01 de Dezembro - Fones de ouvido

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Hoje pela manhã o Vincent e o Stein estavam falando sobre futebol, confesso que não é um assunto que eu curta mas também entrei na conversa. Nós ficamos conversando até o café chegar. Nesse momento aproveitamos o momento comendo uma deliciosa torta de maçã quentinha que estava com belas fatias de maçã caramelizadas por cima.

Quando era por volta do meio dia a Aura foi até a minha cela e me convidou para ir até a biblioteca. E é claro que eu aceitei, mesmo recordando de todos aqueles avisos que recebi em relação a boina rosa. Enquanto andávamos a caminho da biblioteca eu percebi que a aura estava com o rosto todo estourado de um lado e escondia debaixo de uma maquiagem bem forte as manchas roxas que cobriam uma certa região do rosto. Os olhos da aura estavam tão tristes e caídos, parecia que estava suportando um trauma, uma dor extrema.

Chegando na biblioteca ela não aguentou e me abraçou com toda sua força. As unhas dela cravaram na minha pele e eu conseguia sentir as lágrimas que caíram dos olhos da aura escorrendo pelo o meu uniforme. Nós ficamos ali se abraçando enquanto o militar de cabelo branco expressava um verdadeiro desconforto. 

A aura então foi me soltando aos poucos, ajeitou o cabelo e limpou as lágrimas. Eu não tive outra reação a não ser puxar uma cadeira e pedir que ela se sentasse. A aura então olhou para mim e falou:

-Obrigado Toomas, obrigado de verdade.

Depois disso ela ficou quieta apenas olhando para as prateleiras de livros. Eu então perguntei:

-Está tudo bem aura? Digo: e esses machucados?

Ela então com o rosto sério me respondeu dizendo:

-Não vamos falar sobre isso, ok?

Eu então apenas fiquei quieto enquanto diversas lágrimas desciam pelo rosto da aura.

Pela tarde nós permanecemos na biblioteca, já haviam se passado duas horas aproximadamente, então restavam apenas alguns minutos para eu voltar para a minha cela, pelo menos foi isso que passou na minha cabeça na hora. A aura então me puxou até a última prateleira e de dentro de uma mochila que tinha em suas costas ela tirou umas cinco garrafas de cerveja. Eu não pude dizer outra coisa a não ser:

-Está maluca aura? Se eles pegarem a gente vai dar muito ruim. Para aura.

Ela então usando a quina da prateleira abriu uma garrafa e falou colocando o dedo sobre minha boca:

-Quieto Toomas, apenas aproveite.

Depois disso ela colocou o fone no meu ouvido e no dela e ligou no último volume na música "Snap" da Rosa Lins e começou a mexer o corpo no ritmo da música enquanto se afogava na cerveja. Por volta de umas meia hora depois e três garrafas vazias sobre o carvão o militar de cabelo feio se aproximou e disse:

-Dona aura, isso não vai dar bom, vamos, ele tem que voltar para a cela dele. 

A aura então já embriagada abraçou o militar e falou:

-Oh minha calopsita, deixa a gente só mais um pouquinho, eu preciso me afogar enquanto olho para esse garoto gato.

O militar então saiu coçando a cabeça e eu tentei segui-lo mas a aura puxou a gola da minha cabeça e me lançou sobre a prateleira. O meu corpo na hora gelou e eu só consegui prestar atenção nos olhos azuis da aura. Eu não conseguia mexer e meu coração batia no ritmo da música  "I can o be hin" do cantor James Arthur. O cheiro de bebida misturado com o doce cheiro dos lábios da aura estavam ficando cada vez mais forte à medida que ela ia se aproximando da minha boca e a música começou a alcançar seu ápice enquanto eu sentia um misto de emoções. A aura então com os olhos cheios de lágrimas disse:

-Toomas, me desculpe! Toomas está doendo tanto.

Eu então segurei nos braços da aura e a abracei. Logo depois com muita confiança falei:

-Conte aura, pode contar, estou aqui.

Ela então colocou a garrafa vazia sobre a prateleira e abriu a última garrafa que tinha na bolsa e enquanto tomava a cerveja foi me dizendo frases aleatórias como: Meu pai, como eu tenho raiva dele ; O Thales me paga, eu vou matar ele ; Sai de mim dor, saí ; eu não posso eu não posso. Eu apenas ouvi as frases em silêncio enquanto tentava sintetizar o que a aura estava dizendo. 

