30 de setembro - O estranho de olhos azuis

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Hoje os carcereiros trouxeram um novo prisioneiro para a minha cela. É um rapaz branco e de olhos azuis bem clarinho,ele é menor do que eu,e aparenta estar bem relaxado por ser seu primeiro dia na penitenciária. Os guardas trouxeram um colchão e alguns panos limpos. O garoto com calma foi montando a sua cama,e depois se deitou fechando os olhos como se estivesse dormindo. Por ser seu primeiro dia,eu confesso que a calma dele me surpreendeu muito,algo que eu não poderia esperar de um novato. Os olhos daquele garoto brilhavam conforme os raios de sol batiam neles, mas nem sequer piscar aquele garoto piscava, parecia estar em um choque eterno, com uma raiva incubada no teu coração.  Aquele menino me passava uma sensação estranha, era como se ele precisasse falar mas as palavras não saiam, porém decidi deixar ele quieto e fui jogar um pouco de xadrez.

A tarde passou rapidamente, e novamente nós tivemos o tão sonhado banho de Sol. O estranho de olhos azuis decidiu não ir com os outros presos,algo que mal ele espera que tenha sido um erro,infelizmente é difícil ter a oportunidade de sair para ver a luz do dia,e ele simplesmente negou receber essa graça.

A quadra do presídio é um lugar bem pequeno,contém algumas mesas de xadrez e duas redes de futebol. Os presos mais antigos acabam tomando conta do campinho de futebol, então eu acabei que fiquei só admirando o céu enquanto pensava nas táticas de xadrez que o senhor Tamik havia me ensinado. O céu então começou a fechar,e veio ligeiramente uma forte tempestade,que acabou com o nosso momento de "liberdade". Os presos corriam para dentro do presídio com o intuito de se protegerem da chuva,mas eu nem se querer sai do banco de concreto em que eu estava,afinal das contas estava sendo muito bom receber as gotas geladas de chuva em meu corpo, porém um dos carcereiros ali presente me forçou a me abrigar da chuva. A correria era grande dentro dos blocos,os presos entraram rapidamente para as suas celas, provavelmente na intenção de guardar as mercadorias que eles compartilhavam durante o período do banho de Sol.

Ao chegar na minha cela,eu avistei o estranho de olhos azuis jogando xadrez,ele parecia ser muito inteligente e conhecedor,o que me fez perguntar a ele se eu poderia jogar também. Mas ele apenas guardou as peças e colocou sobre a cômoda que ficava na cela. O seu ato me soou grosseiro,porém eu entendia o que ele sentia. É difícil se acostumar com essa realidade,mesmo ele apresentando tanta calma.

As luzes das celas então se apagaram e o estranho dos olhos azuis entrou debaixo do seu edredom gelado. Eu confesso que estou melhor agora,as noites que eu fiquei nessa cela sozinho me instigou a querer ter alguém por perto,isso é o que a solidão nos impõe,ela nos mostra a vontade de ter alguém perto, e esse alguém eu espero que seja esse estranho de olhos azuis.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now