São todos maus descobridores, os que pensam que não há terra quando conseguem ver apenas o mar.
- Francis Bacon
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Louíse
Uma mesa enorme prostrada no centro de uma sala feita de raízes de árvore e cinzas das antigas pilastras. Cadeiras enormes rodeavam-na e pareciam ter nascido da prata, esculpidas por um ferreiro experiente e detalhista. Mas aquilo havia se levantado não tinha nem uma hora, e tudo havia saído da cabeça dela, como se sempre estivesse estado ali.
Nós entramos em silencio, com as botas batendo no chão e as espadas tilintando nos alforges, ansiosos para decidirmos o destino da guerra, prontos para acabar com aquilo e viver uma era de paz.
Lynn nos liderou até a mesa e fez sinal para que todos ocupassem seus lugares, ela parecia outra pessoa com uma coroa em sua cabeça, ressaltando seus cabelos vermelhos, trazendo postura e altivez a uma mulher que sempre sofreu nas vilas podres de Ermont.
- Fique ao meu lado - ela pediu, olhando para mim com gratidão - você irá liderar essa reunião, Lou. É a sua vez.
Lynn sentou na ponta da mesa e eu sentei a sua direita, Kian ocupou o lugar a minha frente, e Arth sentou ao seu lado, assim como Calum ficou do meu, e os outros foram achando seus lugares.
Estavam todos ali, Annabel, Viseu, Blahz, Dimitri, Calel, Carl e alguns dos líderes rebeldes e nomes importantes da tripulação de Dimitri.
- Não preciso manter a cortesia quando sei que vocês me viram de baixo, não vou ser hipócrita e dar ordens porque estou com uma coroa na cabeça. Eu devo ser rainha e me impor como uma, mas não me olhem como se fosse conseguir isso sozinha. Qualquer informação pode virar estratégia, tudo o que tiverem, exponham. - Lynn estava firme e já falava como uma rainha, mesmo ela achando o contrário.
- Dimitri - Kian o chamou e fez um leve aceno na cabeça para que ele começasse a falar.
- Como alguns aqui sabem, passei uma grande temporada em terra firme, fingindo estar na corte de Hazor conspirando a favor dele, o que claro, estava fazendo o contrário. Alguns aliados de Hazor estão do nosso lado, todos marinheiros, e com uma grande tripulação. Eu imagino que algumas centenas de embarcações estejam a caminho de Ghalan agora, e nós temos um ataque surpresa, provavelmente em meio a alto-mar. Trinta e sete dos navios são nossos, não é a maioria mas dá para fazer um estrago.
- As vezes me esqueço que estão planejando uma guerra há mais anos do que posso contar - disse Lynn, com um sorriso quase igual ao que Kian faz quando está sendo sarcástico - E você, Blazh?
- Temos milhares em Terra. Criamos grupos rebeldes nas três cortes, a maioria vivia na Fenda por proteção, os outros faziam parte das cortes, vilas, florestas e em toda Keevard. Com os portais abertos para Ghalan, conseguimos trazer mais da metade, o restante já esta a caminho de atravessar para cá. Todos treinados, estamos arrastando e construindo catapultas, há todo tipo de suprimento e armamento também. Estamos prontos em terra e mar.
- E nos céus - disse Kian - As Harpias acordaram, elas lutaram ao lado dos grifos, assim comos as Fênix e Quimeras. Conseguimos colocar lanças no céu pelas garras dele, assim como os bicos de minhas feras conseguem ser armas naturais.
- Conseguimos atacá-los assim que os vimos na praia? Assim conseguimos desestabilizá-los, certo? - Lynn me questionava, e pecebia meu silencio até o momento.
- Tem mais um coisa - disse Arth, um pouco tenso - Tisan me mandou uma mensagem.
- Tisan? - Lynn estava com os olhos arregalados agora - Ele está...
- Do nosso lado agora - disse Kian, para tranquilizá-la.
- Sim, nosso irmão voltou, depois de muito tempo. Está preso no navio de Hazor sem poder ver janelas e a luz. Ele está preso e eles mantem seus olhos vendados, para que seus sentidos não sejam acordados. Ele está fraco, mas conseguiu se comunicar. Temos uma ligação, Lynn, os Hewyr, conseguimos falar uns com os outros através de nossa ligação de sangue, por isso sempre nos encontramos - disse Arth.
