Em todos os poemas há lobos, exceto em um. O mais lindo de todos: Ela dança num anel de fogo e rejeita o desafio com um encolher de ombros.
- Jim Morrison
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Lynn
- E agora, qual será o próximo passo?
Dimitri mantinha os olhos fixos em mim depois que contei à ele sobre a passagem nas cavernas. Havia pontos brilhantes naquelas íris cinzentas, escondendo uma esperança profunda.
Calel não estava tão diferente, mas algo me dizia que metade daquela nova vida em seu olhar não se dava apenas por causa de nossa nova oportunidade de derrotar Hazor, mas algo mais íntimo, voltado à mim. Eu precisava ter uma conversa franca com ele.
Já Kian não havia dito nada desde que começamos aquela reunião simbólica em um canto da praia. Ele se mantinha impassível, sua postura demonstrava tensão e as vezes eu captava um pouco de angústia em sua expressão. Me peguei tentada a entrar em sua mente e ler seus pensamentos, mas havia feito uma promessa de nunca invadir sua privacidade com esse tipo de coisa, e eu cumpriria.
- Precisamos voltar ao castelo. As cavernas ficam no fundo de um imenso precipício, posso entrar lá e ver se realmente são passagens, depois pensamos em como fazer para atravessar à todos quando a hora chegar - disse, um tanto ansiosa para explorar aquelas cavernas.
Dimitri coçou o queixo e fez uma careta um tanto desgostoso.
- Como vamos atravessar esse mato com aquelas criaturas à espreita? - ele estava tenso em colocar seus marujos em perigo novamente.
- O grifo e o lobo parece que se recusam a nos deixar - olhei para aquelas criaturas belíssimas, que se mantinham neutras e pareciam se divertir com o movimento das pessoas na praia - acredito que eles serão proteção suficiente.
- Não tenho dúvidas - disse Arth, dando um leve sorriso, quase imperceptível enquanto olhava Kian de relance.
Louíse, por sua vez, encarava o chão e parecia preocupada. Um leve tremor em suas mãos me fez encará-la com um pouco mais de atenção. Ela era a mulher mais corajosa que eu havia conhecido, sua reação me deixou um tanto preocupada.
- Metade dos rebeldes estão em Ermont, Lynn - continuou Arth - e muitos deles estão espalhados pelos outros dois reinos. Se essas cavernas realmente nos atravessar por Keevard, então será fácil organizar um ataque em conjunto. Temos números, armas, estratégias e feras.
Como se pudesse ter nos escutado, o lobo uivou alto acompanhado de um grito feroz do grifo. Eles pareciam estar se exibindo, o que me fez sorrir em gratidão.
Em cinco longas passadas o grande predador estava diante de nós e enfiou o focinho no pescoço de Kian, fazendo-o se assustar com o gesto.
Após toda a confusão do castelo, notei que a fera tinha uma afeição especial por meu guardião, como se quisesse protegê-lo. Havia uma amizade se formando entre eles.
- Li todas as histórias dessas criaturas durante muitos anos - Calel tentou se aproximar do lobo, mas recebeu um rosnado baixo em troca, fazendo-o recuar. Notei Kian esboçando um sorriso sutil - provavelmente há mais seis deles espalhados por aí, mas de acordo com as características, a pelagem branca, os olhos amarelos... bem, acredito que essa seja Safira.
Arregalei os olhos.
- É menina?
- Fêmea - Kian, Lou e Arth disseram em uníssono. Fazendo-os dar risada.
Safira deitou como se achasse nossa conversa tediosa. Ela era enorme, deveria ter quatro metros de altura e uns seis de largura, assim como o Grifo.
- Podiam ter me dito antes - olhei para Lou em total surpresa.
- Achei que era óbvio Lynn já que ela não possuí...
- Okay, acredito que essa não seja a questão mais importante nessa conversa - Arth cortou Lou com uma expressão divertida enquanto se aproximava de mim - a questão é, com todas essas informações, o que você planeja fazer, Lynn? Seguiremos você independente de sua escolha.
Eles novamente me ofereciam escolhas, nunca obrigações. E isso era extremamente confotável.
- Descer as cavernas e explorá-las - respondi.
Era óbvio e o mais correto a ser feito.
- Não pode ir sozinha, é muito perigoso. Eu vou com você - Calel estava brincando com a areia em seus dedos, e não viu quando um caranguejo saiu de seu esconderijo e beliscou seu dedo. Era a primeira vez que o via praguejar diversos palavrões enquanto balançava as mãos.
- Não acredito que ela possa ser protegida por alguém que mal nota um caranguejo se aproximar - Kian ainda estava com a expressão dura, eu jamais havia o visto daquele jeito tão agressivo - E aliás, ela já possui um guardião para ajudá-la. Essa função não é sua, Calel. Lynn é minha responsabilidade.
Os dois se encaram com fúria, enquanto meu coração retumbava em agonia e frustração.
- Pare com isso, os dois! - Lou falou por mim, como se soubesse que eu era incapaz de reagir aquela tensão inapropriada, seria capaz de xingá-los ali mesmo. - Não quero ver nenhum de vocês chegando perto dela agora. Eu mesma farei isso.
- Louíse... - Kian ia contestar, suas sombrancelhas formaram um V em reprovação.
- Chega, Kian. Está decidido.
- Ah mas não está mesmo - ele a olhou com incredulidade - Lynn não irá sair de minha vista enquanto estivermos naquele maldito castelo.
- E por que não? - contestei, com os queixos levantados, desafiando-o.
- Porque você tem o péssimo hábito de pular dos lugares quando menos esperamos, e isso está me deixando maluco - ele tinha um certo desespero na voz. Por um instante vislumbrei um divertimento naqueles olhos dourados, mas em instantes ele endureceu sua expressão novamente.
Ele tinha um pouco de razão, eu realmente estava fazendo isso, o que ela loucura até para mim.
- Jovens... - escutei Dimitri balbuciar - não quero saber quem vai com quem nessas cavernas, estamos perdendo tempo aqui. Juntem as provisões e as barracas de uma vez. Vamos pra esse castelo amaldiçoado de uma vez.
Com isso ele passou por nós, seguido por Calel, Lou e Arth.
Kian e eu não demos passo algum. Ele ainda me encarava com um certo incômodo e isso estava, de alguma forma, acabando comigo.
- Me permita desempenhar a função que me foi dada, Lynn. Deixe-me protegê-la, já que isso é a única coisa que nos liga.
Aquilo doeu mais do que deveria, e eu não gostei nenhum pouco da sensação.
- Achei que fossemos amigos e que isso nos ligava. Não só sua responsabilidade, como você mesmo quis apontar. - confessei, minha voz falhou um pouco e cerrei os punhos com minha fraqueza.
Kian fechou os olhos e sorriu enquanto passava a mão nos cabelos, desgrenhando-os ainda mais. Achei ter ouvido ele sussurrar "pela deusa, de novo não".
- Não estou te entendendo Kian, muito menos suas atitudes.
- Lynn, precisamos conversar...
- Vão ficar aí parados esperando mais o que? - Dimitri estava impaciente aquele dia, seu olhar sobre nós era duro e reprovador.
Afastei-me de Kian para começar a recolher minhas coisas, e Safira me seguiu, como se pudesse notar que eu não estava bem.
Me sentia perdida e confusa. Mas colocaria isso de lado, havia coisas mais importantes a se pensar e fazer.
Dentro de algumas horas eu estaria dando mais um passo para acabar com aqueles reinos mentirosos.
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Depois das Chamas
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