Depois das Chamas - Livro 1

By _camsbraga

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Sete mil anos atrás, uma grande guerra devastou Keevard e destruiu o trono do Primeiro Rei, o poderoso Darius... More

Apresentação e Book Trailer
A Canção dos Vetustos
Prólogo
01 - A Ti Voltará Outra Vez
02 - Pela Espada de Seu Sangue
03 - O Veneno em Sua Alma
04 - É Preciso Ter o Caos
05 - O Guardião
06 - O Verme e a Faísca
07 - Infinita União
08 - Do Atrito vem as Chamas
09 - Abismo
10 - Ligação Sob a Areia
11 - Nosso Acordo
12 - A Fenda dos Hewyr
13 - Pálidos Reis
14 - Desertor do Sangue
15 - Não Cair Sem Lutar
16 - Primeiro Passo ao Mar
17 - Combata Poder com Poder
18 - Traga Misac de Volta às Suas Feras
19 - O Cavaleiro e seu Amado
20 - O Primeiro Desafio
21 - Aquele Mais Antigo
22 - Jure Com Seu Sangue
23 - As Lembranças daquela Luz
24 - O Horizonte no Fim do Mar
25 - O Canto das Sereias
26 - Enquanto a Alma Pulsa
27 - Objeto de Esperança
28 - Clame seu Poder
29 - Quando a Lua Uivar
30 - Pequena Lynn
31 - Janela Sobre o Mar
32 - Os Olhos do Amanhecer
33 - Deixe Queimar
34 - Toda a Tua Noite
35 - O Segredo de Vizeu - Parte I
36 - O Segredo de Vizeu - Parte II
37 - Através do Espelho
38 - Filha de Todas as Terras
39 - Conte Sua História - Parte I
40 - Conte Sua História - Parte II
41 - Antes de Desaparecer
42 - As Últimas Instruções
44 - O Toque da Luz
45 - Tecido das Sombras
46 - A Dor da Perda
47 - O Mundo Sombrio
48 - Levantem-se
49 - Cavaleiro Dourado
50 - Colinas Uivantes
51 - Reinado de Cinzas
52 - Tragos de Luz
53 - Sele seu Destino
54 - Erga-se
55 - O Conselho
56 - O Mar Negro - Parte I
57 - O Mar Negro - Parte II
58 - O Mar Negro - Parte III
Agradecimentos e Playlist
Canção da Guerra
Notas Finais

43 - O Covil da Serpente

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By _camsbraga

Chamas selvagens e ferozes outros carnívoros, os tigres, os leões e as serpentes, enquanto manchas no sangue as tuas mãos e em espécie alguma de barbárie lhes ficas inferior. E para eles, todavia, o assassínio é apenas o meio de se sustentarem; para ti, é uma lascívia supérflua.

- Plutarco

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Kian

O cheiro de terra molhada era evidente naquela parte da caverna. A única luz que nos guiava era a tocha em minhas mãos enquanto o fogo bruxuleava na escuridão que se estendia por alguns metros.

O silêncio profundo era um incômodo, um inimigo que nos conduzia para uma armadilha mortal.

Vizeu e eu andamos por alguns minutos sem nos importamos em tentar uma comunicação. Ambos não se sentiam confortáveis com aquela situação nem com a presença um do outro.

Mas poderíamos ter tentado sermos um pouco cortês, se soubéssemos o que estava por vir.

Começou com um chiado baixo, vindo do que parecia ser o fundo da caverna. Era um barulho estranho, como se algo estivesse se arrastando. Dava para ouvir pequenas pedras rolando no chão e areais sendo mexidas. Quanto mais nos aproximávamos, mais intenso o barulho ficava, e os sons se tornavam um pouco mais claros.

No fim do corredor havia uma porta de madeira gasta, onde escorria um líquido vermelho por entre as rachaduras que se encontravam em suas extremidades. Vizeu passou os dedos por aquele fluido, e confirmou o que eu já desconfiava.

- Sangue - disse ele, com a expressão dura.

Atrás daquela porta poderíamos encontrar nossa morte, e não tínhamos outra escolha, senão caminharmos direto para ela.

Sem pensar muito no assunto, dobrei a maçaneta e empurrei aquele pedaço de madeira com força.

Três corpos estavam empilhados no batente, o sangue, ainda fresco, escorria em fluxo contínuo, saindo diretamente de feridas grotescas. Algo grande tinha rasgado aquelas peles e feito um estrago tão terrível que era difícil de olhar.

Olhei para frente e percebi que estava em algum lugar externo. Aquela caverna, de alguma forma, também era um passagem para algum lugar.

- Estamos no Covil da Serpente - Vizeu mantinha suas mãos na bainha da espada, os olhos vasculharam os arredores e sua preocupação era evidente.

