24 de outubro - Sinal vermelho

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Dizem os médicos que eu fiquei desacordado por um grande período de tempo e assim que eu acordei eu tive um ataque de pânico por isso eles me sedaram fortemente para evitar futuros ataques cardíacos. Hoje eu sei que é dia vinte quatro de outubro, eu nem imaginava que o tempo passaria tão rápido.Eu fiquei desacordado por praticamente três dias seguidos.

O policial estava com os olhos fundos e cansados, porém eu não pude me aguentar e perguntei:

-Seu guarda? Por favor, me responda! Onde está o Stein? Ele morreu né? Por favor me responda.

O policial se virou para mim me prendeu com uma algema e disse:

-Não! Vocês dois vão chegar vivos no presídio, você entendeu? Vocês vão chegar vivos! Toomas eu só te peço um favor não faça besteira, eu estou a quase uma semana longe da minha família eu não estou mais suportando ficar nesse hospital e sei que você também não.

Depois disso ele saiu da sala e bateu a porta. Os meus olhos se encheram de lágrimas e o meu corpo deu um suspiro de tranquilidade, porém eu ainda tinha uma coisa para resolver, eu não recebi respostas sobre o Adrus, eu só me lembro dele sangrar e chorar de dor, eu nem vi o Henry, ele deve estar tão assustado. São apenas crianças que não tem ninguém a não ser a própria coragem forçada que é necessária para eles sobreviverem.

Pela tarde o céu nos entregou uma leve chuva e um vento forte. Era possível ver o ganho das árvores balançando pela janela e as folhas voarem como o cabelo de uma linda mulher na praia. Enquanto eu observava a paisagem eu comia uma sopa de espinafre que eles me deram, uma sopa rala porém salgadinha, acredito que entre as outras sopas essa seja a melhor. Quando eu terminei de comer os enfermeiros vieram medir minha temperatura e realizar algumas perguntas. Depois disso eles me levaram para trocar o curativo.

Durante a noite eu decidi tomar um banho e os enfermeiros permitiram, eu tirei o avental, enchi um balde com água e com uma esponja eu me lavei. Enquanto eu viajava pelo meu corpo eu me lembrei da minha mãe me trocando para ir à escola.

Todos os dias ela me acordava bem cedinho e nós tomávamos café juntinho. Eu amava quando ela fazia capuccino, era engraçado ver a minha mãe com o bigode de leite. Quando o relógio batia dez horas da manhã, minha mãe me pegava no colo e me levava que nem um avião até o meu quarto e ali me trocava brincando com a roupa. Ela dizia que a camisa queria me abraçar e como eu não gostava do casaco ela dizia que o casaco era a mamãe da camisa que queria ficar juntinho dela que nem ela queria ficar comigo, depois disso ela me pegava no colo e me abraçava bem forte. Sabe? Eu me sinto tão honrado de poder passar todos esses momentos com a minha mãe, sei que não são todos que tem essa oportunidade mas não me arrependo de cada eu te amo sincero que eu falava para ela, eu não me arrependo dos dias que eu irritava ela só para depois receber cosquinhas, eu não me arrependo de me vestir de árvore só para ver ela sorrir, eu não me importo de ter sido um filho bom e dedicado. Mãe? Eu te amo tanto.

Quando eu terminei o banho eu me troquei e fui para cama e deitei para descansar. Eu comecei a ficar com sono quando ouvi o guarda cantando, ele estava tão concentrado e cantando baixinho uma música infantil, naquele momento eu consegui entender o motivo da ansiedade dele para voltar para casa, eu não culpo ele, se eu pudesse eu também voltava, eu só queria me sentar com meus pais e depois ficar batendo papo enquanto a chuva cai do lado de fora. Quem sabe um dia eu terei isso de novo. Quem sabe eu possa te abraçar mamãe.

Diário de um injustiçado Onde as histórias ganham vida. Descobre agora