18 de outubro - Hora da despedida

6 3 0
                                    

Os médicos me acordaram um pouco mais cedo para realizar alguns exames rápidos, logo depois me levaram para tomar um banho e me trocar. O Stein ainda deve ficar por umas duas semanas para descartar o risco de rejeitar o órgão transplantado, por isso ainda não recebeu alta.

Após terminar de me arrumar, eu sentei ao lado do Stein e entreguei o terço na mão dele, nós conversamos por um grande período de tempo e foram momentos inesquecíveis, o estranho de olhos azuis então me contou uma história de quando ele era menor, diz ele que o pai dele era bem agressivo e batia nele e na mãe dele, eles eram quase sempre espancados, porém só quando o pai dele bebia. O Stein falou que lembra de relance do avô dele, foi ele o homem que o ensinou a jogar xadrez, o estranho de olhos azuis parecia gostar muito dele e sentia um conforto e segurança quando falava do avô. Ele morreu durante um incêndio no seu país Natal  junto com a avó do steun. Os militares apenas levaram a roupa do corpo deles para o centro da cidade e expôs junto com as outras vítimas. Foi nessa época que a mãe de Stein adoeceu e morreu por conta da depressão e alguns meses depois o pai dele largou ele e o irmão em uma ferrovia. Diz o Stein que o seu pai deixou os dois no breu da noite chuvosa que caia naquele dia, e saiu sem nem olhar nos olhos deles, apenas abriu o guarda chuva e saiu andando.

O Stein estava com um sorriso no rosto, porém seus olhos se enchiam de lágrimas. O estranho de olhos azuis então olhou para mim e disse:

- E Deus? E Deus, Toomas? Onde ele estava? Por que ele deixou nós dois sozinhos? Ele nos largou Toomas!

O Stein então começou a ficar agitado e em um ato de raiva ele apertou o terço, assim rompendo o barbante que segurava as miçangas. As pequenas esferas se espalharam por todo o quarto e sem que eu esperasse, o Stein fechou o olho e começou a convulsionar, meu corpo gelou e eu só me lembro dos médicos levando ele às pressas para outro quarto. O policial em um movimento brusco puxou o meu braço e me conduziu a força até uma viatura, porém eu me recusei a entrar e durante esse período de tempo uma ambulância chegou e de dentro dela eu vi o Henry segurando as mãos ensanguentadas de um menino, era o Adrus, ele estava com uma bala alojada no ombro e sua face estava coberta de sangue. O meu corpo não se aguentou e eu me lancei sobre a porta da viatura, fazendo com que os meus pontos se soltassem e começassem a sangrar. Foi a minha única alternativa para ficar no hospital com eles.

Eu me deparei com um cenário de verdadeira sangria. O meu abdômen ficou rígido e uma fonte de sangue vazava dele. Os médicos correram comigo para uma sala de cirurgia e começaram a preparar o meu corpo. Antes que o anestesista chegasse o cirurgião começou a realizar alguns procedimentos. Eu estava sentindo uma dor absurda, mas a minha preocupação era maior, eu precisava saber como o Stein estava. Eu vi minha alma sair do corpo quando o cirurgião puxou uma sutura que estava presa na minha carne. Pouco tempo depois eu desmaiei por conta da dor, confesso que não achei certo o procedimento que realizaram porém do que adiantaria reclamar? A minha vida ali não importava mais que a do Stein e a das crianças, elas eram as únicas coisas que eu me importava no momento, elas estavam sendo a minha cabana de férias, eu me sentia confortável e seguro perto deles e eu só queria poder dizer isso a eles, mas eu mal conseguia respirar, quem dirá falar. Espero que eles estejam bem.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now