- “Harry, importaste de responder à minha pergunta, caralho?” –a voz do meu irmão eleva-se enquanto ele fala com o melhor amigo, e o Zayn tira o som da televisão.
- “Zayn…” –o Harry diz desesperadamente, e não consigo perceber se está a avisar ou a pedir ajuda.
- “O Zayn nada. O que é que ele quis dizer com aquela merda? Voltaste a bater em pessoas?”
- “Eu…Eu sim. Uma vez, mas eu tenho uma explicação.”
Mordo o lábio, rezando para que o meu irmão o deixe em paz, porque se estiver a acontecer o que eu estou a pensar, o Niall vai perder a cabeça se não parar agora.
- “Tens uma explicação?”
- “Sim. Eu tenho.”
- “Em quem é que bateste?” –o meu irmão pergunta e Harry e Zayn calam-se, trocando olhares.- “Tu… Oh, não. Por favor diz-me que é mentira!”
Niall atira uma almofada do sofá ao chão com mais força do que eu tenho e Harry fica calado, obviamente com medo do que ele possa fazer. Zayn assiste à cena quieto, e quero dizer-lhe o quão mau ele está a ser com o Harry neste momento.
- “Zayn… Por favor, diz-me que é mentira.”
- “Não, não é.” –o Zayn diz com a voz mais confiante possível.- “Foi o Harry que me espancou.”
Fecho os olhos e aperto as mãos com a revelação do Zayn, e quando volto a abri-los com um barulho, o Harry está deitado no chão e o Niall está em cima dele.
- “Tu tens a noção que a minha mãe pensou que tinha sido eu?” –ele irrita-se enquanto agarra a camisola do Harry e o volta a empurrar para o chão.- “E a Savannah. Merda, a minha irmã desconfiou de mim e provavelmente ainda desconfia!”
- “Niall… Eu apenas queria…”
A frase de Harry é interrompida com um murro de Niall e eu corro para o tirar de cima dele, atirando a minha mala para o chão. O corpo do meu irmão é mais pesado do que pensava e a raiva dele não o quer tirar de cima do Harry.
- “Faz alguma coisa!” –eu grito para o Zayn.
- “Queres que faça o quê? O Harry fez-me o mesmo!”
- “Niall, para!” –eu grito, não tendo tempo para revirar os olhos à atitude desprezível de Zayn.
- “Paro? Mas tu sabes que merda ele fez, por acaso?”
- “Sei, sei e por favor para.” –eu meto-me em frente a ele, quando ele já está em pé.
- “Eu pensava que… Porra, eu pensava que tinha sido um caralho como o Tomlinson. E afinal foste tu, o meu melhor amigo! O melhor amigo dele!”
- “Parem com isto, todos! O que raio se passa com vocês? Vocês são melhores amigos desde sempre e agora apenas vos dá na cabeça para se espancarem uns aos outros?”
- “Tu nunca mudaste!” –Niall volta a gritar.- “Tu continuas o mesmo caralho de sempre, e eu não estou para te aturar mais!”
- “Niall…” –Harry tenta falar, levantando-se também.
O seu lábio está a sangrar, assim como o meu nariz e eu só consigo pedir para que ele se cale, se não o Niall vai-lhe fazer pior.
- “Harry, cala-te!” –eu grito.- “Vai para o meu quarto.”
- “Não, eu tenho de explicar que eu…”
- “Vai para a merda do meu quarto e não saias de lá!”
Harry engole em seco e obedece-me, subindo as escadas. Niall respira fundo vezes contínuas e senta-se no sofá.
- “Merda… O Harry?” –ele pergunta para o Zayn.
- “Ele apenas me mandou mensagem que queria falar comigo a sós e começou a bater-me. Eu não disse nada antes porque… Bem, tu realmente pensaste que ele tinha mudado e tu vês o Harry como um irmão mais novo e eu…”
- “Isto não me entra na cabeça.” –o meu irmão admite e eu concordo com ele.- “Porque é que o Harry faria isso? Ele… Ele é teu melhor amigo. Nós somos todos melhores amigos.”
Zayn olha intensamente para mim e eu só quero gritar com ele e dizer o quão agradecida estou por nós já não sermos amigos, mas não o vou fazer em frente a Niall. Ele ainda está em choque por saber que o Harry espancou o Zayn e eu também. Eu tive estas semanas todas a desconfiar do meu próprio irmão e do meu namorado, quando foi o Harry. Eu conversei com ele mais do que uma vez sobre isto, ele apenas não me poderia dizer que tinha sido ele? Eu teria ficado chateada, mas eu podia ter evitado isto tudo.
