87 Recaída

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Samuel,

Pô, hoje vai ter baile e o movimento na boca nesses dias triplica. Como tenho tomado conta de muito bagulho, preciso levar na risca. Se der merda, o Donga me torra. Prefiro ficar em cima, palmeando, para não ter que ouvir roncação depois.

Na hora de meter o pé, os moleques me convocam para jogar truco na casa do Feio. Mereço também, pô, tem mó tempão que não bebo, não faço nada.

Mando mensagem para a Paloma, avisando aonde eu vou estar, e parto com eles.

Carregamos a mesa da mãe do Feio para a laje, formamos as duplas e ficamos marolando, jogando e bebendo. Da cerveja passamos para vodka, da vodka para o gin e assim por diante.

Sou competitivo pra caralho, e quando sento numa mesa só saio se eu perder. O que não é o caso. Hoje tô com sorte!

A coroa do Feio fortaleceu com umas asinhas de frango fritas, batata frita e calabresa com cebola, o que veio a calhar. Tava mortão de fome!

Em meio as jogadas, e a gritaria daquele bando de vagabundo, tu nem se liga no decorrer das horas. Mas em determinado momento, bato a mão no bolso para tirar o celular e ver se a Paloma respondeu. Porém, a bateria de Iphone é uma bosta, dura nada, e o outro celular deixei carregando.

Se eu não meter o pé logo, ela vai pirar. - Penso.

Mas já viu quando sujeito homem se junta? É só gastação, muita resenha, e nessa tu acaba se empolgando e sempre quer ficar mais um pouco.

Agora que a Paloma melhorou, já não tenho mais aquela preocupação de ela passar mal e eu não estar lá. Também tem a coroa dela, que faz companhia, então sei que ela não está sozinha, o que me deixa mais suave. Por enquanto também, porque ela disse que está só esperando os resultados dos outros exames para ter certeza de que a Paloma está bem mesmo e vai voltar para a cidade dela. Eu acho bom, falar legal pra tu.

Apesar de ela ser gente boa e fechar dez a dez, acabo não tendo privacidade na minha própria casa. E isso é bem foda.

Os moleques me torram a beça quando perco uma rodada. Me levanto pistola da cadeira. Não sei perder, não nego isso.

- Vou meter o pé! Já deu! - mato o restante de bebida do meu copo.

- Ihh... coé, vai ficar putinho mesmo? Mané meter o pé, cumpadi! Relaxa aí, pô! Tamô na maior tranquilidade e tu mete papinho de sair fora, tipo mulherzinha emburrada, só porque perdeu? Não fode! - O Feio ri na tiração de onda, embaralhando as cartas.

- Tô de boa, mano, na moral! Deu minha hora mesmo, minha dona deve tá puta já! - Bato em suas costas, me despendido.

- Ih! Tô nem te entendendo legal, Samuca, qual foi? Virou pau-mandado de mulher agora? Fica mais, viado! Tamô na disciplina, não tem piranha e nem nada... - Souzinha - parcero nosso - diz, coçando o saco e se debruçando no muro enquanto fuma um baseado.

Acabo ficando só mais um pouco. Não posso deixar eles pensarem que mulher manda em mim, tá ligado como? Homem tem dessas paradas.

Tem um banheiro simples aqui em cima. Apertadão, só dou o papo de que vou mijar, mas que tô no aguardo da minha vez, porque eles são um bando de safados que atravessam na frente.

Quando saio do banheiro, Souzinha está recostado no parapeito, perto da porta, e guarda o celular.

- Aê, tô com um bagulho maneiro aqui. Bora dar um teco? - me convida, já passando por mim para atravessar o pano pendurado servindo de porta.

- Tô tranquilo, irmão... Parei. - vou saindo, mas ele me para pelo ombro.

- Pô, só uma, viado! Só pra dar um levante! - intima, maneando incentivamente a cabeça.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora