20 de outubro - Flechada no peito

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"Tire o tubo de oxigênio, ele já respira sozinho." Foi a frase que eu ouvi antes dos meus olhos abrirem. Eu estava em um quarto parecido com aquele que eu fiquei depois do transplante. O meu peito parecia um robô cheio de fios e meu abdômen estava ardendo que nem fogo. Minha maca estava de frente com uma outra sala, lá havia uma mãe com uma criança, a mãe estava chorando sobre o corpo morto da menininha de mais ou menos uns Quatro anos de idade, ela tinha um laço no cabelo e um vestido amarelo. O meu peito sentia a dor daquela mãe, e eu só conseguia lembrar dos pensamentos que eu tive. Foram delírios? Era o céu? Calma,, o Stein morreu? E o Adrus? Foram esses os pensamentos que eu comecei a ter antes do meu corpo entrar em pane novamente. Um médico então entrou no quarto e gritou:

-Código azul! Preparar para RCP, O PRISIONEIRO PAROU DENOVO.

O meu coração havia parado de novo, e novamente eu me encontrei em um cenário de luz, mas dessa vez eu estava em uma biblioteca e lá eu vi os meus pais, eles estavam tão sorridentes, mas parecia que eles não me viam, era como se estivessem do outro lado de uma parede. Eu fiquei observando os dois por um tempo até eu sentir uma mão no meu ombro, era o senhor Tamik. Ele tocou em meu ombro e abriu um sorriso alinhado e branco. Logo depois segurou em minha mão e disse:

-Toomas Acorda! Volta garoto, ainda não é sua hora! Seja o cavalo do xadrez.

O senhor tamik então me deu um beijo na testa e eu recuperei o ritmo cardíaco. O meu fôlego voltou como um fogo de artifício que explode no céu. Eu me senti mais vivo do que nunca! Os médicos estavam suando e o meu corpo parecia mole, era como se eu tivesse corrido uma maratona.

Sobre a bancada tinham várias ampolas de medicamento e o policial estava com um olhar assustado e preocupado. A sala ficou um silêncio e eu só conseguia ouvir a mãe da menina rezar pela alma dela, só me lembro desses detalhes, meu corpo estava cansado demais. A cada prece da mãe eu conseguia sentir a dor e a agonia que a mãe sentia, mas ao mesmo tempo ela sorria e seu sorriso me transmitia uma paz tão grande. Em um certo momento ela se virou olhou para mim e com a mão direita traçou um sinal da cruz virado para minha sala, ela então fechou os olhos e começou a rezar, não sei explicar, eu mal sabia se ela rezava por mim, porém me senti tão tranquilo meu corpo estava tão leve e eu só conseguia me concentrar em ver ela rezando.

Um pouco mais tarde um enfermeiro chegou e aplicou um medicamento branco no meu soro e eu meu senti completamente grogue e enquanto meus olhos fechavam eu via aquela mãe com lágrimas nos olhos e um sorriso permanente, ela sabia que tinha perdido a filha para mundo, porém tinha certeza que o céu havia ganhado mais uma alma, uma alma doce e inocente, espero um dia poder falecer assim, falecer tendo a certeza que irei me encontrar com o pai.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now