26 de outubro - Um pedaço de pão

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Ontem nós chegamos por volta das dez horas da noite. O ar estava gelado, meus pelos chegaram a arrepiar e minha mandíbula tremia conforme a brisa fria batia na minha boca. Após ser liberado pela psicóloga, eu vesti o uniforme do presídio e fui levado até a minha cela. Não consegui descrever muito bem o estado da cela pois estava bem escuro mas hoje pela manhã os meus olhos se abriram e meu corpo se arrepiou quando eu vi a situação da Cela. Ela estava completamente revirada, com cobertas e objetos pessoais jogados no chão. O jogo de xadrez estava quebrado e tinha uma grossa crosta de poeira sobre a cama de concreto e além de toda essa poeira, a nossa cela estava cheirando a urina e tinha até barata na parede.

Não, eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo, tudo quebrado e sujo, um verdadeiro chiqueiro. Porém eu não podia falar nada, então apenas me deitei e dormi, pelo menos tentei dormir. O meu corpo estava tão desconfortável e minha alma pedia socorro. Era por volta das oito horas da manhã segundo os ponteiros do relógio de um guarda que estava em frente a minha cela. O meu sono não vinha e eu só conseguia lembrar do desespero que eu passei dentro do hospital.

Um lado meu se perguntava como estava o Stein e aquelas crianças e o outro lado me gerava uma vontade imensa de sair batendo em tudo até chegar perto de fugir dessa prisão. Eu fiquei um tempo pensando enquanto olhava para os jogos da velha que eu e o Stein fizemos na parede, reparei agora que praticamente sujamos quase todas as estruturas da nossa cela, conseguimos construir um verdadeiro museu de arte abstrata.

Eu consegui solicitar um novo tabuleiro de xadrez para os carcereiros e eles por incrível que pareça me entregaram um novo. Segundo o guarda eles tem um montão de tabuleiro dentro de um armário já que muitos dos prisioneiros não curtem muito esse belíssimo jogo casual. Eu tentei deixar o quarto pelo menos apresentável e sem muito pó, até então não sabia quando o Stein iria voltar e se voltasse devia pelo menos dormir em um local aconchegante.

Por volta das quatro horas um carcereiro me trouxe um prato de pães mornos e recheados. O fato de estarem inteiros e aquecidos me gerou muitas dúvidas, então coloquei ele sobre o pequeno criado mudo e fui arrumar a bagunça da cela. Tudo parecia estar tão grudento e asqueroso, algo que me gerou muito nojo, mas se eu não limpasse ninguém iria limpar certo? Então peguei o lençol da cama e comecei a retirar os aglomerados de sujeira que estavam no quarto e fiquei realizando essa limpeza até umas dez horas que foi quando eu dormi sentado na cama após ter limpado toda a sujeira. Era possível ouvir uma leve chuvinha enquanto eu dormia e alguns barulhos de rato na cela, porém eu estava muito cansado para ver o que estava havendo então apenas continuei descansando.

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