Diário de um injustiçado

07 de Novembro - Tomada de decisões

Hoje eu acordei na presença de um advogado, ele entrou na sala da enfermaria e sentou ao meu lado após fechar as cortinas que dividia as macas. Os olhos dele estavam serenos e calmos e o cabelo dele era mais cacheado que o do doutor. Ele então puxou a maleta e disse:

- Toomas, é um prazer, me chamo Daniel, a partir de agora sou o seu advogado.

Os meus olhos brilharam de admiração e meu peito gritava de uma maneira esquisita, o que estava havendo naquele lugar. Minha única reação foi dizer:

- Senhor Daniel, obrigado, mas quem te contratou?

O advogado então gargalhou e disse:

- Eu sou irmão do doutor Benjamin, ele me relatou que você realizou uma cirurgia de transplante e teve uma breve recuperação no hospital porém foi direcionado ao presídio onde por lei deveria receber os cuidados necessários, porém o seu físico diz o contrário, o que você tem a dizer sobre isso?

O meu corpo começou a suar e minha mãos abriam e fechavam rapidamente, eu não sabia o que aconteceria se eu falasse então olhei para ele e falei com desespero nos olhos:

- Me perdoe, mas eu já tenho um advogado. Não posso relatar essas coisas para você.

Não sei dizer ao certo o que o advogado pensou, porém ele levantou apertou minha mão e foi andando sacudindo a maleta. Confesso que me senti mal pelo doutor Daniel, porém eu estava com tanto medo. Antes dele sair da sala, o doutor Benjamin apareceu na porta e acenou com a mão para mim e logo em seguida ele e o Daniel foram embora.

Quando eles saíram dois militares entraram e me levaram até uma cadeira de rodas. Depois disso me guiaram até a sala do diretor do presídio que estava cheia de guardas e militares. O doutor Daniel também estava lá dentro juntamente com o diretor do presídio. Todos sentaram e o coronel começou um discurso sobre ética. Quando terminou o diretor levantou e disse:

- Primeiramente me desculpe Toomas. E coronel? Eu concordo com você,ética e respeito são princípios que devemos adotar na prisão, e é por isso que os guardas envolvidos neste incidente serão retirados do posto, eu não admito esses tipos de agressores no meu presídio.
O diretor do presídio então se levantou e disse:

-Mas não tem necessidade, pode deixar que eu dou uma punição.

O doutor Daniel então levantou, colocou as mãos para trás e falou:

-Advertência? Que tipo? O mesmo que você deu para o Toomas? E as filmagens do seu carcereiro levando o Toomas para apanhar e depois saindo da sala morto? Punição de tortura em uma solitária? Ouvi o relatos de alguns carcereiros e eles me disseram as atrocidades que ocorriam lá. Ou sei lá uma punição de controle mental onde o meu cliente tem medo de contar tudo o que ocorreu? Me diga senhor diretor, quais dessas torturas você vai dar aos indivíduos?

O diretor então começou a coçar a cabeça e falou em baixo tom enquanto arrumava a gravata:

-Senhor coronel? Pode levar esses indivíduos.

Logo após o discurso do "velho nojento", todos se retiraram e restou apenas eu, o doutor Daniel e o diretor. Ficamos conversando sobre normas e finanças e ficamos assim até às sete horas da noite, eu consegui ver o horário pelo relógio do diretor. Após as tomadas de decisões eu voltei para a sala da enfermaria e passei a noite lá. Nem deu tempo de me despedir do senhor Daniel. Quem diria que toda essa loucura iria acontecer. Ele não é um advogado qualquer, ele é o melhor advogado que eu já vi, sem dúvidas o advogado que eu quero perto. Ou melhor: o advogado que eu preciso. Muito obrigado doutor Benjamin.