45 Só da você!

8.6K 662 413
                                    


Eloá,

Mais uma semana que sumiu diante dos meus olhos... graças a Deus!

Após enfrentar o purgatório de ter que tolerar a presença da Jessy na casa do Donga sábado passado, e as provocações dela e da minha cunhada, Manuela, tenho preparo para sobreviver a uma guerra nuclear.

Foi duro me controlar, quis ir embora dezenas de vezes. Não fui porque a Duda me convenceu de que eu não deveria dar a elas o poder de estragarem um dia tão importante para mim. Era meu primeiro dia como namorada do Donga, eu havia acabado de conhecer sua mãe, seus amigos, não podia meter os pés pelas mãos por conta do meu ciúme.

E bota ciúme nisso...

Desejei afogar a Jessy na piscina nem sei quantas vezes. Ela não perdeu uma oportunidade de se insinuar para o Donga, mostrar sua bunda dura e musculosa para ele.

Ele não deu abertura e isso foi incrível!

Tive dúvidas, confesso... Cogitando o que ele poderia fazer. E se ele cedesse as provocações? Sei lá!

Eu transparecia segurança, queria mostrar que confiava no meu taco, por dentro eu tinha consciência de que a Jessy era linda, eles tiveram uma história. Foi difícil me manter indiferente perante a bizarrice de ela estar na casa dele, se oferecendo.

Ainda bem que a mãe dele é um amor. Sentou-se conosco: eu, Duda e Donga. Quis saber sobre meus pais, se eu tinha irmãos, nos contou histórias de quando Donga era pequeno e de como aprontava e dava trabalho. Ela é uma querida, exatamente como Donga havia me adiantado.

Já sua irmã me odeia, sinto que sim. Ela não suporta a ideia de que eu esteja com ele e não sua querida amiga, vadiessy! - o apelidinho que Duda e eu botamos nela. Coisa infantil, mas me fez rir na hora, mesmo eu querendo sumir dali.

Resisti como uma guerreira. Não poderia sumir e deixar meu tocador de pandeiro, de sorriso descontraído, para aquela vadia!

Ele toca pandeiro, e é muito charmoso fazendo isso!

Chegaram alguns caras lá, do morro mesmo. Ele me explicou que eles tinham um grupo pequeno de pagode e de vez em quando faziam apresentações pelo morro. Naquele dia eles só foram convidados e não contratados e levaram os instrumentos - por vontade própria -, para alegria do Donga, que é doente por pagode.

Sentamos em uma roda e ele botou minha perna em cima da dele, a usava de pandeiro, tamborilando seus dedos dourados e caros - gelados de segurar a cerveja - nela. Duda, ao meu lado esquerdo, cantava todas as músicas e fofocou no meu ouvido quando às três cobrinhas entraram para casa.

Tinha anoitecido e elas deveriam ter ido tomar banho e vestir roupas. Não voltaram mais, para honra e glória do Senhor!

Elas perderam a importância quando Donga pediu o pandeiro do cara ao seu lado e começou a tocar ritmicamente. Ele me olhava de canto e aquele sorriso...

Aquele branco de um sorriso que poderia facilmente tomar o papel da lua e iluminar a noite - a minha noite!

- Não sabia que você tocava... - Disse baixo, sorrindo, junto ao seu ouvido.

Ele mais uma vez me olhou sem virar a cabeça, a expressão convencida. Não respondeu, ao invés disso, se inclinou e cantarolou a música que eles tocavam na minha orelha, baixinho. Um show particular, que fez borboletas ferozes baterem asas no meu estômago.

- " Tenho dó de quem me conhecer agora
E todo amor eu tô jogando fora
E qualquer um que bate aqui nesse meu coração Não passa nem da porta
Se essa boca não beijasse tão bem
Se esse abraço não fosse tão massa
Se quer saber se quero outro alguém
Nem de graça, nem de graça - Me deu um beijo na testa e uma piscadinha, o sorrisinho travesso quase não aparecendo no cantinho da boca.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora