20 de Novembro - Uma volta inesperada

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Hoje pela manhã eu e o Vincent acordamos e já fomos jogar fofocas fora. O Vincent é muito divertido, ele consegue tirar toda aquela tristeza de dentro de você, tem um jeito especial de falar, um carisma. O dia como sempre estava bem calmo e os militares como sempre estavam com expressão séria e fria. Eu e o Vincent então começamos a debater sobre as expressões dos guardas, lembro de quando fiz isso com o Stein, foi incrível. Sabe? O Stein é mais que um presente para mim, ele faz parte de mim. Não sou parente dele, mas sinto como se fosse, o Stein é simplesmente o meu cavalo do xadrez, ele é uma peça fundamental no meu tabuleiro da vida.

Pela manhã comemos pão com ovo de novo, mas não podemos reclamar. O Vincent não curte o ovo então entrega ele todinho para mim e quem sou eu para reclamar né? Segundo um dos militares esses ovos e os pães vêm da fazenda do senhor Louis, ele é fazendeiro e militar, quem diria né? Agora dá para entender a cara de marrento mas o coração gigante.

O Vincent passou a tarde vendo e revendo as reportagens, eu decorei praticamente metade daqueles vídeos de tanto que ele passa e repassa. Os cabelos do Vincent parecem uma labareda de fogo, eles é bem lisinho e espetado, tem uma coloração laranja bem forte e o rosto do Vincent consegue ter mais sardas que o do Stein.

Hoje os militares permitiram que fossemos tomar um banho de sol, então todos saímos para fora e ficamos no pátio. Lá no pátio não tem muita coisa, apenas um chão sem nada e um muro enorme com diversas armas viradas para a gente. Para falar que não tem literalmente nada no chão, no meio da quadra tem uma árvore bem grandona e em volta dela um monte de matinhos cheio de flores. Os militares o tempo todo ficam de olho em cada ação nossa, não deixam nem que fiquemos próximos um dos outros. No máximo pode ter uma conversa entre dois prisioneiros e olha lá. Enquanto estávamos tomando o banho de sol uma borboleta bem azul pousou sobre uma das flores, eu fiquei doidinho admirando, isso até o Vincent chegar para tirar foto dela e ela acabar voando, mas pelo menos ele tentou né? Ficamos no banho de sol por quinze minutos e depois fomos levados para a cela novamente.

Pela noite eu fiquei jogando xadrez enquanto o Vincent roncava no meu ouvido. Estava entediante demais aquele jogo, é chato vencer sempre, então acordei o Vincent e pedi educadamente para ele jogar comigo, porém o papo dele de não gostar de xadrez é realmente sério. Então eu fiquei perturbando ele até escutar da grade da minha cela:

-Alguém aqui chamou um jogador profissional de xadrez?

Eu não pude conter a emoção, olhei para porta e lá vi o estranho de olhos azuis. Foi sem dúvidas uma volta mais que inesperada. O Stein teve coragem de cortar o cabelo e estava mais gordinho, nem parecia aquele garoto magro e fraco que eu deixei no hospital. Os militares então colocaram ele dentro da cela e eu não pensei duas vezes, levantei e abracei com todas minhas forças ele. Não consegui expressar tamanha saudades, o Stein estava ali, estava vivo e falando comigo.

Nossa noite foi assim, não consegui conversar muito com o Stein pois ele estava muito cansado e o Vincent acompanhou ele, então apenas me deitei e dormi na presença desses dois estranhos muito conhecidos.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now