- “Vocês deviam ir embora.” –eu finalmente digo.
- “Desculpa?”
- “Deviam ir para casa do Zayn e ficar lá, só voltas amanhã quando estiveres mais calmo.”
- “Para que tu possas tratar dele?” –Niall eleva o tom de voz e levanta-se do sofá.- “O Zayn não teve ninguém para tratar dele, portanto o Harry também não tem de ter, muito menos em nossa casa.”
- “A Gemma e o Eric estão em casa. Talvez prefiras que a Anne e a mãe descubram o que tu lhe fizeste e que o Eric esteja cá em meia hora para te espancar a ti.” –eu falo e Niall suspira.
- “Diz-lhe para não se atrever a dirigir-me a palavra na escola.”
O meu irmão pega no seu telemóvel e nas suas chaves. Veste o seu casaco preto e sai de casa com Zayn. Suspiro e decido ligar a Louis, a ultima coisa que quero é ter uma discussão com ele.
*
- “Olá.” –ele diz animado do outro lado da linha.
- “Hey. Ouve, preciso de falar contigo, mas tem de ser rápido.”
- “Okay…”
- “Ahm, não sei bem como dizer isto porque ainda nem eu própria estou a acreditar, mas…”
- “Hey, calma.” –ele diz num tom compreensivo.- “Que se passa?”
- “Eu cheguei a casa e ouvi uma conversa do meu irmão, do Harry e do Zayn.”
- “O que aconteceu? Eles abusaram? Disseram algo que não deviam?” –ele pergunta rapidamente.
- “Não, eles apenas…” –suspiro.- “O Harry espancou o Zayn e o meu irmão irritou-se a bateu-lhe. Finalmente consegui pô-los fora de casa e agora só sei que tenho o Harry com a cara toda a sangrar no meu quarto e…”
- “Wow. Ok, calma. O Harry espancou o Zayn?”
- “Sim.”
- “Quem diria.” –ele diz num tom sarcástico.
- “Louis.” –eu aviso calmamente.
- “Desculpa. Queres que vá ai ter?”
- “Não, não. Ainda acabas tu mal também, e não quero isso. Só te liguei porque… Bem, não quero que saibas por outras pessoas que o Harry esteve em minha casa sem o Niall cá.”
- “Okay, fico contente por o teres feito. Precisas de ajuda em algo?”
- “Não, obrigada. Apenas queria dizê-lo a alguém porque isto parece ainda mais inacreditável quando o digo em voz alta.”
- “Então… Tu devias ir tratar dele, liga-me quando as coisas acalmarem.”
- “Ok. Adeus, Lou.”
- “Savannah?”
- “Sim?”
- “Se eu e o Harry tivéssemos uma luta, quem acabaria mal era ele, e não eu. Para que conste.” –ele avisa e eu rio baixo.
- “Bom, obrigada pela informação.”
- “Não o deixes abusar, ok?”
- “Lou, ele está a sangrar e abalado por os melhores amigos estarem chateados com ele. Acho que abusar não é o que ele irá fazer agora.”
- “Nunca se sabe. Apenas toma cuidado.”
- “Está bem, adeus.”
- “Adeus.”
*
Suspiro pela milésima vez hoje e guardo o telemóvel no bolso das minhas calças pretas. Eu pensei que o dia já estava a ser complicado demais, e agora ainda piorou. Pego na minha mala que atirei para o chão quando quis separar Niall e Harry e subo as escadas. Abro a porta do meu quarto e Harry está sentado na cadeira de rodas da minha secretária.
Ele tem um lenço de papel amachucado e visivelmente vermelho no nariz e está com cara de quem acabou de ficar na miséria. Bom, e ele, em parte, ficou. Pouso a minha mala em cima da cama e tiro o meu casaco.
- “Vou buscar a caixa de primeiros socorros.” –eu aviso mas ele não tem reação.
Saio do quarto e caminho até à casa de banho principal. Abro um dos armários e retiro a caixa branca com os objetos que necessito. Regresso ao quarto e pego num banco pequeno que se encontra no canto, retirando tudo o que ele tem em cima. Ponho-o em frente à cadeira de Harry e ele vira-se para mim, enquanto eu abro a caixa em cima da minha secretária.
- “Eles estão lá em baixo?” –ele quase sussurra, enquanto eu molho o algodão em água oxigenada.
- “Não, eu mandei-os ir para casa do Zayn.”
Ele assente levemente e estremece quando o algodão faz contacto com o seu lábio aberto. Retiro e sopro ligeiramente para acalmar.
- “Ainda nem acredito que isto aconteceu.” –admito.
- “Desculpa, eu apenas…”
- “Não estou a falar de ti. Quer dizer, em parte sim, mas não na totalidade. Como é que o Zayn apenas te foi capaz de entregar? Ele sabia que iria arranjar problemas e que iria magoar o meu irmão.”
- “Ele queria-se vingar de mim, e eu compreendo, apesar de tudo.”
- “Porque é que o espancaste?” –eu pergunto e ele engole em seco, portanto decido voltar a passar o algodão e desta vez ele fica quieto.- “Quer dizer, tu não deves apenas ter espancado o teu melhor amigo sem motivo.”
- “Eu… Eu fi-lo por uma pessoa.”
- “Quem?”
- “Bem… Tu.” –ele sussurra e eu afasto o algodão, olhando-o confusa.
- “Eu?”
- “Sim. O teu irmão ia espancá-lo se não tivesse sido eu e eu apenas não queria que tu passasses por isso. E vá lá, já toda a gente está habituado a eu ser um merdas, mas o Niall não o é, apesar de não ter as melhores atitudes.”
- “Harry, eu…”
- “Eu prometi-te que o teu irmão não ia fazer nada estúpido naquele dia e ele não o fez. Se para isso eu tive de espancar o Zayn não interessa.”
- “Tu não precisavas.” –eu digo, enquanto pouso o algodão na secretária.
- “Eu sei, mas eu quis. Sei que não é desculpa para o que fiz e eu não estou a pensar que me vais perdoar, ou ele. Aliás, nem era suposto nenhum de vocês saber que eu o espanquei, mas pronto.”
- “Não te tenho de perdoar nada.”
- “Tu não estás chateada por… Tu sabes, eu nunca te ter dito quando me vieste falar disso? Eu sabia que tu desconfiavas do teu namorado e do teu irmão e não fiz nada.”
Inúmeras memórias sobre as minhas conversas com o Harry passam na minha cabeça num espaço de segundos.
“Então foi porque não o fez.”
“Eu disse-te que o teu irmão não ia tocar no Zayn. E eu garanto-te que ele não o fez, estive com ele o tempo todo.”
“O Louis apenas não parece um rapaz que espanca outros.”
Eu não o posso acusar de nada. Ele sabia que eu desconfiava do Niall e do Louis, mas ele sempre me disse que nenhum deles o tinha feito. Eu não podia obriga-lo a contar-me que tinha sido ele. Eu só não vi o que não quis, tive sempre tudo debaixo do meu nariz. Eu desconfiei logo quando ele defendeu o Louis, mas nunca me passou pela cabeça que tivesse sido ele.
- “Tu sempre me disseste que não tinha sido nenhum deles.”
- “Bom, eu sou um caralho, mas não o suficiente para te fazer acreditar que o teu irmão ou o teu namorado tinham feito algo que eu fiz. Apesar de eu querer, mais que tudo, que tu e o Louis acabem.”
Eu dou um sorriso fraco e ele suspira.
- “Harry, o que é que ele quis dizer com a coisa de tu nunca teres mudado?” –eu atrevo-me a perguntar e ele muda de expressão, endireitando-se na cadeira de forma tensa.
- “Tu também ouviste essa parte?”
- “Sim.”
Decido não o pressionar com o olhar portanto decido enrolar uma bola de algodão.
- “Bom… Eu já bati em pessoas antes.”
- “Em quem?”
- “Num amigo da Gemma, o Carl, lembraste?”
- “Foste tu?” –eu pergunto admirada, quando a pobre imagem do rapaz loiro cheio de cicatrizes me vem à cabeça.
- “Sim, a minha irmã disse que gostava dele e ele humilhou-a à frente do vosso colégio. Porra, eu sei que não sou o melhor irmão do mundo e que não tenho moral para falar porque provavelmente também já humilhei muitas raparigas, mas é a Gemma. Como é que alguém lhe pode fazer algo tão cruel? Ela pode ter 19 anos mas porra, ela não merece nada disso. Eu sou o único que a posso humilhar, mais ninguém. Muito menos um gajo que tem a mania que é esperto.”
Eu liberto um sorriso com a confissão do Harry. Ele pode ser violento, e estupido a maior parte do tempo, anormal e talvez um pouco nojento; mas ele só quer o bem dos outros. Ele espancou o Carl porque ele humilhou a Gemma em frente à escola, e espancou o Zayn para eu não sofrer por ter sido o meu irmão a fazê-lo. Ele pode não ter tido as melhores atitudes, mas ele deu o seu melhor, à maneira dele mas deu. E a única coisa que recebe em troca é um murro do melhor amigo.