O Covil da Serpente, como Vizeu nomeou, era uma arena circular gigantesca rodeada por paredes de aço maciço de mais ou menos uns vinte metros.

Atrás da parede, era possível ver alguns assentos, como se fosse uma arquibancada, que no momento estava vazia.

A arena continha algumas paredes cheias de estacas em seu centro, onde corpos estavam estatelados e cravados, também havia muita lama no chão e certos lugares continham areia, além de outros objetos espalhados em toda a sua extensão.

No fundo da arena, era possível discernir um grande buraco próximo ao chão, onde parecia ser o lar de algo cruel, e a criatura responsável por tantos corpos apodrecendo naquele lugar.

Eu já sabia que lugar era aquele. Arthur já havia se infiltrado na Corte de Hazor várias vezes para poder entender e mapear os arredores do Castelo.

Aquele lugar era a diversão que Hazor criara para as pessoas que veneravam seu reinado. Era uma arena para ser usada como "jogos de caça".

O lugar era usado como uma punição para mestiços pegos fora de seu "território", aqueles que ousavam sair das vilas para xeretar a cidadela.

Sua punição?

Tentar matar uma criatura que vivia naquele buraco e que saia assim que sentia cheiro de sangue novo. Um criatura que vivia com fome e que se deliciava com carne humana.

Ninguém jamais saiu vivo daquela arena.

Um lugar perfeito para esconder uma jóia. Um livro.

O barulho de areia se movendo retornou a nossos ouvidos. À direita daquela arena, algo estava saindo do solo de forma lenta e quase preguiçosa. Um som engasgado começou a invadir o ar, e toda esperança que tive de passar despercebido por qualquer monstro, morreu em minhas entranhas.

A criatura que saiu das areias era diferente de qualquer fera que eu já havia visto em minha vida inteira, apesar de eu mesmo controlar todas elas. Mas aquela em específico, não pertencia a Deusa da Lua.

A criatura se assemelhava a um escorpião gigantesco, devia ter uns seis metros de altura, suas escamas eram pretas e as oito garras que desciam daquela besta poderiam atravessar qualquer corpo com apenas uma tentativa. Além da cauda longa, que continha estacas por toda sua extensão.

Estar perto daquela coisa sem morrer era praticamente impossível, mas eu havia passado por coisa pior.

- Qual é o plano? - Vizeu perguntou, quando a criatura se virou para nós, sentindo nosso cheiro de sangue fresco.

- Se lembra de um treinamento imposto por Neale, onde ela separou duplas para imobilizar uma de minhas feras?

- Você acha que dá para imobilizar aquilo, Misac?

Como em resposta, a criatura rugiu para nós e seu grito fez um estrago em meus tímpanos, que começaram a apitar na hora.

Ela era poderosa. Poderia deixar alguém despreparado extremamente tonto só pelo som agudo de seu rugido.

- Meu nome agora é Kian - avisei Vizeu - Dá pra matá-lo se levarmos a criatura para as paredes de estaca, está vendo? - Vizeu assentiu.

- Mas podemos dar meia volta, por acaso ainda não vi onde o Livro poderia estar escondido.

- Na caverna - apontei para o buraco próximo ao chão que ficava no fundo da arena - É onde provavelmente a criatura dorme. Um tesouro guardado por uma besta, não é óbvio?

- Infelizmente sim.

- Apenas lembre-se do treinamento. Mantenha-se longe da criatura e próximo às paredes ou qualquer objeto que possa te proteger.

Vizeu pegou sua espada e um chicote que mantinha preso em seu boldrié, enquanto eu também sacava minha lâmina e algumas estacas. Mas eu já mirava outra arma um pouco à frente. Havia uma alabarda jogada na lama, parecia estar sorrindo para mim e eu não poderia ignorá-la.

Com outro rugido estrondoso, a criatura avançou para nos atacar. Vizeu correu para a esquerda da arena, enquanto me dirigi para a direita. A criatura resolveu que eu seria seu primeiro jantar, e veio em minha direção com os dentes à mostra.

Consegui um pouco mais de velocidade e mirei uma de minhas estacas no olho esquerdo da criatura enquanto corria. Quando ela estava perto o suficiente, lancei a pequena faca e deslizei para baixo do escorpião. Ele estava exatamente acima da alabarda.

E quando a estaca acertou o olho da criatura, peguei a segunda arma jogada na lama e arrastei a lâmina em sua barriga enquanto continuava a correr.

Seu grito de dor foi insuportável, e ver o líquido verde que saia daquele corpo foi uma imagem terrível. O cheiro daquele lugar tinha conseguido ficar pior depois da explosão de sangue.

Mas isso não parou aquela besta, e não esperei que ela se recuperasse para continuar correndo. Vizeu estava quase alcançando o fim da arena quando outra criatura saiu daquele buraco medonho.

