43 Irmã caçula

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Manu, 
(Na quarta...)

Mano, tudo que eu mais odeio é esperar! Falei para o songa monga do meu irmão: SETE E MEIA, SETE E MEIA! Já são oito e nada de ninguém vir buscar a gente!

Minha mãe e eu temos que esperar aqui no aeroporto, sentadas nessas cadeiras desconfortáveis e nojentas. O pessoal da turma foram quase todos embora. Estou puta de raiva! Era para eu estar repousada na minha caminha, com meu ar condicionado ligado, banho tomado. Mas o Saulo é um incompetente, aaarrgh!

Nem tem como passar o tempo no whatts, simplesmente não dá. Somente da Jessy tem mais de dez mensagens, sempre a mesma chatice.
Ela me torra. Não tem outro assunto a não ser Saulo, Saulo, Saulo! É cansativo!

Finalmente nossa salvação chega, o Jeremias, um taxista morador do morro. Meu irmão deve ter pago para ele nos buscar. Ele nos ajuda a levar as malas para o carro.

Jeremias e minha mãe matracam o caminho todo até a favela. Eu apenas puxo meu capuz do moletom, cruzo os braços e, entediada, reclino a cabeça na janela, matando a saudade das ruas movimentadas do Rio. Orlando é incrível, amei conhecer outro país, foi sensacional. Mas, no fundo, senti saudades de casa.

Foi minha primeira viagem, espero não ser a última, quero lotar meu passaporte. Mas com sinceridade, voltar para casa é muito bom também.

Eu já estava para morrer com a minha mãe dando os mínimos detalhes de tudo que fizemos na viagem ao Jeremias. Se ela só contasse seria ótimo, mas é o tempo inteiro me perguntando nomes, pedindo que eu conte ao Jeremias como é isso e aquilo outro. Entre meus "aham"  "é, muito legal" e  "verdade" de meio em meio segundo, por fim, chegamos em casa.

Papagaio e outros dois da segurança, nos ajudam a descer as malas e as botam num canto da sala.

Cheguei, ufa!

Eu não aguentava mais aquele povo da minha turma, estava prestes a enlouquecer. Pais e alunos juntos no mesmo quarto, de quem foi a ideia?

E para ajudar, a Jenyfer não foi e eu não tinha muito com quem fofocar sobre os gringos gatinhos. As outras da nossa sala são umas antas, não têm a mesma vibe. Odeio todo mundo.

Despenco no sofá, e minha mãe grita pelo Saulo, seu filho pródigo. Ela baba um ovo tremendo dele, sempre passa a mão na cabeça do "coitadinho". Ele e o Samuca são os mais errados e ela os trata como se fossem santos. Já eu, sou a ovelha negra, só levo bronca e esporro.

Saulo pula os degraus da escada, descalço e sem camisa. É um milagre que esteja em casa.
 
— Comecei a achar que vocês iam ficar por lá, pô... — Ele abraça primeiro minha mãe, que se despendura nele morrendo amores. 

— Que saudade, filhote, como estão as coisas? — Ela pergunta sem o soltar, extrapolando no grude.

— Tudo na mesma! — Saulo se separa dela e se movimenta em minha direção.

— E ai, dona encrenca? Suave? — Sorrindo, ele me obriga a levantar, me pegando pelo braço, e nos abraçamos sem muita melação.

— Na medida do possível... Estou exausta, querendo banho e cama! — Resmungo, fazendo corpo mole.

(...)

No sábado, estou recuperada após dois dias embernada. Minhas energias estão de volta e estou linda como sempre, pronta para curtir o dia de sol e piscina. E também, para o churras que meu irmão marcou aqui em casa. O motivo do meu ânimo tem nome: Cavera.

Sou gamadinha naquele bofe, adoooro aquela marra dele.

Para o meu azar, ele não me dá confiança. Chegamos a trocar mensagens algumas vezes sem que meu irmão soubesse, porque ele é o típico irmão mais velho protetor, sabe? Bem chato, vive pegando no meu pé!

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora