— Daqui a três dias. Vão gravar juntos, como parte da comemoração pelos três anos da estreia de Weak Hero Class. A Jang Do-yeon está animada. Quer conversar sobre os bastidores, evolução de vocês, etc.

"E etc."

Ótimo. O etc sempre era o pior.

Assenti devagar, sem dizer nada.

Minji me observou de canto de olho, tentando medir minha reação.

— É só um programa, Ji-hoon.

— É o Salon Drip. Com o Choi. Depois de tudo que rolou na internet. — Olhei pra ela, direto. — Não é só um programa.

Ela abriu a boca pra responder, mas parou. Em vez disso, deu um gole no café e ficou quieta.

Peguei meu celular do bolso. Abri o Instagram.
Nada novo do Hyun-wook. Nenhum story, nenhum post.

Mas no Twitter, o nome dele e o meu ainda estavam nos trending topics, mesmo dias depois.

Fechei tudo.

Tanto faz o que ele postava. A gente ia se ver. Iam gravar tudo. E tudo viraria teoria outra vez.

— Você quer que eu tente desmarcar? — Minji perguntou, baixinho.

Pensei por alguns segundos.

— Não.

— Tem certeza?

— Tem coisa que a gente não consegue evitar. Melhor encarar logo do que deixar crescer mais.

Ela assentiu. Mas, por dentro, eu sabia que nada disso era simples.

Na Coreia, não existia espaço seguro para isso que ninguém nomeava.

E, por mais que a gente fingisse que não era nada, já havia coisa demais em jogo.

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O estúdio do Salon Drip ficava em um prédio antigo, reformado para parecer moderno. Tudo ali era pensado para câmera: a parede colorida, as luminárias de design industrial, as plantas falsas em vasos caros.

Cheguei antes da hora. Por insistência da produção claro, "pra revisar o roteiro".

Fui encaminhado até um camarim improvisado, dividido por uma cortina fina. Sentei na cadeira de maquiagem, olhei meu reflexo e fiquei ali, quieto, enquanto passavam base, ajustavam o cabelo, esticavam a gola da blusa.

Minji entrou com o celular na mão e me entregou um copo de chá gelado.

— Está tranquilo? — ela perguntou, mesmo sabendo a resposta.

Assenti. Era mais fácil do que tentar explicar.

A porta abriu alguns minutos depois. Senti antes de ver.

A voz do produtor dizendo "ele chegou", o som dos passos no corredor. Um barulho de riso abafado. E então, do outro lado da cortina, a voz dele.

Não era alta. Nem forçada. Era natural demais. Familiar demais.

Fingi que não ouvi. Continuei olhando pra frente, mas minha atenção já não estava no espelho.

Ele falou com a equipe, riu de algo que alguém disse. Depois, silêncio.

E então, a cortina se moveu levemente.

— Oi — disse ele, com o corpo meio inclinado, como quem só queria espiar.

— Oi — respondi, virando o rosto só o suficiente pra encarar.

Ele me olhou por um segundo mais longo do que precisava. Estava com uma camiseta preta simples, blazer por cima. Cabelo arrumado. A expressão calma. Calma demais.

Fora do Script Where stories live. Discover now