A boina rosa então novamente me prendeu sobre as paredes e começou a acariciar os meus cabelos e aos poucos foi passando a mão pelo rosto, nesse momento estava tocando a música "Those eyes" da banda New West. A aura então de pouco em pouco foi tocando cada canto do meu rosto e sem nem que eu percebesse nós começamos a se beijar. O meu corpo inteiro se arrepiou e eu não pude fazer muita, apenas entrei em choque enquanto a aura me entregava o mais doce beijo que eu já senti. Naquele momento tudo ao meu redor se desligou e nem o cheiro da cerveja eu conseguia sentir, eu literalmente estava vivendo um conto de fadas. 

O nosso beijo foi um misto de emoções. A aura me beijava como se eu fosse um príncipe encantando que ia curar ela de alguma dor. Eu mal sabia o que eu estava fazendo, essa foi uma das pouquíssimas vezes que o meu lábio se encontrou com o lábio de alguém. Foi um momento mágico mas ao mesmo tempo perturbador, até então a aura estava noiva. Mas naquele momento nada disso importava, os lábios da aura se encontraram com o meu e minhas mãos ficaram entrelaçadas nas mãos dela. Tudo estava sendo uma montanha russa de emoções até sermos surpreendidos pelo militar de traje preto. Ele foi se aproximando da prateleira e disse:

-Então é isso né aura? Eu vou te matar Toomas 

Depois disso a aura largou os meus lábios virou e falou totalmente embriagada:

-Você tem coragem de vir aqui ainda? HEN? ME FALA, VOCÊ TEM CORAGEM DE OLHAR PARA OS MEUS OLHOS MESMO DEPOIS DE TER QUASE AFUNDANDO ELES PARA DENTRO DE TANTOS SOCOS QUE EU LEVEI?

Nesse exato momento o fone começou a tocar "ALL I Want" da Kodaline. A aura não parava de chorar e retirou com força o fone e partiu para cima do militar de traje preto que com muita força segurou o braço dela. Eu então não me aguentei fui para cima dele e levei um belo soco no rosto mas não desisti, só parei pois a aura com o peito inflado gritou:

-PARA TOOMAS, ELE VAI TE MACHUCAR! DEIXA QUE EU RESOLVO ISSO ATÉ ENTÃO ELE É O MEU NOIVO NÉ PAI? ELE É O NOIVO DOS SONHOS NÉ? 

O boina verde então soltou o braço e disse gritando:

-VOCÊ ME TRAI COM UMA CRIANÇA E SE ACHA NO DIREITO DE ME JULGAR? E NÃO FALA MAL DO SEU PAI,A CULPA NÃO É DELE QUE A FILHA DELE É ATIRADA.

A aura então revidou gritando:

-CALA BOCA THALES! VOCÊ ESTAVA ESSE TEMPO COM A MINHA MELHOR AMIGA E AINDA POR CIMA ME DEIXOU COMPLETAMENTE MACHUCADA. O MEU PAI É IGUALZINHO VOCÊ, CONSTRUIU ESSE LUGAR PARA ESCONDER O LADO RUIM DELE, MAS NO FUNDO CONTINUA SE SENTINDO CULPADO, TÃO CULPADO QUE O HOMEM QUE ELE ESCOLHEU PARA SUA PRÓPRIA FILHA BATE NELA E AINDA OBRIGA ELA A ESCONDER AS MANCHAS DEBAIXO DE UMA MAQUIAGEM.

O militar então segurou no pescoço da aura e falou:

-REPETE! REPETE AURA, FALA AGORA.

Eu não aguentei, peguei uma das garrafas que estavam sobre o chão e meti na cabeça do militar. Foi caco de vidro para todo lado e uma pequena ferida se abriu na testa do noivo da Aura. O militar de traje preto então largou a aura e me bateu até estourar o meu nariz e depois deu ordem para dois outros militares me pegarem. Eu só me lembro de levar uma bordoada na cabeça e depois desmaiar enquanto eu escutava "Love in The dark" da Adele.

A minha consciência voltava de vez enquanto e eu só me recordo de pequenos raios de luz que piscavam enquanto eu era carregado em uma espécie de carrinho até um lugar completamente fechado, depois disso me lembro apenas de apagar, eu nem sequer vi a Aura e muito menos o militar de traje preto, eu estava vendo apenas uma grande sala escura.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now