19 de Novembro - A estranha de olhos azuis

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Hoje é domingo, sei disso porque o padre Giovanni apareceu para nos visitar. Os militares pegaram somente os interessados em assistir a missa e é claro que eu fui e não podia deixar o Vincent de fora, então puxei ele da cama e nós começamos a se arrumar. Dentro do presídio tem diversas coisas: uma clínica, uma biblioteca, uma horta, uma escola e uma linda capelinha. Chegando lá dentro eu me deparei com uma linda imagem de Jesus, não sei o nome daquela imagem mas tinham duas luzes saindo do peito de Jesus. No interior da igreja tinham tantos detalhes, todos seguindo um tom dourado. Estavam presentes algumas freiras, um coroinha e uns vinte presos. Na porta da capela tinha uns sete militares e no banco da frente da igreja estava o boina vermelha e o boina verde. Do lado deles tinha uma garota, mas não consegui ver o rosto, deve ser alguma militar ou secretária do senhor Louis.

A missa começou com o tocar de uns sinos. O padre Giovanni estava tão elegante, aquelas vestes são lindas. O Vincent não podia conter a emoção, pareciamos duas crianças olhando para algo surreal, e que realmente é surpreendente. O padre Giovanni celebrou a missa e cada momento foi mágico, era possível sentir Deus ali naquele lugar, uma verdadeira terapia. Quando chegamos aos momentos finais da santa celebração, o padre colocou no centro do altar um objeto grande e dourado e dentro daquele objeto ele depositou uma hóstia que é o corpo de Cristo. Não sabia expressar a emoção, meus joelhos não se aguentaram e eu caí de joelhos aos pés de Jesus. O Vincent me acompanhou e aquele momento foi muito mais que especial, ele foi único. Era Deus, Deus estava conosco.

Quando a missa terminou, o padre Giovanni deixou que os fieis ficassem um pouco mais perto do Santíssimo. Todos foram embora, inclusive o boina vermelha e o boina verde. Ficaram naquela capela somente as freiras, o Vincent, eu e a garota que acompanhava o boina vermelha. Eu fiquei fascinado olhando para Jesus e quando terminei me destinei para frente do altar, a garota então parou do meu lado e prestou divina reverência ao altar. O olhar daquela menina me fez se sentir verdadeiramente mas nuvens, talvez uma das garotas mais lindas que eu já vi na vida, não conseguia tirar os olhos daquela verdadeira obra de arte. Quando ela se virou para sair, sem querer acabou tropeçando no tapete que estava no caminho, mas antes que ela caísse eu a segurei em meus braços, pode parecer clichê, mas eu me senti totalmente envergonhado. A menina então se levantou, pediu desculpas e saiu envergonhada pela porta da capela. Eu ainda permaneci por mais um tempo ali, mas os guardas me apressaram e eu tive que sair, eu não queria ir, por mim eu ficava o dia todo na presença de Deus. Quando eu estava prestes a sair reparei que a garota tinha esquecido debaixo do banco uma boina rosa, então eu peguei e coloquei no bolso. Depois disso eu e o Vincent fomos levamos até nossa cela.

A nossa tarde foi um saco, não tinha nada para fazer a não ser um ficar olhando para cara do outro, então decidimos brincar de braço de ferro. O Vincent parecia ser fraco, pensa em um garoto com braços finos, parece até um boneco palito, porém o cabra tem uma força gigante, no placar final ele marcou trinta e cinco pontos e eu marquei apenas seis. Eu sei, uma verdadeira humilhação, mas fazer o que?. Depois de tanto brincar eu e ele caímos no sono e eu dormi tendo em minha cabeça a imagem mais linda da minha vida. A imagem da estranha de olhos azuis, ou melhor dizendo, a boina rosa.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now