06 de Novembro - Hematomas

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Pela manhã eu acordei com os barulhos dos socos que o homem estava gastando na parede. As mãos deles estavam ensanguentadas e sua testa suava em ritmo frenético. O cara simplesmente não se importava com a dor apenas batia na parede. Os olhos deles demonstravam raiva e suas costas se mexiam de acordo com a intensidade dos socos.

Se passaram alguns minutos e ele permaneceu no ataque contra a parede, isso pelo menos até entrar um guarda e me puxar para fora, depois disso ele deu um último soco e deitou na cama. E não, o guarda não fez nada, levou a situação como se fosse algo "normal", apenas foi me guiando até a sala de visita onde eu recebi uma visita que digamos que seja mais do que inesperada. Eu me sentei na cadeira e preocupado perguntei:

-O que te leva até aqui doutor?

O médico de cabelos cacheados então abriu um sorriso e me disse com euforia:

-Quanto tempo meu paciente que mais me causou problemas, como você está? Os machucados estão cicatrizados?

A visita do doutor apenas me trouxe um dia de tranquilidade, ele me fez sentir algo que a muito tempo eu não sentia: a experiência de ter uma conversa civilizada. O doutor estava tão simpático e alegre, parecia que havia ganhado na loteria. Eu então olhei para ele e falei com um sorriso no rosto:

-Acredito que sim, elas doeram por um tempinho mas depois não doeu nadinha. Estou tomando os remédios direitinho também. Mas me diga doutor e o Stein?

O doutor então fechou a cara e isso me levou a pensar que algo ruim havia ocorrido com o meu "único amigo". Mas logo depois ele me tranquilizou dizendo:

-O Stein teve uma boa melhora mas continua internado para evitar possíveis complicações. As crianças de vez em quando também vão para lá comer, elas ficam no quarto do Stein e passam horas lá.

Não pude conter a felicidade, apenas levantei e abracei o médico, isso se um guarda não viesse com força e me batesse na costela. A dor foi tão aguda que meu ar não chegou nos pulmões, eu apenas vi tudo girar e girar e caí no chão batendo a cabeça na cadeira de ferro na qual eu estava sentado. O médico no susto levantou-se e começou os primeiros socorros, todos da visita ficaram assustados e os guardas começaram a guiar eles de volta a suas celas. O médico então pegou uma tesoura e cortou meu uniforme e se surpreendeu com a quantidade de hematomas que eu tinha pelo meu corpo. Os guardas ficaram parados e com olhares assustados e o médico só sabia esboçar um misto de raiva com justiça. Os meus olhos viam tudo bem ligeiramente e minha cabeça parecia que estava girando. Depois dessa cena só me lembro de estar na enfermaria do presídio e em minha volta dois militares de outra divisão. Naquele momento minha visão já estava melhor, porém cai no sono, eu estava entupido de morfina, o meu corpo podia sentir o soro entrando e meus olhos via as gotas de medicamento caindo no cateter que estava no meu braço, foi assim que eu dormi, com essa visão "hospitalar" novamente.

Sabe? Muitas vezes Deus nos entrega uma ajuda inesperada e a gente nem se toca, porém ele sempre demonstra o amor e o carinho dele por nós. Para falar a verdade as cicatrizes não estavam bem cicatrizadas e meu estado de saúde estava horrível. Nem se quer com o cardiologista indicado eu passei e quem dirá tomar remédio. Segundo aquele filhote de urubu do diretor: eu não mereço cuidados médicos, essa é minha punição. Às vezes eu só queria bater no diretor que nem o grandão bate naquelas paredes. Não consigo entender como um diretor sem ética pode trabalhar em um presídio desse. Ridículo!

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now