51 °Incondicional...

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Samuel,

Desde que conheci a Paloma minha vida mudou da água pro vinho. Sou doente por ela e ela por mim. Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu, não me julga e não me acha um merda pelo meu vício, ao contrário, me ajuda pra caralho. No começo, quando a gente ainda estava se conhecendo, eu usava todos os dias, de manhã, de tarde e de noite. Estava vivendo a base de droga, papo reto.

Um dia lá rolou uma conversa sobre confiança, ela me pediu para sempre ser transparente. Eu tinha aquele receio de contar e afugentar a mina, sabe como?

Ao contrário do que pensei, ela me deu só papo boladão, só papo de melhoria. Disse umas paradas lá sobre Deus que mexeram comigo, saca? Ela é foda! E não tem essa de que bandido não tá nem ai pra nada, nego quando acha a de fé, aquela que quer te ver bem, e ainda mais quando diz umas realidades que entra fortão na mente, qualquer um passa a refletir mais.

Eu já tive oportunidade pra caralho de trair ela. Nessa vida que eu levo, a oportunidade bate na porta a todo momento, tem que fechar legal pra não cair na vacilação. Eu tô tranquilo, na minha mente hoje é mais que claro o que eu quero pra minha vida. No comecinho acabei beijando outra mina, uma doida que eu comia direto, aqui do morro. Veio bandida, querendo atrito, sabe como é, né? A gente é homem...

Eu estava na boca cumprindo meu plantão na moral, ela chegou junto de verdade mermo, saca? Tinha logo uma treta ali atrás, mais no escurinho; arrastei. Mas na minha mente vinha a Paloma o tempo todo e coisas que nunca pensei antes. Naquele instante eu parei. Meio que como? Vou comer piranha em beco, essas vagabundas sanguessugas do caralho, se a Paloma tá esperando cheirosinha em casa? Jamais levei isso em consideração antes, mas tava foda pra mim continuar beijando a outra ali.

Sai fora da mina. Ela não curtiu muito, óbvio, mas tô pelo certo, tranquilão!

Estamos morando juntos. É da hora, experiência nova, tô amarradão pra falar a verdade. Ter meu canto, meus bagulhos, tá ligado?

Eu e meu irmão não voltamos a nos falar até hoje, o que para minha coroa é um desgosto, ver os filhos brigados e tals. Na moral? Meio que tipo, nem tenho raiva mais do que passou, não. Ele tá de boa com a Eloá, eu tô de boa com a Paloma. Mas é aquele negócio, né? Os dois são orgulhosos a vera, ai é foda...
Acabou meu turno e tô maluco pra ir pra casa, ver minha preta.

Caralho, já era pra ela ter ligado, a consulta já acabou faz um tempo. Não tem nem chamada perdida no celular...

Digito seu número em um outro aparelho que uso somente para ligação. Chama, chama até cair. Neurose bate como?

Ela sabe que fico puto quando ela não atende. Sou cheião de paranoia, já logo imagino cena errada, que ela ta dando mancada e os caralho. É brabão de controlar a mente desconfiada de vagabundo. A gente vem de muita maldade, aprende a ver o mal onde não tem. Porém, o papo é um só, malandro que tocar nela pode ter certeza que já está morto e ela fodida. Tô apaixonadinho e tal, mas se me tirar de otário vai se atrasar bonito!

Subo na X1, acelerado, em dois tempos chego em casa. Entro, tudo muito silencioso, porta destrancada.. sinal que ela já chegou.

Na sala e na cozinha não está, no quarto não está. Vou até à porta do banheiro e fico intrigado. Ela está chorando, se olhando no espelhinho da pia. Em sua mão uma tesoura, no chão cheio de cabelo...

Imediatamente, mesmo sem entender nada, me adianto até ela e a viro para descobrir o que ta pegando, porque, pô, ela meteu a tesoura no cabelo, tá batendo no ombro. Ela é doida com o cabelo, qual foi?

- Por que tu fez isso, amor? - Corro a mão nos fios curtos e negros, mudando em seguida meus olhos pros dela.

Ela não responde, apenas as lágrimas descem. Pelo rosto inchado, concluo que ela já chorou muito.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora