Final-Parte 2

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Donga,

Porra, mané, tô nervosão. Papo reto!

Nem bebida nem maconha conseguiram aliviar minha mente. Ansiedade sinistra tá daquele jeitão.

Não imaginava que ficaria assim. Estava tranquilão até certa hora, mas agora, se aproximando do horário do desenrolo, bagulho tá de verdade. 

Me fito no reflexo do espelho, pensando nas pessoas que eu gostaria que estivessem compartilhando esse momento comigo. Bola, minha avó, meu pai, minha mãe... até mesmo a pilantra da minha irmã. Mas nem tudo rola conforme a gente deseja. 

Me sinto um cara diferente nesse momento. Quem diria que eu, justo eu, Donguera, cachorrão, solto na pista, estaria um dia me casando. E pior, me sentindo um moleque nervosão. Papo de maluco, né? 

Mas ela chegou aqueles pique e não teve jeito. Branquela bandinda, mermão! Foda ela, foda ela... tenho que admitir, sem neurose. 

O que o Bola diria se estivesse vivo? Iria me torrar pra caralho. Eu batia no peito sinistramente, afirmando que jamais iria me prender. Paguei feião com a língua!

Beijo meu pingente com a letra G e boto a glock cromada na cinta. Bandido desarmado é igual rádio sem pilha, serve pra nada. - vivo dando esse papo. 

Tô bonitão, cara. Camisa social branca, cabelo na régua... tô gatão, visão.

E maluco pra ver minha deusa, minha gata deliciosa!

Mas tá foda, nem perto daquele quarto posso passar. As minas já me tocaram duas vezes quando tentei espiar. Dizem que dá azar ver a noiva antes do casamento. Qual foi?! Mó sacanagem!

Minha mãe me ligou, mano... porra, mó escroto que ela não possa estar aqui hoje. Esse casamento é por mim, por nós, mas também por ela. Mas infelizmente ela não vai poder presenciar seu sonho se realizando. Esse é único orgulho que eu pude dar a ela, e ela não pode estar presente. Mas Deus sabe de tudo, ele é por nós.

Receber a ligação dela, me dando sua benção, falando do quanto está feliz por mim, isso já valeu muito a pena. Ela se amarra na Elô, desejou muitas felicidades, mandou um beijo pra ela e contou que Manu vive pelos cantos chorando.

Se ela não tivesse agido como agiu, poderiam estar às duas partilhando comigo esse momento, cara... Me magoa um tantão essa parada, mas fazer o quê? Bola pra frente. Minha mãe se contenta em apenas saber que alguma coisa boa nessa vida eu fiz, e isso já é mais que o bastante.

Na hora de descer, tento a sorte de imbicar no quarto mais uma vez, mas a porta agora foi trancada. Coé, tão mantendo minha mulher refém ou o quê?

A casa já está cheia. Os amigos, a menorzada da minha tropa em peso. Geral trajadão.

Hoje foi proibido o uso de boné e obrigatório o uso de camisa social. Se eu vou me foder, eles vão também, tá maluco?

Geral ficou bolado, porque tem muito nego que fica trinta vezes mais feio sem boné. Foi motivo de muita falação essa porra e de muita risada.

Chego em uma das mesas, onde estão o Cavera, Fabinho, Fernando, Piu, Danete. Alguns têm que seguir a risca na escolta e ritmar na contenção, então não vão poder assistir o casamento. Mas tentei armar um esquema legal de revezamento pra eles participarem da festa mais tarde. 

Danete é um moleque bom, pô. Levei um papo de responsa com ele, me redimi pela mancada daquele dia lá. Eu tava boladão naquele momento, mas não tenho essas vaidades. Se eu estiver no erro sou sujeito homem de reconhecer. Ele não guardou mágoa nenhuma no coração. Teve uma elevação de cargo e um aumento no PG, o que foi suficiente pra deixar o moleque felizão.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora