21 de Novembro - Abraço de criança

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Hoje pela manhã um militar chegou com os nossos pratos de comida, o Stein parecia estar tão disposto e já estava sendo entrevistado pelo Vincent. Nossa manhã foi como um acampamento entre amigos, ficamos jogando conversa fora e rindo de piadas bestas. O Stein pegou dois pedaços de maçã e colocou na boca, diz ele que eram dentes de leão marinho, não aguentamos de tanto rir, e para melhorar o Vincent entrou na brincadeira, pegou uma banana que estava sobre o prato e atacou o Stein que era um suposto leão marinho. Sabe quando você sabe que está no lugar certo? Eu nunca tive essa animação toda, muito menos essa disposição. Os dias que eu mais me divertia era quando eu, a Estella e o adrus se encontrávamos. Eu lembro de quando o adrus trazia um pote cheio de coxa de frango, a Estella parecia um lobo comendo, ficava com a boca toda suja. Ficávamos a tarde toda fazendo desafios para saber quem comia mais e no final caiamos um por cima do outro e por ali ficávamos.

Após o café da manhã os militares trouxeram um docinho de abóbora, sabe aqueles docinhos horríveis que nenhuma criança gosta? Mas pelo menos é um bom agrado. O Vicente era o único que gostava daquele doce então ele enfiou os três doces na boca e quase morreu engasgado. Juro, eu acho que esse garoto só não morreu porque tem um anjo da guarda dedicado, ele vive fazendo essas coisas, parece uma criança de quatro anos.

Pela tarde um militar me buscou na cela e disse que eu tinha visita. Eu então fui algemado e fui levado até uma praça toda vigiada por militares e em nossos peitos eles grudam uma micro câmera. Quando eu cheguei eles pediram que eu sentasse e assim eu fiz. A praça não tinha nenhuma cobertura então a luz do sol iluminava cada grama que tinha no chão eu me senti em qualquer lugar menos dentro de um presídio. Eu então escutei vozes delicadas e animadas vindo em minha direção, e não contive a alegria quando vi o adrus e o Henry correndo em minha direção. Eles estavam tão fortinhos, com toda certeza foram bem cuidados, aquele foi o mais doce e importante abraço da minha vida. O Henry então olhou para mim e disse:

-Olha Toomas, o meu urso agora também é prisioneiro, tem até uma roupinha laranja.

Eu então gargalhei e disse:

-Por que estão aqui? Como entraram?

O adrus então disse:

-O Stein não contou? Fomos adotados, nossa mamãe é incrível.

Eu então limpei meus olhos e vi se aproximando de mim a raquel. Ela estava tão linda, um lindo vestido florido e um sorriso de orelha a orelha. Eu então me levantei e corri até ela, senti um alívio tão grande. A Raquel não conseguiu esconder a preocupação que sentia por mim, me abraçou tão forte que cheguei a perder o ar. Ela e as crianças me trouxeram uma alegria sem tamanho, não consigo expressar tamanha gratidão.

A Raquel então se sentou no banco e começou a me contar alguns detalhes sobre a adoção e o tempo deles no hospital. A Raquel mal sabia da existência dessas crianças, mas durante um plantão naquele hospital ele conheceu elas e o Stein. Diz a Raquel que depois de alguns dias descobriram coisas mais sérias nos meninos, desde algumas infecções até sinais de apendicite, mas eles não tinham como fazer esse acompanhamento sem ter dinheiro, então ela começou a preparar a adoção e conseguiu colocar eles no plano de saúde dela. A Raquel é enfermeira e desde de jovem sempre foi assim,um amor de pessoa e um anjo em minha vida.

O adrus veio se aproximando lentamente e pulou em minhas costas, depois se aproximou do meu ouvido e falou cochichando:

-E aí campeão? Nossa mãe é linda né? Quando vai tomar vergonha na cara e pedir ela em casamento?

Depois disso o Henry chegou com uma flor e disse:

-Toma, você aceita ser nosso pai?

Não consegui expressar outra coisa a não ser desespero,comecei a ter uma crise de risada e a Raquel me acompanhou. Ficamos vermelhos e mal conseguimos se olhar. A Raquel então pegou o Henry no colo e disse:

-Meninos? Que falta de educação é essa? O tio Toomas é só um grande amigo da mamãe.

O adrus então fechou a cara e disse:

-Ahh quase deu certo.

Depois disso caímos na gargalhada e passamos um tempo precioso juntos, até os militares chamarem eles para ir embora. O adrus antes de sair veio correndo até mim e tirou do pescoço um cordão com metade de uma borboleta e disse:

-Toomas com esse colar você vai estar sempre perto de mim, foi isso que meu irmão me disse antes de ser levado. Cuida bem disso, tá bom?

Esse dia sem dúvidas nunca sairá da minha cabeça e não sei se escrever mais seria o adequado, então vou parar por aqui, até amanhã diário.

Diário de um injustiçado Where stories live. Discover now