06 de Dezembro - Alta velocidade

1 1 1
                                    

Hoje pela manhã o céu estava bem nublado e caia uma leve garoa. Faz tempo que eu não vejo a cor vibrante do sol, tudo costuma ser bem escuro aqui dentro do presídio. Só temos um acesso maior à luz do céu quando estamos no pátio, mas hoje eu estou na rua, naquela mesma estrada deserta que eu estava quando cheguei aqui. Já pela noite, por volta de umas cinco horas da manhã eles pediram que eu me arrumasse para ir até o hospital e o doutor Benjamin o tempo todo foi me auxiliando. O boina verde também não saiu do meu lado e preparou até uma gambiarra para levar o soro até a enfermaria já que o suporte de soro é fixo no chão.

Eu estava tão livre, mesmo com dor eu me senti tão livre. Por mais que o presídio seja realmente muito bom ele ainda nos prende atrás de paredes, então quando chegamos em um local fora da prisão o nosso corpo entra em êxtase e nos sentimos livres. Eu estava algemado e em uma cadeira de rodas enquanto o boina verde e o doutor Benjamin me acompanhavam até a ambulância. Nós viajamos por volta de uns trinta minutos e no caminho a minha dor só aumentava mas o doutor Benjamin foi controlando com um medicamento branquinho, ele aliviava um pouco a dor.

Nós chegamos por volta das dez horas da manhã e eu não pude reagir de outra maneira a não ser com um sorriso. Era o hospital que eu e o Stein nós encontramos, me recordo até do semblante dele. O boina verde estava bem sério, me tirou da ambulância e me empurrou até o quarto de hospital e lá dentro eu passei por alguns exames e me prepararam para a lavagem. Eu fiquei esperando por volta de uns quinze minutos e meu quarto ficou totalmente vazio, apenas com o boina verde guardando a porta. Eu não pude deixar de admirar o céu e fiquei o tempo todo olhando para janela, isso até uma enfermeira chegar e disser:

-Está se sentindo melhor senhor Toomas?

Eu então me virei para ela e mal consegui enxergar o rosto da enfermeira. Ela estava com o cabelo preso, uma touca na cabeça e uma máscara branca, eu só consegui enxergar aqueles lindos olhos azuis. A enfermeiras então arrancou o meu acesso venoso e disse:

-O seu diagnóstico está errado, você não vai passar pela lavagem estomacal.

Eu então olhei para ela e disse:

-Como assim? Cadê o doutor Benjamin?

A enfermeira estava suando e com as mãos completamente trêmulas me entregou uma roupa de hospital e pediu que eu me vestisse. Eu então apenas obedeci, fui até o banheiro e troquei de roupa,coloquei novamente aquele pedaço de pano que mal cobria o meu corpo, depois disso sentei na cama e a enfermeira me disse:

-Você recebeu o diagnóstico totalmente errado Toomas, na verdade nem tão errado assim, porém o seu tratamento não será realizado neste hospital, você precisa ser tratado de outra maneira. Chega de paredes, chega de vigias, chega de dor.

Depois disso a enfermeira tocou no meu rosto, abaixou a máscara e me deu um beijo molhado na testa. Eu não pude conter o espanto, comecei a ficar ofegante e meu peito começou a gritar de alegria, era a aura, a aura estava ali. A vergonha me consumiu e eu só conseguia gaguejar. A aura então colocou a máscara novamente, me entregou uma máscara também e sacou uma pistola. Depois ela toda sorridente chamou o boina verde e pediu ajuda para me colocar na cadeira de rodas, mas quando ele se virou de costas com toda força a aura golpeou a cabeça do boina verde fazendo com que ele desmaiasse ali no chão do quarto. Eu fiquei assustado e meu corpo não respondia os comandos,mas a aura estava muito apressada. Ela me olhava com aqueles lindos olhos enquanto lágrimas rolavam. Nós ficamos nos encarando por um tempo e depois ela segurou no meu braço e me arrastou até o lado de fora do hospital. Nesse momento o doutor Benjamin veio correndo na nossa direção com semblante de preocupação disse:

-Vocês estão malucos? Aura? Como conseguiu entrar aqui? O Toomas precisa fazer essa lavagem, para de loucura.

A aura então olhou para o doutor e apontando a arma falou:

-Benjamim, vamos fazer o seguinte: eu te prometo que vou cuidar bem do Toomas e você promete que não vai nos perseguir, o que acha?

O doutor Benjamin então colocou as mãos na cabeça e disse:

-Não saiam daí, espera um pouco.

Depois disso ele correu para dentro do hospital e voltou segundos depois com algumas cartelas de medicamentos e entregou para a aura. Depois disso a aura me levou até um carro vermelho que estava estacionado e me colocou lá dentro, em seguida tomou controle do carro e começou a dirigir. Nós fomos em alta velocidade pelas ruas de Pamplona e a aura sem pensar duas vezes ligou o rádio do carro e começou a gritar. Eu não consegui fazer outra coisa a não ser rir e depois perguntar:

-Que loucura foi essa aura? Você está louca?

A aura então virou para o lado me deu um beijo na Bochecha e disse:

-Sim Toomas, estou louca,estou louca por você!

Depois disso a aura apertou no acelerador e nós fomos a quase cento e vinte quilômetros por hora. A aura o caminho todo foi cantando e eu comecei aos poucos acompanhar ela. Nós então chegamos à beira de uma praia quase que deserta e a aura tirou do carro uma caixa de isopor com várias garrafas de cerveja e depois fomos até a areia da praia. Naquele momento a dor que eu sentia tinha praticamente evaporado, eu só consegui sentir o calor que o corpo da aura emitia, meu corpo estava como uma panela de pressão prestes a explodir, eu estava em total liberdade e a única coisa que eu consegui pensar foi em aproveitar o máximo aquele momento com a aura e assim fizemos.

A noite foi raiando e as estrelas começaram a pulsar no céu. A aura estava tão linda, mesmo vestida de enfermeira. A minha roupa então estava ainda mais patética, eu estava com uma avental de hospital no meio da praia. Eu e aura então pegamos na mão um do outro e fomos correndo em direção a água. Quando os meus pés entraram em contato com o mar, eu senti um arrepio no corpo inteiro e tudo que me importava naquele momento era ver o sorriso da aura, ela estava feliz e totalmente livre. Nós ficamos a noite toda indo da água para areia e da areia para água e quando estava prestes a amanhecer nós corremos até a areia e deitamos. A aura deitou na minha barriga e nós ficamos vendo aquele céu todo estrelado enquanto o mar cantava a mais bela canção das ondas. Nós ficamos por ali e acabamos capotando, eu sabia que tudo isso era errado e que eu estava fazendo a maior burrice da minha vida, mas por um lado era só o que eu precisava.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now