21 Resenha

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Donga,

Minha sexta começou cedo, nos corres loucos. Resolve uma parada aqui, aparece outra pica ali, repassa o dinheiro do pagamento dos manos, contabilidade. Um monte de dor de cabeça, papo reto.

Perto da hora do almoço, paro na boca para deixar uma grana com o amigo que leva o arrego dos botas. A responsa é dele de ir ao ponto de encontro e repassar a fortuna que pago semanalmente. É o salário desses arrombados, que eu sustento.

Cavera está por ali também, marolando. Estaciono a moto e desço, dando salve coletivo e um aperto na mão do Gereba e do Cavera.

- Pega a visão, irmão. - tragando forte um cigarro de papel, Cavera joga um saquinho do branco para mim.

- Marketing pesado! - Ele sorri, apontando o pacotinho transparente de droga na minha mão.

No pacote foi grampeado um pedaço de papel impresso, escrito: " Pó mágico do Lobo ". Em baixo, um desenho de um raio, depois, mais uma escrita em letra menor: " PCR- tropa do lobo, matilha do Liberdade "

- Ah, caralho! Representou, porra! - Geral ri junto comigo. - Pô, nego bate o olho e já sabe onde encontra a boa!

Esse lance de ornamentar a embalagem agora é moda, e não poderiamos ficar de fora. Em todas as nossas lojinhas a cocaína só sai assim, carimbada, pra vagabundo não se confundir e registrar na mente. A barra de maconha tem o mesmo papel pregado. Estratégia de vendas, se ligou? Um luxo!

- Sabe mermo! Mandei imprimir mais um montante bom. - Cavera conta, inflado, se virando pros manos ao nosso redor. - Geral sabe qual é a pura, pô... Vagabundo enche a coca de aspirina amassada e os caralho. Nossa droga tem procedência, por isso playboy sobe morro aí todo dia pra pegar com nós. Tem nem papo. - Maneia a cabeça.

Puxo a mochila com a grana das costas e atiro na mão do Paulinho.

- Ai, o arrego. O que deu pra levantar foi isso. Essa semana foi foda, perdemô carregamento e a porra toda. Avisa que em três dias mando o restante e uma bagatela a mais pelo transtorno. - Abro a mão para o Cavera me passar o isqueiro, já tirando o fino da orelha.

- E se eles baterem neurose, chefe? Ai eu tô fodido, pô. Tu tá ligado... - Paulinho esfrega a nuca, se borrando.

Acendo o back e sacudo a mão em frente meu rosto.

- Dá teu jeito, porra! Os caras estão me fodendo e o que tem pra eles hoje é isso ai, se vira! - Fecho a cara. - Pô, vocês querem colar na tropa e não tem a capacidade de resolver um bagulhinho, mermão? Abre tua boca e explica a situação pros caras, que eles vão entender! Qualquer coisa manda o cuzão do Azevedo me ligar. Não tem papo, vão ter que esperar mais três dias ae. Não vou tirar da boca dos irmãos pra encher o cú desses passa fome não, pô.

- Vai lá menor, se adianta que eles devem estar esperando essa porra já! - Cavera bate nas costas dele, empurrando para ele sair fora.

Ando de volta até minha moto, fumando, tirando o boné para pendurar no guidom e não voar com o vento enquanto acelero. Cavera anda ao meu lado.

- Aquela cena dos bagulhos de energia da quadra tá foda, mas até semana que vem acredito que resolvo e vamos voltar com os bailes. Querendo ou não a grana do baile faz uma diferencinha legal, né, mano? - Diz ele, chutando fraco o pneu da frente.

Enquanto monto na moto, prendo o baseado entre os lábios para girar a chave. O ronco do motor sai limpo, tinindo.

- Pô, tá bonitona. Mandou lavar? - Ele avalia minha máquina.

- Mandei o Toro dar um trato bolado nela... - Com mais uns dois tragos, entrego o balão para ele. - Essa parada dessa luz aí, o irmão não averiguou isso ontem?

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora