66 Cárcere...

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Se eu pedir pra ficar, promete que não vai embora ... 🎵

Eloá,

Sou repentinamente possuída por uma fúria animal, porque esse mesmo homem que eu amo desesperadamente, e que não suporta me dividir com outro, é o mesmo que eu vi dando a outra o que era meu.

Desvairada, empertigo-me e aplico tapas misturando a golpes de punhos fechados em seus ombros e peito, esquecendo o medo que ele me causa por um instante, para focar no outro sentimento muito pior que ele me desperta: a dor.

- Você não tem ideia de como eu me senti te vendo pelado ao lado dela, seu filho da mãe! Você não pode me sequestrar e apontar uma arma para mim, como se fosse dono da razão! Você sabe o que eu passei nesses dias com aquela imagem impregnada na minha mente? - desvairada, invoco todas as minhas forças - que não são muitas - para empregar contra ele míseros soquinhos, que não lhe causam o mínimo desconforto e mal movem seu corpo duro e maciço como pedra do lugar.

- Eu tô ligado que foi foda pra você. - seu único esforço é de apertar meus pulsos para me empurrar de volta a cabeceira. Um adulto controlando uma criança agitada sem levar a sério suas birras.

- Eu nunca quis te fazer sofrer, meu amor... Só quero te dar alegria! Eu errei, pô, mas é você quem eu quero! Eu nem lembro como fui parar naquele quarto... -  ele se amplifica como uma sombra grande acima de mim, tentando conter meus impulsos de bater e me contorcer, mantendo meus braços dominados pelas suas duas imensas mãos.

- Não importa como você foi parar lá, caramba! Você me traiu, Donga! A garota vive na sua casa! Vocês tinham uma relação antes! Na primeira oportunidade você resolveu matar a saudade! Você nunca parou de se encontrar com ela! Aquela foi a única vez que eu vi, mas com certeza tiveram muitas outras, né?! - desatinadamente o acuso, esgotando a capacidade de minhas cordas vocais, usando pés e mãos para não permitir maior aproximação dele.

- Me escuta! - sua perna esquerda passa por cima do meu quadril, seu outro pé ainda no chão. Ele me prende entre o espaço de suas coxas, e suas mãos, mais implacáveis, imprensam as minhas contra o colchão, lhe dando assim livre acesso ao meu rosto.

- Quero que você olhe pra mim, Eloá! - Ele ordena, usando uma certa dose de autoridade tanto na voz quanto nas mãos. Meu rosto se vira para a porta do closet, no outro extremo do quarto. - Eloá, olha pra mim, porra!

- Donga... me solta! Acabou! Acabou as mentiras, acabou tudo! - Atiro meus olhos ressentidos para os seus, atendendo a sua exigência. Os músculos do meu pescoço pulando pela potência da minha voz.

- Não tem o que explicar, não tem mais jeito! Será que você não cansa de me fazer de idiota?! Quer explicar o que, cacete? O QUÊ?! Chega de mentiras! Eu já aturei muita coisa, agora chega! - Resfolegando, recupero parte do ar usado nos gritos frenéticos. Ele se aproveita dessa pausa para pôr meus braços sob o domínio de seus joelhos e deixar suas mãos livres, envolvendo assim meu rosto entre elas.

Dessa maneira não tenho outra alternativa a não ser o enfrentar.

- Quantas vezes eu te falei que não quero mais ninguém? Quantas vezes mais vou ter que falar pra entrar na tua cabeça, caralho?! Que história eu tive com a Jessy, cara? Eu fodia ela quando me dava vontade, nunca passou disso! Se eu quisesse, ela estaria com ela, e não aqui feito louco, tentando fazer você me ouvir! Eu não tenho nada com ela! NA-DA! - Seu olhar e sua voz, contendo a firmeza de alguém que não está blefando. Contudo, contra fatos não há argumentos.

Mas me calo para ouvir o que mais ele tem a dizer em sua defesa.

- Não posso falar daquela noite, não lembro de porra nenhuma! Juro pra tu, minha mente é um branco referente aquele dia lá! Não sei nem como fui parar na casa do Cavera, papo reto. A última coisa que lembro, é de você me deixando em casa, eu te dando papo de te buscar depois e dizer que te amava! Porque eu te amo! Não sou de tá falando isso pra ninguém, mal falo pra minha mãe! Se tô falando é porque eu sinto! Não jogo palavra fora, não falo os bagulhos por falar! - faz questão de diminuir o espaço entre nossos olhos, a voz se adocicando.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora