Me afastei. Dei dois passos. Mas antes de dobrar o corredor, virei por reflexo e vi ele ainda parado lá, me olhando.
Só ergui a mão e acenei com dois dedos. Ele fez o mesmo.
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O quarto estava silencioso. A cidade lá fora também.
Paris parecia outra quando vista pela janela de um hotel no décimo andar, com as luzes da Torre Eiffel piscando de longe. Eu estava de moletom, pés descalços, escova de dentes na boca e mala aberta no chão.
O voo sairia cedo. Minji já havia avisado três vezes que ia me buscar antes do sol nascer. Eu só queria dormir.
Deixei a escova na pia e fui até a mala pegar uma camisa limpa para dormir.
Toque, toque.
Arqueei a sobrancelha.
Olhei o relógio.
1h43 da manhã.
Minji não bateria na porta e minha equipe estava em outro andar, também não viria até aqui.
Andei devagar até a porta e olhei pelo olho mágico. Nada.
— Quem é? — perguntei, ainda parado.
Silêncio.
Abri a porta.
Hyun-wook.
De boné, moletom escuro e expressão meio sem saber o que estava fazendo.
Fiquei em choque por uns segundos.
— Você... está perdido? — perguntei, sem conseguir pensar em nada melhor.
Ele soltou um riso.
— Posso entrar?
Abri mais a porta, ainda sem entender se era real.
Ele passou por mim como se tivesse feito isso mil vezes. Como se soubesse onde era tudo. Como se não fosse estranho.
Fechei a porta devagar.
— Estou sonhando?
— Se sim, está meio sem graça ainda — ele respondeu, tirando o boné e jogando no sofá.
— O que você está fazendo aqui?
— Não consegui dormir.
— E pensou "vou bater no quarto do Ji-hoon no meio da madrugada"?
— Pensei: ele é o único que vai estar tão sem sono quanto eu.
Fiquei parado por um segundo.
Depois soltei um suspiro. Eu não sabia o que fazer, nunca tive que lidar com isso.
— Quer beber alguma coisa?
— Quero tudo, menos chá de camomila.
Abri o frigobar e peguei umas latinhas de cerveja que a equipe da marca havia deixado.
Ele se jogou no sofá e pegou uma almofada, colocando no colo.
Entreguei a latinha e sentei na poltrona em frente, ele brindou sozinho.
— Ao jet lag.
Soltei um riso.
— Como você soube qual era meu quarto?
Ele olhou para mim por cima da borda da latinha, meio culpado, meio debochado.
— Eu... tenho meus contatos.
— Hyun-Wook.
— Tá, tá. — Ele riu, erguendo as mãos. — Usei meu melhor sorriso para a recepcionista.
— Você sorriu para a recepcionista?
— Funcionou, não funcionou?
Revirei os olhos, lutando para não rir.
— Isso é ilegal, sabia?
— Só se eu tiver invadido e eu bati na porta. Foi educado.
Fiquei quieto. Porque ele estava certo.
E por mais absurda que fosse a ideia de estar dividindo o quarto — ou pelo menos a madrugada — com Choi Hyun-wook em Paris, às vésperas de um voo cedo e debaixo de todo aquele caos da fama, parte de mim não achava tão absurda assim.
A conversa foi indo por caminhos aleatórios: o look absurdo do modelo da terceira entrada, a comida péssima do voo de ida, as fotos horríveis que os fãs tiraram da gente no aeroporto.
Ele contou uma história de bastidores sobre um ensaio que ele fez e tropeçou na passarela e eu quase engasguei de rir.
Eu falei de uma vez em que cochilei no camarim e acordei com a testa carimbada com um post-it escrito "Robô da K-Drama Inc."
O tempo foi passando.
A bebida foi esvaziando.
E, em algum momento, ele caiu de lado no sofá e disse:
— Se alguém me fotografar saindo daqui amanhã cedo, minha carreira acaba.
— Como vai sair daqui? — perguntei.
— Do mesmo jeito que entrei, pela cozinha.
Cuspi a cerveja que eu estava para engolir e afundei a cara na almofada para segurar o riso. Não acredito que ele fez isso para entrar aqui.
Olhei para ele, com a cara meio afundada na almofada, os olhos quase fechando.
— Choi?
— Humm?
— Você veio aqui por quê, de verdade?
Ele abriu um olho só.
— Porque eu queria que, por uma noite, a gente não precisasse fingir que é nada além de dois caras tentando dormir.
— Isso não faz o menor sentido.
— E mesmo assim, você abriu a porta.
Ignorei.
— Você vai dormir aqui? Eu preciso sair cedo!
— Uhum. — concordou com algo que não havia escutado direito.
Eu me levantei devagar, com a cabeça meio girando e fui até a cama. Deitei de lado, ouvindo ele respirar fundo do outro lado do quarto.
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Fora do Script
FanfictionNos bastidores de uma das séries mais comentadas da Coréia, dois atores com carreiras em ascensão tentam manter os pés no chão enquanto tudo ao redor parece prestes a desmoronar. Ji-hoon e Hyun-wook interpretaram personagens inesquecíveis e a químic...
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