, o trânsito já começando a encher.

— Está tudo certo com o cronograma de hoje — ele disse. — Duas entrevistas, um ensaio e a leitura do roteiro novo no fim da tarde. Depois, reunião com o diretor da próxima série. Ah, e a gente precisa escolher o figurino do drama escolar. De novo.

— Drama escolar de novo?

— O público gosta quando você usa uniforme. — Ele me lançou um olhar de canto. — Aliás... o público anda gostando demais de certas coisas ultimamente.

Fiz que não entendi.

— Do quê?

— De você e o Ji-hoon. O Soo-min me ligou ontem. Quer mais conteúdo com vocês dois, mas parece que estão com dificuldade de bater as agendas.

Soltei um riso sem graça.

— Escuta, Hyun-wook. — Jeong parou o carro num sinal e virou o rosto pra mim. — Eu te acompanho faz tempo e nunca te vi assim.

— Assim como?

— Distraído. Sumido. Com o celular na mão toda hora. E agora? Agora você está ansioso para gravar com alguém que mal troca mensagem com você.

Desviei o olhar, encostando a testa no vidro frio da janela.

— Não estou ansioso.

— Está sim. E o pior é que nem percebe...

Jeong soltou um suspiro alto, desses que quer dizer "isso vai dar dor de cabeça".

— Olha, eu entendo que vocês têm química. Entendo que o público adora. Mas a Coreia não é um lugar onde dá para brincar com esse tipo de fogo. Você sabe disso.

Fiquei em silêncio.

Sabia.

Desde a primeira vez que alguém me mandou um vídeo com legendas que diziam "ele te olha como se te amasse".

Sabia no café escondido, no boné esquecido, nos segundos de silêncio depois das mensagens.

— É só trabalho — murmurei.

Jeong riu, mas não foi um riso leve.

O resto do dia foi como sempre: fotos, luz forte, perguntas repetidas, jornalistas sorrindo enquanto seguravam gravadores.

Na entrevista da tarde, uma das perguntas foi:

— Você e Ji-hoon ainda se falam com frequência, mesmo depois das gravações?

Sorri profissionalmente.

— Quando dá, sim. As agendas são bem diferentes. Mas sempre que a gente se encontra é divertido.

Eles adoraram a resposta. Sempre adoram respostas assim.

A câmera desligou. Jeong se aproximou com o tablet mostrando o cronograma da próxima semana. No canto, em vermelho, aparecia:

Aparição com Ji-hoon — aguardando confirmação de horário.

Ele ainda não havia confirmado.

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