- “O Carl era um cabrão.” –eu suavizo o ambiente, enquanto lhe ponho a bola de algodão no nariz e ele solta uma gargalhada.
- “Quem diria que a Savannah Horan sabia esse tipo de palavreado.” –ele usa a ironia e eu deito-lhe a língua de fora.- “Depois espanquei um rapaz da minha turma no 10º ano.”
- “O que aconteceu?”
- “Ele roubou-me a rapariga com quem eu andava a curtir.”
- “A sério?” –reviro os olhos.- “Ela deve ter arranjado alguém melhor.”
- “Não tenho dúvidas disso, mas ele podia ter esperado até eu ter acabado de comê-la.”
- “Não tiveste razão dessa vez.”
- “Eu sei. E foi aí que o teu irmão se apercebeu de quão mal eu estava. Eu sempre fui um irmão mais novo para ele, portanto ele ajudou-me a deixar de bater nas pessoas à mínima coisa. E eu consegui, na verdade, há 9 meses que não batia em ninguém.”
- “E depois aconteceu o Zayn.”
- “O quão doentio eu sou? Porra, eu espanquei o meu melhor amigo.” –ele abana a cabeça negativamente.- “Estou tão fodido, o teu irmão nunca me vai perdoar.”
- “Hey, calma. Não penses assim, o Niall adora-te como um irmão, tal como tu disseste. Assim que lhe explicares o que me explicaste a mim, ele perdoa-te.”
- “Ele não me vai ouvir.”
- “Eu falo com ele, está bem? Apenas não lhe fales na escola, vai ser pior para ti e para ele.”
- “Está bem, obrigado.” –ele agradece com um ligeiro sorriso.
- “Obrigada por teres espancado o Zayn.” –eu digo e isto soa pior do que esperei, portanto desmanchamo-nos em risos.- “Bom, pela tua intenção ao fazê-lo.”
- “Tu e o teu irmão já têm demasiados problemas, não merecem mais um.”
- “Então, a Gemma nunca me tinha contado que tinhas espancado o Carl.”
- “Ela não sabe.”
- “Como?” –eu pergunto.
- “Eu disse que se ele contasse alguém, eu faria pior.”
- “Bom, ela pensa que tu nunca farias algo assim por ela. Devias dizer-lhe.”
- “Ela não tem de saber. Eu preocupo-me com ela e vou partir a cara a cada otário que lhe partir o coração, mas ela não tem de o saber. Ela apenas precisa de ter conhecimento que o cabrão que se atreveu a fazê-la sofrer, também sofreu.”
- “Tu adora-la.”
- “Não lhe digas isso, ela fica convencida.” –ele diz baixinho e eu rio.
Tudo o que consigo pensar neste momento é em quanto eu gostava de ter esta relação com o Niall.
- “O Niall também vai partir a cara a quem te magoar.” –ele diz-me, como se me tivesse lido os pensamentos.- “Incluindo o Tomlinson.”
- “Se o Niall alguma vez bater no Louis, é porque eles se odeiam.”
- “Tu estás acima de qualquer ódio. Acho que és a única que não consegue ver isso.”
- “Porque dizes isso?”
- “Porque achas que o teu irmão anda sempre preocupado contigo e com o Louis? E lembraste quando ele se acusou quando tu faltaste às aulas, para a tua mãe não se chatear contigo? Lembraste quando ele te disse que te adorava? Ou até mesmo quando ele te apoiou quando ficaste chateada com o Liam. São mínimas coisas, são merdas pequenas que passam despercebidas por qualquer um, mas é a forma do teu irmão te dizer o quanto gosta de ti. E tu tens de aproveitar todos esses momentos, por mais curtos, pequenos ou insignificantes que eles sejam.”
Eu dou um sorriso fraco e o meu primeiro instinto e atirar-me para os seus braços, enquanto ele me aperta contra o seu peito. Eu só consigo pensar que este estúpido, que pensa em quantas mulheres o Henrique VIII teve, também é o doce que protege a irmã de tudo e que me protegeu do meu irmão e das suas atitudes monstruosas. E eu não poderia estar mais grata por ter um amigo como ele.
Olá meninas!! Consegui publicar um hoje, o que acham do capítulo? Estavam à espera que tivesse sido o Harry? E que ele fizesse estas revelações à Savannah e se abrisse com ela desta maneira? Comentem a dar a vossa opinião, beijinhos!