46 TPM

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Eloá,

Donga mandou um garoto trazer o controle do portão para mim.

- Patrão mandou dizer que esse ai é teu, pra tu guardar. - O garoto novinho e meio tímido, deu o recado e sumiu no mundo pedalando uma bicicleta.

Cara, queria uma bicicleta. Sério! Faz anos que não ando.

Uso meu novo controle. Haaam...Tenho o controle do portão dele... quanta evolução!

Guardo minha motoca na garagem e entro na casa.

Abafado e fechado; abro as janelas para correr um ar! Detesto ambiente abafado!

Será que o Donga vai demorar? Poderia ter ido lá na Duda... O que me impediu mesmo, é que estou morrendo de cólica. Nem os dois comprimidos que tomei resolveram. Ou melhor, funcionaram por um tempo, pouquíssimo tempo. Minhas cólicas são tremendas! Já chegou ao ponto de eu não conseguir nem sair da cama.

Contudo, uma cólica de arrancar o útero não me impediria de ver meu homem, né?

Eu trouxe roupas. Poderia tomar um banho e esquentar água para fazer uma compressa e não morrer até ele chegar.

Jesus, nem é drama, o Senhor sabe!

Não canso de repetir: o chuveiro daqui é fenomenal!

Água quente é o que uma garota com cólicas precisa!

Droga! Eu trouxe Buscopan, né?

Quem disse? Sai tão acelerada que não me lembrei... e agora?

Donga nem deve ter esses remédios aqui.

Aconhegada em uma calça de moletom e uma babylook preta, combinadas com meu chinelo (mereço desconto, estou menstruada), saio para caçar o tesouro: comprimidos para aliviar essa dor do cacete.

Nada, em nenhuma gaveta, nem nos armários.

Mudo de ideia sobre a compressa, se eu não me deitar vou acabar encolhida no chão.

Ligo a tv, fecho as cortinas e me torno um tatu-bola contorcida na cama.

Quase choro quando o celular toca e sou obrigada a me mexer para atender.

- Alô... - Digo ao Donga, prestes a implorar por socorro.

- Deu certo aí? O moleque te falou pra guardar o controle? - Ele fala rápido, apressado. Deve estar ocupado.

- Deu certo, sim... ele me falou do controle, já guardei na minha mochila. - a voz de dor é inevitável.

- Que foi? Que voz é essa? Tá chorando? - Ele atropela uma pergunta com a outra.

- Cólica... esqueci a porcaria do meu remédio. - Pela primeira vez desde que o conheci, não queria falar com ele. Só queria me dobrar ou morrer logo.

Por que mulher sofre tanto?

- Tá no quarto?

- Sim.

- Consegue descer pra receber o moleque aí? Tô quase terminando aqui e tô metendo o pé também. Consegue descer aí?

- Não estou inválida, Donga, só a beira da morte. - Mesmo com dor, não podia perder a piada.

- O menor vai tocar o interfone daqui a uns cinco minutos. Eu chego em uns quarenta. Consegue ficar viva até lá? - Ele também queria fazer suas provocações.

- Acho que sim... - Quase gemi com a fincada no pé da barriga, mas segurei para que o Donga não me achasse tão fraca.

- Jaé! - ele finalizou a ligação.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora