02 de Dezembro - Caixa de vidro

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Hoje para falar a verdade eu não sei como está o dia, eu acabei dormindo um pouco mais do que o normal, a pancada na cabeça realmente foi bem forte.  Depois daquela discussão toda eu só me lembro dos militares me trazendo até essa sala escura. Eu estou em uma espécie de caixa de vidro, são quatro paredes de vidro e o chão de vidro também. No teto tem uma luz negra apontada para baixo e pelo o que parece algumas câmeras apontadas para mim. Eu vi tudo de relance, meus olhos não abriam, a pancada deu algum tipo de big no meu cérebro onde eu queria acordar mas eu não conseguia.

Eu vim acordar depois de um bom tempo, não sei dizer se era dia ou noite, o quarto é completamente escuro. Um pouco depois que eu despertei um militar abriu a porta e um grande feixe de luz entrou nos meus olhos, foi tão forte que comecei a ver estrelas. O militar então se aproximou e sentou em uma cadeira. A porta com o tempo foi se fechando sozinha e eu não consegui ver nem o rosto do militar, só sei que ele usa um óculos bem grandinho. Eu não tinha caído na real ainda, minha cabeça ainda estava confusa. O militar então bateu no vidro e disse:

-Opa! Bem vindo garoto, o que você aprontou para vir parar na caixa de vidro?

Eu então perguntei:

-Me desculpe, mas o que na verdade é aqui? Cadê o Thales? E a aura?

O militar então encostou no vidro e disse:

-Calma aí garoto, aqui quem faz perguntas sou eu.

Depois disso ele apertou um botão e uma grande poça d'água começou a se formar na apertada caixa de vidro. Aqui é bem gelado e eu estou praticamente seminu. O militar não teve dó, começou a realizar perguntas totalmente perturbadoras e eu não consegui responder nem metade. Quando eu me negava a responder qualquer pergunta que o militar fizesse ele aumentava o nível d'água. Quanto mais tempo passava mais aquela caixa se preenchia e chegou um momento que a água cobria praticamente todo o meu peitoral. O militar em nenhum momento me explicou o que estava havendo, apenas gargalhava e fazia piadas sem graça em relação a mim.

Sabe? Eu só me afoguei uma vez na vida que foi quando eu caí sem querer em uma piscina em uma viagem de férias com os meus pais. Nós fomos para Nova York e lá tinha uma piscina gigantesca. A sensação da água na garganta sufoca e chega um ponto onde seu pulmão para de receber ar e você simplesmente é puxado para baixo. Antes do meu corpo ser totalmente puxado eu me lembro do meu pai tirando o terno e pulando na piscina rapidamente, depois minha mãe pegou o meu corpinho estendeu no chão e começou a me reanimar. Foi assustador, eu engoli muita água e eu sem dúvidas imaginei minha morte. Depois daquele dia eu nunca mais cheguei perto de uma piscina, eu tenho pavor de lugar com muita água.

O meu corpo já não suportava mais tanta água e minha cabeça estava quase ficando coberta. Eu estava chegando perto da luz violeta e minha respiração começou a acelerar. Naquele momento eu não consegui pensar em mais nada, apenas na minha morte. Quando a água começou a subir pelo meu nariz eu já comecei a perder as forças, mas de repente a caixa começou a esvaziar. Quando o nível da água estava bem baixo o Thales entrou pela porta e trocou de lugar com o militar. Ele então sentou na cadeira, deu um tapa no vidro e começou a gargalhar, depois falou ainda rindo:

-Mas rapaz que bicho feio! A aura podia me trocar por qualquer um, mas por você? Um garoto magro, branquelo e feio. Como pode isso?

Eu não me aguentei, fui me arrastando até a parede de vidro e disse gritando:

-O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? ONDE EU ESTOU? CADÊ O BOINA VERMELHA?

Depois disso ele franzindo as sobrancelhas me falou:

-Você nunca mais vai ver ela, não se depender de mim.

Logo depois ele apertou o botão e a água começou a jorrar novamente, mas dessa vez mais rápida que da última vez. A água começou a tomar proporções surreais e ela só parou quando alcançou a luz violeta. Naquele momento tudo ficou escuro e eu só conseguia escutar bem baixinho as gargalhadas que o militar de uniforme preto dava. Meus olhos começaram a arder por conta da água e meus pulmões já não recebiam mais ar, eu só conseguia imaginar a minha morte, eu enxerguei o meu fim. Isso até um clarão vir da porta e com um único clique no botão a caixa começou a esvaziar.

Sabe? Quando você está prestes a morrer tudo acontece em câmera lenta, é impossível sentir, escutar ou falar algo. Tudo para e você simplesmente sente a morte, porém quando a caixa começou a esvaziar eu me vi em um cenário onde a morte me chamava mas o meu corpo não se permitia parar. Eu iria morrer mas do nada eu voltei a vida, como isso é possível? Foi você Deus? Você que me salvou? Mas por que? Me diga, por que?.

Quando o meu corpo chegou no chão eu só consegui ouvir diversos gritos e do vidro embaçado eu vi o boina verde discutindo com o noivo da Aura. Depois disso não me lembro mais de nada, meu peito ardia de tanta dor e meu ar não chegava nos pulmões. Naquele momento eu só me recordo de virar a cabeça de lado e desmaiar, eu estava tão cansado eu só queria que tudo parasse um pouco.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now