35 Perdição...

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Eloá,
(Ainda no dia anterior, dentro do carro, quando eles saiam do baile juntos)

Ainda estou em choque com o que aconteceu. Não consigo acreditar que causei toda essa confusão entre dois irmãos, que fui tão irresponsável e que não consigo ter o mínimo discernimento quando se trata do Saulo.

Eu não sabia o que fazer quando vi os dois se atracando igual dois animais. Sai e chamei a Duda, que me esperava do lado de fora. E, por sorte, haviam dois seguranças do Donga ali, parados. Vendo a movimentação diferente, o tal amigo que anda sempre com ele, veio. Agora sei que ele se chama Cavera, Duda me contou. Um outro, Gereba - ouvi chamarem ele assim - também veio e conseguiram apartar a briga.

A Duda me abraçou. Entrei em colapso, chorando muito. Foi horrível.

Não sabia se sentia pena do Samuca, se me preocupava com o Saulo, se sumia para não ter que lidar com a culpa. E tudo que consegui fazer, foi me encolher no canto e torcer para que eles não se matassem.

Samuel me chamou para ir embora com ele, e meu lado racional até cogitou a possibilidade. Mas não tem jeito, meu coração é do Saulo. Não iria deixá-lo sozinho naquela situação. Ele estava todo machucado. A briga foi feia.

Me dói ver o rosto dele sangrando, me sinto péssima... Tudo isso foi culpa minha! Se eu não tivesse beijado o Samuca, nada teria acontecido. Agi influenciada pela raiva e o ciúmes, e acabei por causar a briga de dois irmãos que tentavam resolver seus problemas.

Outro fator, é que acabei de abrir meu coração e escancarar para o Donga o que já era mais que perceptível para qualquer ser humano com o mínimo de inteligência: meus sentimentos. E ele virou um poste, mudo e duro no banco.

Esperava que sua reação não seria boa, mas isso? Ele nem consegue mais me olhar. Construiu uma parede invisível entre os bancos e é como se estivesse sozinho nesse carro.

O que mais eu deveria dizer? Implorar para ele falar qualquer coisa?

Era só eu ter mantido minha boca fechada. Mas não, NÃO! Eu tinha que externar essa minha paixão de adolescente! E agora, o cara não sabe nem o que me dizer.

Ele não deve querer me humilhar muito, por isso fica quieto. Deve ter dó de mim. "Alá, a pobre coitada que se iludiu com apenas uma transa".

Quem não teria dó?

Sou digna da maldita pena dele!

É tão difícil ele simplesmente falar que não quer nada comigo, que fui um casinho qualquer, ou sei lá, rir da minha cara?

Se ele fizesse esse tipo de coisa, quem sabe eu sentisse raiva e tomasse jeito. Voltaria para o meu mundo, esqueceria ele e viveria em paz. Para me confundir e me atormentar mais, ele está ali, mudo, mal respira.

O assustei tanto assim? Porra, eu me apaixonei, tá legal?!

Gostaria de ter coragem e ser mais franca. Se eu fosse uma mulher de atitude, o enfrentaria e perguntaria o que ele sente. E se não sente nada, por que me seguiu até o banheiro? Por que me trouxe embora? Ain, ele é muito complicado! Me deixa louca! Nunca sei o que pensa e muito menos o que sente!

Suas declarações no banheiro foram sinceras, ou ele queria me engambelar para conseguir me levar para cama? Está vendo, não tem como saber!

Donga deveria vir com manual de instruções e um aviso grudado na testa: " perigo, não se envolva!".

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora