21 de outubro - Hora do óbito

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Hoje eu acordei um pouco melhor, o céu estava bem nublado e uma leve garoa descia sobre o céu de Pamplona.  Não tenho muito o que dizer sobre ontem, após a ressuscitação eu capotei, o meu corpo estava tão moído, eu estava em um estado de choque. Os médicos fizeram diversos exames e o cardiologista me indicou vários remédios, segundo ele o meu coração é uma bomba relógio que poderia ter explodido a qualquer momento.

-Por que? O que você fez?

O policial ficou na porta se perguntando o tempo todo sobre a burrice que eu havia cometido, os olhos dele sangravam de raiva e ele parecia preocupado. Por um lado eu entendo ele, dois dos prisioneiros dele estão quase morrendo e ele tem que chegar na prisão com os dois vivos. Eu estava mais calmo por conta dos anestésicos e antidepressivos, porém eu ainda roía as unhas de preocupação com o Stein.

Por volta das dezoito horas eu senti a minha bexiga quase explodindo e eu pedi que o policial me levasse ao banheiro. No caminho havia uma sala com alguns médicos em volta da maca, o monitor cardíaco estava apitando e os médicos cobriram o corpo pálido de um garoto com cabelos loiros e braços magros. O meu olhos se fixaram em cada detalhe e meu corpo se tremia, e de pouco em pouco minha pressão foi caindo e os meus olhos apagando, eu só me lembro de desmaiar na cadeira de rodas quando o médico responsável disse:

-Hora da morte, dezoito e cinquenta e cinco. Chamem a família.

Foi essa a frase que me fez ver o quão curta é a nossa vida. Me fez refletir como tudo pode desabar em questão de minutos, como tudo pode desaparecer sobre suas mãos. Eu me senti como uma agulha no palheiro, eu estava tão perdido e angustiado, eu só precisava parar um pouco, eu só precisava parar. Aquele corpo, o corpo estava ali e eu não pude fazer nada, eu não cheguei a tempo? Meu rim não serviu? Por que Deus? Por que deixou ele ir?

Quando eu cheguei no quarto os médicos me sedaram e eu fiquei em observação. O hospital estava cheirando a álcool assim como qualquer hospital e isso estava me incomodando muito. Os ponteiros do relógio passavam tão devagar, eu estava tão ansioso, eu não queria estar ali, eu queria estar com ele, por que eu não posso estar com ele? Por que eu não posso simplesmente me despedir? Foi assim nessa agonia que eu acabei tento diversas crises de ansiedade até a hora de dormir onde me sedaram com o mais forte sedante a fim de que eu apenas apagasse de vez.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now