Dessa vez eu parei em meio a lama e era como se meus pés tivessem se tornado chumbo. A criatura que saíra daquele lugar era uma serpente gigantesca. Ela tinha duas cabeças e cada uma delas continha três fileiras de dentes afiados e mortais, além de quatro metros de pura escama. Aquela criatura era tão familiar a mim quanto o poder em minhas veias. Mas ao invés dos olhos dourados que ela costumava ter, tinha uma íris negra e sombria.

Aquela fera era minha.

E Hazor a impregnou de magia negra.

Ódio era a única coisa que eu conseguia sentir na hora, e meu sentido de batalha havia ficado ainda mais agudo.

- VIZEU - Gritei desesperado - CORRA!

Disparei novamente diretamente para Rizia e Gwyn. Minhas serpentes, minhas amigas. Possuídas agora para servir a Hazor, aquele maldito.

Enquanto eu alcançava o centro da arena, Vizeu corria de volta para onde eu estava. A serpente vinha atrás dele, enquanto o escorpião voltava a correr atrás de mim. Estávamos cercados se continuássemos nessa direção, e Vizeu pareceu notar a mesma coisa, porque ao mesmo tempo ele seguiu para a esquerda, atraindo a serpente para a parede de estacas, enquanto eu virava a direita, em direção à algumas pedras grandes e circulares.

Quando cheguei perto daquelas rochas, o escorpião estava na minha cola, um pouco mais lento por causa do ferimento na barriga, mas ainda assim com oito patas gigantescas.

Quando pulei no centro das pedras, a cauda do escorpião acertou algumas delas, fazendo-as partir, e voarem para todo os lados. Corri diretamente para perto de outras pedras mais fortes e altas, quando o segundo ataque daquela cauda passou raspando em minhas costas.

Senti alguns arranhões rasgando minha pele, mas nada que me distraísse, Pois a criatura havia prendido a cauda entre as pedras. As estacas de sua cauda estavam fincadas na rocha, me dando vantagem para acertar uma outra faca em seu único olho bom.

Outro rugido irrompeu o ar quando deixei aquela besta cega.

Minha desvantagem foi deixá-la zangada. Como não enxergava, ela começou a cortar o ar com suas garras, em uma velocidade mortal. Me protegi por entre as pedras enquanto aquelas garras penetravam o vazio insanamente tentando encontrar seu alvo.

Enquanto estava abaixado, tentava pensar em uma saída sem ser mutilado. Por enquanto eu não havia escutado nenhum grito humano, sinal que Vizeu estava se saindo bem com a serpente. Mas não por muito tempo, dado a inteligência daquela criatura.

Então um líquido verde chegou até meus pés e ousei olhar para o escorpião. Ele ainda sangrava muito, felizmente o corte que fiz em sua barriga tinha sido profundo. Dentro de alguns minutos a criatura ficaria fraca, e a morte dela era a única certeza que eu poderia ter.

A besta então parou, tentado rastrear meu cheiro ou qualquer barulho que eu pudesse fazer. A minha única saída era passar por baixo de suas garras ou por cima, decepando sua cabeça.

Ela não sabia onde eu estava, mas estava atenta.

Lentamente, peguei o sangue no chão e comecei a me cobrir dele, mascarando meu cheiro. Me inundei na imundice daquele sangue, mas não exitei. Quando estava totalmente coberto comecei a caminhar sem nenhum ruído.

Escalei as rochas e fiquei cada vez mais perto da cabeça do escorpião, enquanto ele usava o olfato para me rastrear. Sua cauda continuava presa, e a cada minuto ele perdia ainda mais suas habilidades.

Quando alcancei a rocha mais alta, pude ver toda a extensão da arena, e um Vizeu também encurralado pela serpente, enquanto sangue escorria de sua perna.

Eu tinha uma ideia, só esperava que Gwyn e Rizia ainda me ouvissem, mesmo estando fora de si.

Não ensinei a vocês atacarem aliados.

Isso foi suficiente para atrair a atenção da serpente de duas cabeças para minha direção, e sorri para eles enquanto sacava minha espada da bainha e pulava de uma distância de sete metros, colocando a espada em minha frente em uma velocidade precisa para decapitar o escorpião com um único golpe.

A criatura caiu pesadamente no chão, e rolei ao seu lado, sentindo uma dor forte no ombro com o impacto. Nada que já não tivesse feito antes.

A voz de Lynn irrompeu meus pensamentos, como uma cura para minha mente.

Ainda está vivo?

Não vai se livrar de mim tão fácil.

Ouvir sua risada preencheu meu coração e me deu as forças que eu precisava para levantar e caminhar diretamente para enfrentar uma de minhas próprias feras.

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Depois das Chamas

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