- Por isso sempre evitavam estar a vistas por Ermont - disse Lynn - se Tisan visse vocês enquanto estava enfeitiçado...
- Ele nos entregaria, ele podia nos sentir ainda, mas estava sendo controlado.
- Entendo - disse ela, com um tom entristecido.
- O ponto é que ele fez um acordo com Hazor. Em troca de entregar nossa localização, Hazor jurou que nunca mais controlaria nenhuma criatura viva através da magia negra. Tisan queria deixá-lo furioso, atordoado e sem escolhas. Ele caiu na armadilha.
- Que armadilha? - Lynn perguntou.
- Precisamos do livro negro longe dele, no meio do juramento e da raiva, Hazor deixou o Livro as vistas de Kira. Ela está com ele agora.
Pude sentir Carl congelando ao meu lado. Seus olhos vidraram em Lynn, e ambos tinham feições indecifráveis, o medo falava por ambos.
- Não - sussurrou Lynn, colocando as mãos na cabeça como se estivesse derrotada.
- Precisamos dela no controle da magia para que Hazor caia. Ele está protegido por isso e não morrerá se não for pela própria magia negra - Continuou Arth.
- O problema, Arthur, é que Kira é a pessoa quem Eidolom sempre quis para poder possuir. Agora ele a tem - Calum tinha os olhos azuis em fúria, e sua mãos tremiam de raiva.
- Isso tinha que acontecer - Kian tocou as mão de Lynn com cuidado para que ela tentasse entender - Se Eidolom queria Kira, então agora ele está livre do mundo dele, e se ele está na superfície agora, pode ser morto. Não entende, Lynn? Isso pode acabar uma vez por todas. Destruir Hazor e Eidolom.
- E Kira é um bônus? - Calum perguntou, frio.
- Não podemos salvar sua irmã se ela não quiser ser salva, Calum. - Arth estava sem expressão nenhuma, típico de seu dom das sombras, onde ele nunca revelava o que se passava naquela cabeça.
- Deem uma chance para ela viver - pediu ele, com clemência.
- Ela não teve compaixão ao tirar a vida de Agnes - Carl se pronunciou, fuzilando Calum com os olhos, e com motivos.
Ele então se manteve calado. Eu podia entender o amor pela irmã, mas também entendia a importância da guerra, e vencer era a única coisa que precisávamos naquele momento.
Quando notei que todos estavam tensos demais para falar, levantei-me e joguei o mapa de Keevard aberto no centro da mesa para que todos prestassem atenção. Aquela não era a hora de decidir que morreria ou não, além de Hazor e Eidolom, era a hora de se preparar.
- Hazor deve estar há alguns dias de Ghalan, bem aqui - apontei para um ponto específico do mar - eu estipulo uns trezentos navios ou mais, já vi o exército dele, poderia cobrir Ermont se colocasse aqueles homens em marcha. Temos o suficiente para acabar com eles em terra, mas quero o ataque surpresa pelo mar, com navios de Dimitri. Vamos reunir o resto da tropa e atacar quando eles chegarem aqui - apontei exatamente para onde havíamos sido atacadas pelas sereias, o ponto onde a magia cruzava o mar.
- Lou, sabe o que está fazendo? - perguntou Carl - atacá-los pelo mar? Teríamos que ter mais uns trezentos navios também e eles nos veriam chegando há quilometros de distância, além de perdemos a ajuda das feras de Kian.
Tentei controlar o sorriso pela mente pequena dos homens em pensar nas batalhas. Olhei para Lynn do centro da sala, que estava com os olhos semicerrados, e para Kian que já havia entendido meu plano.
- Não precisamos de trezentos navios, Carl. - Disse Kian, agora encarando Lynn.
- E não seremos vistos - completou ela.
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Tenho tantas desculpas para pedir pela demora. Espero que vocês me perdoem por tanto tempo sem postar!
Mas a vida realmente anda uma loucura, fora a rotina e obrigações. Espero que não estejam tão chateados.
Agradeço imensamente aos que continuam comigo e com essa história❤️
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Depois das Chamas
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