24 Álcool e amargura

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Eloá,

Não me deixo intimidar pelo Donga e suas gracinhas. Seus olhos abusados focam discretamente no meu decote, mas não se demoram muito para subir até meu rosto.

A reação a esse pequeno gesto emergi pelos meus poros.

- É, eu namorava até ele me trair com minha melhor amiga. - Boto meu melhor sorriso falso no rosto. Mais falso até do que o dele.

Donga acha graça. Ele é um belo de um cretino mesmo. Mas um cretino gato e molhado...

- O cara te traiu? - Ele pergunta subindo as sobrancelhas, rindo da minha desgraça.

- Sim, foi o que eu disse. - Exprimo as palavras na força do ódio.

Posso até imaginar o que ele está pensando: " Você não quis ir adiante comigo e seu namoradinho te meteu um belo par de chifres".

- Saquei... - Donga dobra o lábio inferior em expressão vaga, a cabeça afirmando algo. - Maneiro o casal. Vocês combinam. - aponta para nós, indiferente e com uma pitada de sarcasmo.

A confirmação de que ele não se importa nenhum pouquinho comigo, meio que me afeta.

Samuca se aproxima, e, mais uma vez, me abraça pelo ombro como um cão de guarda.

- Os amigos vão jogar truco daqui a pouco. Tu não se amarra? Cola na banca pra perder, vacilão! - Donga zoa o Samuca, indo até o freezer para buscar uma lata de energético.

- Tô suave... - Samuca direciona seu olhar para mim. - Nunca que vou deixar essa princesa, pra jogar porra de truco... - Resmunga baixinho, exclusivamente para eu ouvir.

Me acanho. Esses elogios me deixam meio boba.

Samuca me puxa pelo pescoço para um beijo, e eu retribuo afetuosa, tocando seu rosto.

É, Donga, mesmo que você não ligue, essa é uma prova do seu próprio veneno.

- Você não vai beber, irmão? - Donga nos atrapalha, despejando o energético em um copo transparente de plástico bem grande, juntando à bebida marrom e ao gelo que já o enchiam pela metade. - Tem um Royal ali; a casa é tua!

Samuca deixa minha boca, o mirando, pegando-me pela cintura. Num abraço, me faz virar de costas para o Donga e com o queixo encostado no meu ombro, conversa com o irmão.

- Já ajeito um copo lá, esquenta não. - Samuca manifesta nessa atitude, seu incômodo com a inconveniência do Donga.

Cadê a mulher da piscina? Por que ele não se manca e volta para ela?

Claro, é bem mais divertido me manter nessa saia justa.

- Tu quem sabe... - nessa deixa, Donga se retira.

Samuca beija meu cabelo e toma distância suficiente para me olhar nos olhos.

- Tudo bem? - Indaga.

- Sim, tudo. Amei essa bebida! - Enfio minha mão com a taça entre nossos corpos, para levar até a boca e despistar.

- Quando finalizar esse ai, faço um de gin com água tônica e energético tropical. É pica também, tu vai gostar! - Ele revela seus dentes perfeitos, em uma feição carinhosa. E eu concordo.

Love no Morro da Liberdade 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora