07 de outubro - Choro e desespero

21 2 2
                                    

Hoje eu acordei mais cedo do que o normal e por conta disso aproveitei para jogar um pouco de xadrez,estava tudo bem até aí,tudo bem até o guarda gordo chegar e me dizer que o Stein precisou ir para o hospital por conta de uma grave infecção. Naquele momento eu não consegui expressar muitas emoções,apenas comecei a rir e com uma muita educação pedi que o guarda se retirasse.

Sabe quando o seu corpo apenas pede para ficar sozinho? Eu não queria mais nada, apenas me concentrar nas peças de xadrez, algo que estava difícil por conta da minha cabeça que não parava de pensar no grande problema que Stein estava enfrentando, imagino o quão agonizante deve ser pegar uma infecção em diversas feridas, pelo menos é assim que eu imagino que ele esteja. O suor descia no meu rosto meu coração não parava de palpitar, era um quadro gigante de ansiedade, eu estava fora de mim, sem saber o que fazer e nem se eu podia fazer algo. Cada golpe, cada grito do Stein, cada chute, todas essas cenas não paravam de passar na minha cabeça, eu estava ficando louco imaginando aquelas cenas. No dia que bateram no Stein eu só me recordo do sangue que espirrava no meu rosto, não que eu também não tenha sangrado, porém meu corpo é um pouco mais forte, eu tenho um pouco mais de massa corporal, já o Stein tem uma pele mais delicada, me lembra muito uma pele de bebê.

"Um? Dois? Três meses? A quanto tempo eu estou aqui? O que eu estou fazendo aqui? A minha vida é uma merda! Como pode eu,logo eu estou preso. Perdi dois amigos,um pai, uma mãe, um segundo pai e agora estou prestes a perder um amigo? Eu me odeio." Essa foi a última coisa que eu pensei antes de fechar o diário e o tacar na parede,meu sangue fervia e eu só pensava em me sufocar com o cobertor horrível que eles entregam na prisão. Quem pensa que estar aqui dentro é ruim, está errado, pois "ruim" é pouco para esse cenário de destruição do psicológico, esse local amaldiçoado pelas mãos sangrentas e impuras do ser humano, é um local de verdadeiro desespero e desequilíbrio mental.

Eu me lembro de um dia que meu pai me levou para aquela velha cabana de férias, eu tinha uns oito anos e eu estava tão bravo com o meu pai. No meu aniversário eu tinha pedido um relógio azul que tinha um laser, era o relógio mais incrível que eu já tinha visto na minha vida, mas o meu pai não comprou ele para mim e invés disso me levou para aquela velha cabana. Quando chegou a noite meu pai pegou um saco de marshmallow e colocou do nosso lado e depois acendeu uma grande fogueira, nós passamos aquela noite comendo marshmallow e sem trocar uma palavra sequer. Quando a lua já estava no alto do céu o meu pai deitou na grama e eu o acompanhei, meu pai ficou olhando para as estrelas e começou a escrever o meu nome nelas, depois olhou para mim e disse:

-Toomas? Lembra daquele relógio? Eu não consegui comprar ele, porém comprei uma coisa digamos que um pouco melhor.

Os meus olhos se encheram de brilho e animado eu disse:

-O que papai? O que você comprou?

O meu pai então tirou um tabuleiro de xadrez da sua bolsa e disse:

-Este tabuleiro foi o seu avô que me deu, talvez você não curta muito, mas esse tabuleiro sempre me ajudou quando eu ficava triste ou com muita raiva do meu pai, esse tabuleiro me fazia descontar toda a raiva que eu guardava e cada lágrima que estava escondida, eu descontava tudo nas peças.

As palavras do meu pai foram o suficiente para eu pular no colo dele, eu era muito pequeno mas eu entendi o que ele quis dizer com descontar a raiva nas peças, ele se refere ao ato de jogar com intensidade, cada movimento, cada estratégia e cada peça capturada, nós conseguimos expressar o mais interno sentimento durante a partida e isso hoje faz mais sentido ainda já que o tabuleiro de xadrez é o que me faz levar a vida com mais calma e paciência.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now