31 de outubro - Grito de esperança

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Hoje pela manhã eu acordei  com o barulho da forte tempestade que caia em Pamplona e para minha infelicidade eu ainda estava na enfermaria. O meu peito doía muito e eu estava cheio de fios presos no corpo, tipo quando eu estava no hospital. As enfermeiras estavam com um olhar cansado e assustado, creio que o que ocorreu ontem abalou a todos.

Haviam dois guardas altos na porta da enfermaria e eles estavam com armas nas mãos e tinham sobre os olhos um óculos preto. Para falar a verdade pareciam até gêmeos. Um deles veio até mim e disse que o diretor me esperava na sala dele e eu então me levantei e fui apenas lavar o rosto na pia da enfermaria. Enquanto a água da pia caía eu imaginava cada cena que ocorreu ontem e minha cabeça começou a arder, então desliguei a torneira, abri a porta e fui até os dois guardas. Nós fomos atravessando o corredor e em cada cela que passávamos os guardas e prisioneiros me zombavam. Uma dessas celas foi a do Diablo, ele está com um sorriso no rosto e gritou com uma voz grossa e sarcástica:

- Não vai falar besteira para o chefinho viu Toomas, ele é muito perigoso! Mas é só falar tudo certinho tá bom? Enquanto isso eu cuido do seu pequeno, ele deve estar tão abalado né? Vai lá bundao.

O meu sangue ferveu e eu avancei contra as grades dele. Os guardas me seguraram com força e me puxaram. O Diablo apenas continuou rindo e zombando da minha cara, sem nem sequer sentir um pingo de remorso. Os guardas após o ocorrido começaram a me puxar cada vez mais forte até chegarmos a sala do diretor onde abriram a porta da sala e me empurraram até a cadeira. depois disso eles deram uma saudação ao diretor e saíram da sala. O diretor me olhava com um olhar desprezível, ele tinha em sua mesa diversos cadernos e suas sobrancelhas foram se franzindo como se estivesse irritado. O diretor olhou bem no fundo dos meus olhos e disse:

-Toomas, Toomás, você não consegue mesmo ficar quieto né? Você não sabe ficar sem arrumar problemas. Vai me conta, me conta tudo o que ocorreu lá, Toomas, tudo!

Minhas mãos começaram a soar e eu senti meu coração batendo na minha garganta. Eu não conseguia pronunciar nenhuma palavra, o meu corpo não permitia. Na minha cabeça só vinha o olhar desesperado do Adrus, será que ele está machucado? O que o Diablo fez para eles? Onde ele colocou o corpinho do .... Eu estava com vontade de contar tudo, eu queria ver o Diablo sofrer as consequências, mas se eu fizesse isso ele mataria o Adrus, e o que eu faria depois disso? Minha cabeça não parava de pensar e eu entrei em total desespero. O diretor então levantou a mão e desceu ela sobre a mesa me fazendo voltar a realidade. O diretor então me olhou e disse:

-Conta Toomas, conta tudo!

Eu então me pus de pé e comecei a chorar. Meu peito ardia e eu falava gaguejando. Eu não conseguia tirar da minha cabeça o desespero do Adrus mas se eu não falasse nada o diretor iria me colocar na solitária, então eu olhei para ele e disse:

-Me desculpa! Desculpe seu diretor, eu não pude ajudar o guarda, eu fui obrigado. 

O diretor deu um sorriso de lado e disse:

-continue Toomas.

Eu o olhei no fundo dos olhos e continuei dizendo:

-Cestas de pães começaram a chegar na minha cela, os pães estavam envenenados e além disso em uma das cestas veio uma carta cheia de ameaças.

O diretor me olhou confuso e perguntou:

-E quem está te mandando essas cestas? Você sabe quem pode ser?

Os meus pelos começaram a arrepiar e eu não conseguia falar que foi o Diablo, então disse:

-Foi o dono do celular, ele me entregou o celular e me obrigou a guardar e depois me ameaçou. Esse foi o motivo de não ter falado nada a vocês.

O diretor caiu na gargalhada e começou a anotar tudo o que eu disse. O que não me fazia falar que foi o Diablo era o fato do guarda estar vivo e pelas pessoas que ele sequestrou. Isso estava confundindo minha cabeça e eu não sabia ao certo o que dizer, eu só conseguia ouvir as batidas da caneta do diretor no papel. Ele escrevia enquanto abria um sorriso no rosto, isso até um guarda abrir a porta desesperado. O diretor se assustou e gritou em voz alta:

-QUE BAGUNÇA É ESSA? VOCÊ QUER SER PUNIDO? POR QUE ENTROU ASSIM NA MINHA SALA?

O guarda então respirou fundo e disse:

-Diretor? O chefe da polícia acabou de ligar e disse que uma mulher e quatro crianças foram encontradas em estado grave. Elas pareciam estar em cárcere por um bom tempo, estavam desidratadas e machucadas. Entre as crianças tinham duas que estavam bem mais machucadas, uma delas estava com uma bala alojada na perna. 

O diretor levantou rapidamente e saiu da sala junto com o guarda assustado. Os outros dois guardas que pareciam gêmeos então se destinaram até mim e me levaram até a minha cela. A minha cabeça começou a aliviar a pressão e no caminho da cela a ficha caiu, o Henry não está morto? A bala está na perna? O Adrus está vivo também? Eu senti um alívio tão grande. Naquele momento eu só consegui sorrir e agradecer.

Os boatos sobre o que ocorreu estava correndo rapidamente no presídio, todas as celas que passávamos só falavam sobre isso, nós andamos um pouco e chegamos na minha cela, os guardas tiraram a chave do cinto, abriram a grade e me colocaram dentro da cela. Minha cela estava do jeito que eu deixei, porém sem a cesta de pães e a carta também havia desaparecido. Eu nem me importei, apenas deitei na cama e dormi.

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