28 de setembro - Preso em uma solitária

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A solitária é um dos lugares onde os prisioneiros mais abominam ficar,e para mim não está sendo diferente. Aqui é muito mais gelado do que as celas comuns,além do cheiro podre que exala da pequena pia ao lado da cama de concreto na qual eu não consigo nem sequer fechar os olhos para dormir.

Se passaram poucas horas desde que eu perdi um grande amigo,um amigo que eu não tive nem oportunidade de me despedir,o que para mim está sendo motivo de inquietação e insônia. Do canto da porta eu via um guarda chegando com um pedaço de pão e um saco plástico na mão. O senhor Tamik chamava o horário da refeição de "iguaria nauseante" por conta dos bichos que sempre estavam presentes nos pratos. O guarda com cara rabugenta e uma barba que chegava em seu peito,então abriu a porta e pediu que eu retirasse o terno para eu me vestir com o traje da prisão. O constrangimento e a tristeza estavam rasgando a minha pele,não tanto por ter que me trocar na frente de outro homem,mas por eu estar tirando a única coisa física que o senhor Tamik havia deixado. O frio gelado batia sobre o meu corpo semi nu e eu me sentia sujo por estar novamente vestindo aquela roupa branca com listras laranjas ou laranja com listras brancas, ah não importa, independente da cor dessa roupa ela sempre vai carregar consigo a sujeira que emana deste lugar.

Dizem que o silêncio acalma a alma,mas eu posso provar que é mentira!Dói,dói saber que você não recebeu nenhuma mensagem. Daqui dessa cela escura e gélida, eu só consigo escutar o barulho das grades batendo e as trincas de ferro que os guardas vivem arrastando,esses sons estão sendo perturbadores para mim,neste momento eu só sinto solidão e desespero, confesso que não será fácil dormir nesse clima de luto e ansiedade.

Pela noite eu me vi verdadeiramente desesperado, as paredes estavam me sufocando e para melhorar o teto da solitária começou a vazar um líquido verde, uma mistura de água com lodo. Aquela água foi se misturando no chão e a cama de concreto já estava completamente molhada pelo líquido nojento, eu me senti em um esgoto, só faltava aparecer um rato para me fazer companhia mas acho que nem eles suportam a poluição que está neste lugar.

A minha noite foi assim, acabei dormindo encostando a cabeça na parede mofada da solitária, consegui pelo menos tirar um cochilo, por incrível que pareça além da comida nojenta e a cela deplorável nem dormir os prisioneiros podiam, vire e mexe um guarda aparecia e metia a mão na grade da cela e com a solitária não foi diferentes além de bater eles chutavam e gritavam e faziam isso de propósito, até parece que eles se importam minimamente com a nossa sanidade mental.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now