05 de dezembro - Efeito colateral

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Hoje pela manhã eu acordei com o Stein me cutucando. Ele me acordou só para mostrar o Vincent babando. Claro, faltei estrangular ele, porém foi até que bom ele ter me acordado, eu simplesmente me perdi no horário, dormi até de mais tarde hoje.

Quando o Vincent acordou ele limpou a baba, sentou na cama e encostou a cabeça na parede nem sequer falou com a gente. Eu estranhei novamente o comportamento dele, mas dessa vez sentei junto com ele e perguntei:

-Aconteceu algo vincent?

O Vincent então fechou os olhos e disse:

-Nada não.

Eu por um lado preferi deixar ele sozinho, mas o Stein foi perturbar ele. Pulou na cama dele e começou a fazer cosquinhas. Os dois começaram a brigar que nem criança, um batendo no outro. Isso até um militar gritar:

-QUE BARULHEIRA É ESSA?

Depois disso, cada um foi para o seu lado e começou a rir. Eu fiquei pensando muito sobre o Vincent e imaginei que um ar livre faria ele bem, então pedi para visitar a biblioteca junto com os meninos e os militares autorizaram. Nós fomos guiados até a biblioteca e tudo lá está mais seguro depois do ocorrido. Tem uns três militares a mais e até detector de metais. Aquela sala estava sendo vigiada o tempo todo.

Quando chegamos o Stein e o Vincent se sentaram em uma mesa para dois e começaram a ler um livro brasileiro de aventura, fala sobre três amigos que desvendam mistérios dentro do famoso sertão brasileiro. É bem bacana, para falar a verdade é uma obra muito interessante. O Vincent não teve a oportunidade de estudar, então acaba que se perde um pouco nas letras, mas já faz um tempinho que o Stein pega ele para ensinar o básico. O Stein é dono de uma inteligência surreal. Mesmo na rua ele arrumava maneiras de alugar livros na biblioteca. Esse estranho de olhos azuis é quase um outro Einstein, até os nomes coincidem.

Os meninos passaram um bom tempinho lendo e depois vieram se sentar junto comigo. O Vincent parecia estar um pouco melhor e o Stein tem nem o que dizer, desde a conversa de ontem não tira esse sorrisinho maroto do rosto. Nós ficamos o resto do tempo ali conversando sobre a vida e até recebemos chá com bolachas. Um dos militares trouxe e disse que uma pessoa especial que enviou. De início eu não quis nem tocar no chá: depois do que aconteceu com os pães eu sou ainda mais desconfiado do que me dão para comer, então preferi não ingerir esse presente e não deixei os meninos comerem também, mas fiquei um pouco mais tranquilo quando o Santiago se juntou a mesa e disse:

-Eai pessoal? Estão fazendo o que de bão? Podem tomar o chá, foi o padre Giovanni que fez.

O Santiago então se sentou na mesa e começamos a conversar. O Vincent então olhou com os olhos caídos para o Santiago e disse:

-Você conhece tudo aqui né? Santiago, você sabe se algum menino de cadeira de rodas veio aqui recentemente?

O Santiago então ficou pensativo por um tempo e depois disse:

-Não que eu tenha percebido Vincent.

Depois disso o Vincent apenas bufou com a boca, levantou da mesa e pegou um livro dos três porquinhos para ler, e ficou pelo chão mesmo, lendo aquele livro enquanto eu, o Stein e o Santiago conversávamos. Nós ficamos trocando papo até o tempo na biblioteca acabar, porém quando eu me levantei a minha garganta fechou completamente e eu fiquei completamente sem ar. A minha barriga começou a arder e as minhas pernas ficaram completamente bambas e quando eu menos esperei eu caí no chão totalmente desmaiado. Não sei explicar, o Santiago disse que eu podia tomar, foi o padre Giovanni? Por que? Por que me envenenaram? Foi o Thales? Foi aquele sem noção? Oh pai, não me deixe ir,pelo menos não agora.

Minha tarde foi praticamente toda na enfermaria, mas nenhum remédio tratava da dor que eu estava sentindo. Então chamaram o doutor Benjamin e ele me examinou dos pés à cabeça. Segundo ele eu não fui "envenenado"  completamente. O doutor falou que eu recebi uma alta dose de uma substância que eu mal sei pronunciar o nome. Ele me disse que essa substância causa sintomas ainda piores e que eu tive sorte de não acabar tendo uma síncope por causa do meu problema no coração. O doutor Benjamin então me encaminhou para um hospital no centro de Pamplona para fazer uma lavagem estomacal e depois correu atrás das papeladas para me transferir.

Pela noite eu acho que estava chovendo um pouco por causa dos barulhos que a telha fazia. Eu permaneci no quarto da enfermaria e a dor ainda estava bem aguda. Eu não parava de vomitar nem um minuto. O meu estômago faltava gritar de tanta dor e agonia. Eu fiquei tão preocupado com o Stein e com o Vincent, na hora que eu caí eles ficaram tão desesperados, espero que estejam bem.

Pode até parecer loucura, mas no fundo eu sabia que alguém queria me matar e eu só queria poder voar no pescoço dessa pessoa. Como pode alguém ser tão cruel a ponto de matar alguém envenenado. O Thales? O Diablo? Não duvido de nenhum deles, até então são lobos na pele de cordeiro. Eu fiquei calculando diversas probabilidades, mas quanto mais eu pensava mais a dor aumentava. Então eu chamei a enfermeira e pedi algo para dormi mas segundo ela eu não posso tomar nada por conta da substância a não ser os medicamentos que estão me dando na veia. Eu então praticamente passei a noite em claro, só imaginando aonde tudo isso ia me levar? Será o destino? Será que é o destino me culpando por não ter ido atrás da aura? Mas se eu fosse isso seria errado não seria? Ah não sei, eu só quero dormir, mas não um sono profundo, eu quero dormir só um pouco, tudo bem pai? Não me leve agora, não agora.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now