Eu não podia rir por educação sem alguém achar que era flerte. Não podia demorar pra responder uma pergunta sem virar "momento de reflexão profunda". Não podia receber uma mensagem sem virar trend no TikTok.

Tudo que eu fazia era... demais.

E eu já tava exausto de ser demais o tempo todo.

Apertei o celular na mão e soltei um suspiro longo.

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A van me deixou na porta do prédio pouco depois da meia-noite. O motorista só acenou com a cabeça e eu fiz o mesmo.

Subi direto. A portaria estava vazia, o elevador fazia um barulho irritante enquanto subia e o cansaço grudava nas minhas costas feito roupa molhada.

Quando entrei no apartamento, larguei tudo no chão: boné, bolsa, celular.

Tomei um banho rápido e me joguei na cama com o cabelo ainda úmido. O quarto estava escuro, só a luz azul da cidade entrando pelas frestas da janela.

Peguei o celular do chão, já sem muita esperança de paz.

Desbloqueei a tela.

A notificação da mensagem do Choi ainda estava lá, como se tivesse me esperando o dia inteiro:

"Vi tudo que tão falando da gente. Tô achando engraçado.

Olhei pra mensagem por um tempo. Poderia ignorar. Poderia responder qualquer coisa seca.

Mas não consegui segurar.

Eu:
Engraçado é você só aparecer pra complicar minha vida.

Enviei.

Fechei os olhos.

Deixei o celular do lado, virado para baixo. E mesmo cansado, mesmo depois de um dia inteiro sorrindo pra câmera, pela primeira vez no dia, um sorriso de verdade escapou.

Só por dois segundos.
Mas escapou.

Acordei mais tarde do que devia. A primeira coisa que vi foi a luz do celular piscando com notificações acumuladas e, logo abaixo, a mensagem de Minji:

"Te encontro no prédio da agência às 13h. A gente precisa conversar antes do compromisso novo."

Suspirei. Ótimo.

Mais mudança de última hora, provavelmente. Ou mais reuniões que podiam ter sido um e-mail.

Me arrumei rápido, prendi o cabelo num boné e coloquei uma máscara antes de sair. Fiz questão de andar devagar até a agência, como se isso fosse atrasar o que quer que estivesse me esperando.

Minji já me esperava na recepção, de tablet na mão e café na outra.

— Dormiu bem? — ela perguntou, como quem sabe que a resposta não vem.

Assenti com a cabeça, sentando ao lado dela no sofá.

— Então... — ela começou, arrastando a fala. — Saiu o novo agendamento da semana. E tem uma coisa que eu achei melhor te contar pessoalmente.

Pisquei, esperando.

— Você vai gravar o Salon Drip com o Choi Hyun-wook — ela soltou, como quem arranca um curativo de uma vez.

Fiquei em silêncio por dois segundos. Não por choque, mas pelo tanto de coisa que aquela frase ativava dentro da minha cabeça.

— Quando? — perguntei, tentando parecer normal.

Fora do Script Where stories live. Discover now