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Donga,

Ela subiu correndo as escadas e eu fiquei parado aqui, puto.

Encosto as palmas das mãos na parede e minha cabeça cai para frente. Estou me controlando para não ir atrás dela.

- Tomar no cu, porra! - soco o concreto, o barulho repicando pela sala vazia.

Melhor eu vazar...

Subo no quarto de hóspedes e procuro, revirando as roupas, em cima do armário, debaixo do colchão. Não tem um caralho de mochila nessa casa!

Devo ter levado aquela merda pra outra casa.

Quase quebro a porta ao sair do quarto, tamanha a força com que bato. Repito o mesmo ao entrar no banheiro do corredor. Tranco, arranco a calça, a cueca e mando o box pro lado usando a mesma força. Felizmente, não quebra. Menos uma dor de cabeça. Eu quem teria que pagar para botar outro no lugar de qualquer jeito.

A água está arrancando o couro. Tiro a sujeira do rosto... ou melhor, o cheiro dela grudado no meu nariz.

Eu virei mesmo um capacho... faltou implorar de joelhos. E pra quê? Se pra ela eu sou desprezível? Do que adiantaria?

Ela quer um príncipe de cavalo branco?! Se envolveu com vagabundo, rapá, não com mocinho de novela, caralho! O que eu faço por ela, o que dou a ela, é muito mais do que um dia eu vi, aprendi. E ainda assim não está bom!

Nunca realmente agredi ela de verdade. Machuquei ela dois dias atrás — o que nem foi nada perto do que poderia acontecer — e ainda senti mó remorso. A mente pesou. Outro no meu lugar teria quebrado ela várias vezes por ser abusada, cheia de marra. Eu é que evito, não curto, não quero.

Me dispus a abrir mão de todas por ela. Geral ai tirando onda da minha cara, porque nem nas resenhas eu colava mais, fazendo o possível e o impossível pra dar certo, porque me amarrei de verdade, mas pra ela isso não é amor.

O que é amor então?! O que mais eu tenho que fazer? Estender tapete vermelho? Se foder, mermão!

Se eu quisesse obrigar ela a ficar comigo e comer uma piranha diferente por dia na rua, eu faria! Se eu fosse tão desprezível assim, ainda quebrava a boca dela se me tonteasse!

Dou a maior moral pra mina e ainda tenho que escutar que ela não suporta quando eu encosto nela? Cheia de bronca no bagulho? O caralho!

Se eu quiser meto o pé naquela porra daquela porta e fodo com ela a força. Quem iria me impedir?! Ela é minha, porra! Não faço porque não quero!

A desgraçada me deixa de pau duro só de estar usando um caralho de camiseta! Sou um fanfarrão mermo, puta merda!

De raiva, meto vários socão no piso branco do box, a água batendo na minha cabeça e respingando na mancha de sangue que o machucado recente, aberto novamente, deixou.

É melhor socar essa porra e descontar meu ódio na parede do que nela.

Mas não... eu sou o demônio, sou o cão, a pior pessoa do mundo.

O arrombadinho do ex dela é que devia ser o cara! Corneando ela com a melhor amiga. Ele sim, era o fodão! O pica!

Agora eu, que estou aqui feito um otário mendigando atrás dela, sou motivo de repulsa.

Quem sabe se eu for um cuzão, esfregar várias cachorras na cara dela, comer alguma amiga dela, ela me ache tão maneiro quanto ele. Enquanto ela tem nojo, tem várias querendo! Aquela amiguinha dela mesmo, a morena que estava no pagode com ela e com a Duda, se eu quisesse teria amassado. Só pelo jeitinho dela, saquei que me queria.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora