Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 60

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By MihBrandao

Thomas narrando:

Quando eu era criança gostava de escutar os conselhos que Stephan me dava, embora raramente seguisse algum deles. Ele sempre teve um jeito diferente de ver a vida, mas na grande maioria das vezes eu achava que o entenderia quando tivesse sua idade. Entretanto, é claro, o tempo me mostrou que eu estava errado. Muito antes de completar 20 anos eu soube que minha vida teria absolutamente nada a ver com a vida do meu irmão.

Então eu parei de lhe dar importância. Não que seus ensinamentos e advertências fossem ruins - ele se tornou cada vez mais sábio com o passar dos anos -, mas simplesmente não eram pra mim. Por muitos e longos anos suas palavras não me serviram pra nada... até eu ver a mala de Angeline sobre a cama quando ela abriu a porta e sentir meu coração despencar pra algum lugar escuro de onde eu provavelmente não conseguiria recuperá-lo. Então a voz de Stephan soou em minha memória, tão clara como se ele estivesse repetindo isso ao meu lado naquele instante: "Não assine os papéis, irmão. Porque se mais tarde você encontrar uma mulher pela qual vale a pena lutar, ter assinado esses documentos será o maior arrependimento da sua vida."

A percepção de que ela estava me deixando me atingiu como um chute no estômago, expulsando todo o ar dos meus pulmões e qualquer pensamento da minha mente. Ela estava partindo, e eu não podia encontrar sequer uma razão pra que ela quisesse ficar. Pela primeira vez em quinze anos eu estava experimentando a dor da perda e cacete, eu não me lembrava o quão cruel ela poderia ser.

Não percebi que estava chorando até que as lágrimas escorreram pelo meu rosto, e me perguntei vagamente se tinha o direito de chorar. Ela tinha tantos motivos para ir embora que eu nem conseguia enumerá-los, mas ainda assim, por mais egoísta que pudesse ser, eu não queria que ela fosse. Não estava pronto para me despedir do único raio de sol que conseguiu penetrar as espessas nuvens cinzas que eu mantive dentro de mim por tanto tempo, iluminando a alma que eu nem sabia que tinha. Droga, Angeline, como posso estar pronto pra me despedir de você?

Mas então ela abriu a porta pela segunda vez. Ela me abraçou apertado, ignorando o fato de que sua mãe estava poucos metros atrás dela. Ela me pediu para levá-la a algum lugar e aqueceu meu coração novamente, do modo como apenas ela sabia fazer. Assim, mesmo que eu não conseguisse encontrar a lógica em sua súbita reação, concordei.

Enquanto pilotava a moto cortando a noite e ultrapassando os raros carros que encontrava pelo caminho, minha mente não conseguia se apegar a nenhum pensamento específico, mas algo que chegava perto de se destacar, era o profundo desejo de que essa noite não fosse apenas uma despedida.

Percorri grande parte do nosso caminho em modo automático, todos os meus sentidos focados apenas na garota atrás de mim e em suas mãos firmemente fechadas em torno do meu abdômen. Eu não queria parar. Enquanto estivéssemos sobre a moto nada precisava ser dito, ela permaneceria me abraçando e eu eventualmente não teria que me afastar. Eu poderia viver assim pelo resto da minha vida, mas vários fatores óbvios me lembravam que a realização da minha vontade era impossível; entre eles, o fato de que eu não tinha gasolina infinita.

Estacionei em uma praia vazia iluminada apenas pela lua e retirei meu capacete à medida que Angeline descia da moto. Era possível sentir minha pulsação em cada parte do meu corpo enquanto a observava tentar desprender seu fecho olhando para longe. Eu tentaria ajudá-la, mas minutos atrás sua atitude deixou claro que minha ajuda não era necessária.

Poucos segundos depois as tiras penderam abertas e ela retirou o capacete entregando-o a mim. Eu aceitei o que era me oferecido e não disse nada quando ela virou as costas e desceu pela areia em direção à água sem olhar para trás, apenas permaneci onde estava sabendo que qualquer mínima atitude seria como caminhar em um campo minado: um passo em falso e tudo estaria perdido.

Angeline colocou vários metros entre a gente antes de parar de costas para mim e de frente para o oceano, quase completamente camuflada pela escuridão. Eu sabia que seu plano era ir embora quando voltássemos para casa - a mala que ela deixou sobre a cama era a prova disso - mas mesmo que estivesse tão perdido quanto um cego num tiroteio considerando o que fazer, eu estava disposto a usar tudo o que estivesse ao meu favor para convencê-la a ficar. Honestamente, eu não conseguia imaginar como seriam meus próximos dias se falhasse.

Pendurei ambos os capacetes no guidão da moto e desci, caminhando até ela devagar. Angeline não se virou, apenas continuou parada encarando a escuridão que se estendia no horizonte enquanto o vento balançava seu cabelo e aliviava o calor que se instalara em Boston durante o dia. Parei ligeiramente atrás dela e coloquei as mãos nos bolsos, imaginando o que eu devia dizer ou se, de fato, eu devia falar primeiro. Talvez eu devesse esperar que ela gritasse comigo e descontasse a raiva que com certeza...

- Você me odiaria? - Sua voz baixa se misturou ao som das ondas se quebrando na areia interrompendo meus pensamentos, e por um instante imaginei não ter entendido o que ela perguntou. Então, sem mudar sua posição, completou: - Seria capaz de transformar o que sente por mim... em rancor?

Se eu tinha alguma noção de onde raio surgiu sua dúvida? Não mesmo. Eu poderia dar a ela todas as razões pelas quais eu morreria antes de conseguir odiá-la, mas tudo o que saiu da minha boca foi a resposta direta pra uma das poucas certezas que eu tinha:

- Não.

- E se eu te decepcionasse? - Ela voltou a perguntar devagar, os olhos ainda perdidos no oceano. - Se eu mentisse ou se omitisse algo importante de você? E... se eu te machucasse?

Eu poderia pensar que isso era algum tipo de teste, que ela estava tentando me colocar em seu lugar pra que eu sentisse o que ela estava sentindo antes de finalmente admitir que me odiava, mas pelo tom de sua voz eu sabia que isso era mais complexo do que minha limitada consciência podia entender. Ela não estava sendo ambígua nem hesitante, ela estava questiando exatamente o que queria saber. E vagamente eu me perguntei como ela ainda não sabia a resposta para isso.

- Nada que você fizer comigo pode ser pior do que tudo o que eu já fiz com você.

Angeline engoliu e se abraçou, sua voz soando baixa como se tentando controlar alguma emoção:

- Eu não sou perfeita, sabe? Eu também cometo erros.

- É bom saber que me apaixonei por uma humana, e não por um robô.

Ela olhou para baixo, para a areia úmida, e eu sabia que não estava ajudando muito. Então me aproximei mais e peguei seu braço suavemente, incentivando-a a ficar de frente para mim.

- Ei... - Chamei erguendo seu rosto com o indicador. - Eu errei com você, Angeline. Muitas vezes. Ainda assim, por algum motivo, você me aceitou. - Suspirei, balançando a cabeça para os lados. - Você não me deve nada, eu te devo tudo. Então, vá em frente. Me magoe, me machuque, quebre meu coração... o que sobrar dele, ainda vai amar você.

Eu podia ver lágrimas em seus olhos quando ela abaixou o olhar para o meu peito.

- Não acho que sou tão boa quanto você pensa. - Sussurrou.

- Não se atreva a dizer isso.

- Tem algo que não estou te contando.

Respirei devagar antes de colocar em palavras o único pensamento que realmente me aterrorizava:

- Você está me deixando?

- Não! - Ela ergueu os olhos para mim, negando enfaticamente com a cabeça. - Meu Deus, Thomas, a última coisa que eu quero é deixar você.

O suspiro de alívio foi inevitável, e mesmo que muitas coisas logicamente não se encaixassem, eu finalmente enxerguei a luz no fim do túnel. Ela ainda está comigo. Ela vai ficar. Então seja lá o que a esteja incomodando, independente da gravidade, é apenas um mero detalhe.

A puxei para junto de mim e a envolvi em meus braços.

- Então nada mais importa. - Sussurrei.

Angeline permaneceu imóvel por um tempo sem qualquer reação, até que sua voz frágil preencheu o ambiente silencioso:

- Você não quer saber o que seu pai me disse?

- Não por você.

Ela não respondeu, e não precisava. Estava claro que ele teve a chance de falar sobre o casamento, mas ao invés disso, por algum motivo que eu desconhecia, a fez questionar sobre seu próprio caráter pra que ela tomasse a iniciativa de se afastar. Meu pai pode ser engenhoso de um jeito que eu jamais conseguirei, mas se ele acha que é capaz de causar intrigas entre eu e Angeline com certeza está enganado. Isso é entre nós dois, o envolvimento dela nesses assuntos de merda está fora de questão.

Olhando para o oceano enquanto a tinha em meus braços, um pensamento começou a tomar forma em minha mente. Eu precisava trazer minha garota tranquila e despreocupada de volta, precisava fazê-la esquecer sua tarde desagradável e mesmo que isso possivelmente estivesse fora do meu alcance, eu precisava tentar alegrá-la outra vez.

- Você quer fazer uma loucura da qual provavelmente vai se arrepender amanhã? - Perguntei antes de me afastar para olhar seu rosto.

Angeline franziu a testa, sua expressão triste vagamente dando lugar a confusão.

- Você confia em mim? - Indaguei novamente quando não tive resposta para a pergunta anterior.

Ela piscou e talvez eu estivesse enganado, mas quase podia jurar ver sua expressão relaxar. Um aceno hesitante afirmativo com a cabeça foi a única resposta que recebi.

- Ótimo. - Eu a soltei e comecei a abrir os botões da minha camisa enquanto chutava meus sapatos para longe. - Então tire a roupa.

Seus olhos se arregalaram e ela deu um passo para trás, assustada.

- O que está fazendo?

- Te dando a chance de terminar o dia da melhor maneira possível.

- Está louco?! Eu não vou fazer isso!

Ergui uma sobrancelha enquanto tirava minha camisa.

- Achei que você confiasse em mim.

Com certeza não havia a possibilidade da ruga entre suas sobrancelhas se tornar maior.

- Nós estamos em público.

- Isso é tudo o que te impede?

Suas bochechas ficaram vermelhas e ela olhou para baixo.

- Não vou fugir dos meus princípios.

Não pude evitar que um sorriso escapasse, pela primeira vez me divertindo com suas palavras.

- Meu plano não é tirar sua virtude numa praia, Angeline. Pensei que sua mente fosse mais limpa.

Ela me olhou outra vez, o choque se tornando gradativamente menos visível em sua expressão.

- Eu nem vou olhar para o seu corpo. - Garanti jogando minha camisa na areia. - É uma promessa.

Seus olhos se dirigiram para meu peito e minha barriga antes de voltarem rapidamente para o meu rosto, me fazendo sorrir outra vez.

- Eu agradeceria se tomasse uma decisão antes que eu congelasse aqui.

Ela continuou paralisada em seu lugar por três ou quatro segundos, mas acabou finalmente tirando sua sapatilha me olhando como se ainda não tivesse certeza de que era a coisa certa a fazer. Balancei a cabeça satisfeito com sua escolha e tirei meu cinto e minha calça, ficando apenas com a cueca boxer. Angeline engoliu em seco depois que se livrou da blusa, e enquanto tirava sua calça jeans, usei todo meu autocontrole para focar minha atenção apenas no seu rosto.

Ela deixou a calça sobre a areia e me olhou, esperando. Tentei me convencer de que estava tudo bem, éramos apenas um casal de namorados aproveitando um tempo na praia com roupas de banho improvisadas. Não que eu já tenha passado por algum momento sequer remotamente parecido com isso algum dia da minha vida, mas ainda assim, isso era relativamente normal para no mínimo 80% da população terrestre.

Me aproximei dela e a percebi se enrijecer.

- Tudo bem, isso é o que vamos fazer: vamos dar um mergulho nessa água que deve estar no mínimo três graus abaixo de zero, e eu quero que você deixe lá tudo o que aconteceu mais cedo. Toda preocupação, tensão, aflição ou o que quer que seja... você vai deixar na água. Em outras palavras, quero que você esqueça que viu meu pai mais cedo e tudo o que ele te disse. Acha que pode fazer isso?

Ela ponderou minhas palavras por um instante, os olhos demonstrando uma mistura de confusão, preocupação e tristeza antes de responder:

- Eu posso tentar.

Assenti.

- É o suficiente. - Olhei a água por um segundo antes de me voltar para ela. - Está pronta?

- Não. Você está?

Sorri e peguei sua mão.

- Entrar e sair. Vai ser moleza.

- Tem certeza? - Ela perguntou com uma voz perceptivelmente mais leve, quase camuflando um sorriso enquanto corríamos em direção às ondas.

- Não! - Olhei para ela sobre o ombro e ri.

- Ah! - Ela gritou quando seus pés tocaram a água. - Está fria, está fria, está fria!

E ali estava o sorriso que me aquecia por inteiro.

- Pule! - Instruí quando vi uma onda se aproximar.

Angeline se preparou para obedecer ao meu comando, mas antes que tivéssemos a chance de fazê-lo percebemos que não seria possível nos livrar da oscilação com um simples pulo. Era grande demais, até para mim.

- Thomas! - Ela exclamou apertando minha mão com força ao mesmo tempo em que a onda nos alcançava mais rápido do que eu esperava, nos cobrindo momentaneamente e tirando nossos pés do chão com sua intensidade. Droga!

Segurei Angeline contra mim quando a pressão da correnteza nos arrastou e nadei até sentir a areia sob meus pés outra vez. Então segurei sua mão e corri para a área segura, fugindo das próximas ondas que chegavam.

Pensei que ela estaria assustada ou zangada por quão absurda havia sido minha ideia, mas ao invés disso, ela ria quando chegamos à areia seca.

- Essa foi a coisa m-mais maluca e irresponsável q-que eu já fiz!

- Você está bem? - Perguntei segurando seu rosto entre as mãos.

- B-bem?! - Ela balançou a cabeça, rindo e tremendo enquanto as gotas de água salgada escorriam de seu cabelo. - Estou c-congelando!

Maravilha! Embora meu plano não tenha sido o mais sensato, ninguém poderia negar que funcionou.

Sorri e a abracei contra mim, provocando o súbito desaparecimento de seu humor.

- Thomas... - Angeline murmurou com a bochecha pressionada contra meu peito, seu tom de voz quase como uma advertência.

- Estou apenas tentando te aquecer, mantenha os pensamentos impuros fora da sua mente.

- Nós p-podemos apenas n-nos vestir.

- Calor corporal é mais eficaz.

Eu a soltei para me sentar na areia puxando sua mão pra que me acompanhasse, mas ela se virou para o oceano evidentemente procurando uma desculpa para recusar. Foi quando uma rajada de vento atingiu seu corpo molhado provocando uma nova onda de tremores que a derrubou entre minhas pernas, procurando instintivamente por calor. Eu a abracei antes que ela se desse conta do que havia feito.

- N-não, Thomas...

- Tudo bem. - Eu disse a segurando com firmeza quando ela tentou se levantar. - Só precisamos de um minuto.

- I-isso não é c-certo.

Fechei os olhos e inspirei seu cheiro, beijando delicadamente seu ombro. Ela se arrepiou ainda mais.

- V-você prometeu.

- Não estou olhando. - Sussurrei sem abrir os olhos.

Angeline não respondeu, mas sua postura permaneceu tensa.

Ordenei meu cérebro e cada impulso nervoso do meu corpo a se concentrar em qualquer coisa que não fosse em seu corpo junto ao meu sem nenhuma barreira além dos finos tecidos das peças íntimas. Comecei a contar as ondas que se quebravam na areia, mas perdi as contas depois da vigésima quarta. Então voltei minha atenção para o horizonte e tentei localizar a linha reta onde o oceano encontra o céu através da escuridão. Óbviamente não consegui sequer chegar perto nos mais de três minutos que me concentrei nessa tarefa, mas minha atenção logo se voltou para Angeline quando ela se mexeu ligeiramente encontrando uma posição mais confortável. Provavelmente deve ter entendido que minha intenção era realmente apenas aquecê-la.

- Sua mão é grande... - Ela comentou deitando a cabeça em meu ombro.

- Não, a sua é que é pequena.

Ela sorriu e entrelaçou seus dedos nos meus.

- Mas elas se encaixam perfeitamente.

Observei nossas mãos unidas por alguns segundos e assenti, beijando seu cabelo.

- Você parou de tremer.

Ela virou ligeiramente a cabeça para o lado.

- Porque você está quentinho.

- Então admite que eu estava certo em te aquecer com meu corpo?

- Nada nessa situação toda me parece certo. - Ela respondeu voltando seu rosto para a posição inicial antes de perguntar: - Você não sente frio?

- Não.

- Por quê?

Encolhi os ombros.

- Eu sou um pinguim.

Minha intenção era evitar entrar nesse assunto. A verdade é que em algum lugar do meu inconsciente eu sabia que estava com frio, mas a sensação que eu tinha era de que a temperatura ao nosso redor ultrapassava o centésimo grau. E se Angeline já achava que nossa situação não estava certa, mencionar esse fato não seria de grande ajuda para mim.

Ela sorriu.

- Acho que já passou aquele um minuto.

Não respondi. Eu não queria ir embora. Francamente, eu seria capaz de ficar nessa mesma posição até o sol despontar no horizonte. Nenhum momento da minha vida, nenhum lugar desse planeta e nenhuma atividade recreativa é melhor do que ter Angeline em meus braços. É assustador o fato de como de repente eu me tornei tão dependente dela.

- Posso te fazer uma pergunta pessoal? - Ela rompeu o silêncio.

- Vá em frente.

Ela se mexeu e puxou minhas mãos que ainda se mantinham entrelaçadas às suas, de modo que meus braços se fecharam ainda mais em torno dela.

- Por que você não quer ter filhos?

- Três razões simples. - Falei tranquilamente. Eu já perdi as contas de quantas vezes tive essa conversa com minha família, a resposta estava na ponta da língua: - Cada novo ser humano é apenas mais um sofredor no mundo e eu não quero contribuir pra isso, os filhos vê os pais como exemplos mas eu não sou um bom exemplo pra ninguém e eu nunca...

Angeline esperou que eu terminasse, mas quando não o fiz, ela moveu-se um pouco para o lado para olhar meu rosto.

- Nunca o quê?

Meus olhos encontraram os seus e eu pensei um pouco antes de responder:

- Nunca imaginei que encontraria uma mulher com quem quisesse formar uma família.

Seu rosto estava tão perto do meu que eu quase não conseguia enxergá-lo com clareza, mas ainda assim não pude ignorar o sorriso que ela abriu antes de voltar sua atenção para o oceano, descansando a cabeça em meu ombro outra vez e comentando naturalmente:

- Qualquer criança teria sorte em ter você como pai.

Franzi a testa.

- Por que diz isso?

- Você me deu três razões por não querer filhos... nenhuma delas foi pensando no seu próprio bem-estar. - Ela fez uma pausa e completou em seguida: - Você seria um pai maravilhoso.

Essa possibilidade nunca havia passado pela minha cabeça, independente de qualquer ligação emocional que eu nutrisse com crianças. Se eu tivesse uma lista de metas de vida, ser pai definitivamente não estaria incluso nela e não existia nenhuma dúvida sobre isso. Mas de alguma forma, com o corpo pequeno de Angeline encolhido em meus braços e observando seu rosto tranquilo voltado para o horizonte como se pudesse enxergá-lo, o pensamento de chegar em casa depois de um dia de trabalho e encontrá-la me esperando com uma criança me chamando de papai aqueceu meu coração; não pude evitar imaginar como seria essa criança. E então qualquer motivo que eu mencionara para não querer ter filhos, por um momento, perdeu totalmente a importância.

- Você visitou o Brasil esse fim de semana, não é? - Ela perguntou em voz baixa.

- Uhum. - Respondi ainda entorpecido em minha imaginação.

- Como está sua família? Além do seu pai, claro. Eu não os vejo desde o seu aniversário.

Varri meus pensamentos para longe e foquei em Angeline minha atenção.

- Sinto muito te desapontar, mas meu pai foi o único com quem eu tive uma conversa decente. O resto deve estar bem. Eu saberia se não estivessem.

Ela ficou em silêncio por um tempo, em seguida soltou minha mão e pegou um punhado de areia para deixá-la escapar por entre seus dedos.

- Eu nunca estive no Brasil. - Disse como uma confissão.

Sorri.

- Apenas refrescando sua memória, eu te convidei para ir comigo. Você rejeitou.

- Eu sei. Eu acho que não estava pronta, mas...

- Mas...?

Ela pensou um pouco e se mexeu para me olhar.

- Eu estou pronta, agora.

Minha expressão gradativamente se tornou mais séria quando senti o peso de suas palavras.

- Você quer ir ao Brasil. - Falei quase como uma pergunta.

Ela assentiu.

- Quero ir com você.

Mantive nosso contato visual por um tempo e percebi que não existia sequer um resquício de hesitação ou incerteza em seu rosto. Em algum lugar do meu inconsciente me perguntei como nosso assunto evoluiu de "você seria capaz de me odiar?" para "quero ir ao Brasil com você" em tão pouco tempo. Eu não fazia ideia. Mas algo que percebi sem esforço algum, é que estar dentro de um avião com ela poderia ser qualquer coisa, menos assustador.

- Okay. - Respondi por fim, ajeitando uma mecha do seu cabelo molhado atrás da orelha. - Vamos ao Brasil, então.

- Quando?

- Em breve.

Ela me encarou por alguns segundos antes de assentir e sorrir.

- Está bem.

Pelos próximos minutos o silêncio foi bem-vindo entre a gente e Angeline parecia contente em desfrutar deste tempo comigo. Seus dedos brincavam com os pelos do meu braço enquanto eu mergulhava em meus próprios pensamentos, me perguntando por que raios eu tinha a sensação de que nossa paz não duraria por tanto tempo quanto eu gostaria.

- Como você soube que era amor? - Angeline perguntou baixinho me tirando do meu devaneio.

- O quê?

- Quando foi que você percebeu... que o que sentia por mim era amor?

Franzi a testa e pensei em sua pergunta. Repassei em minha memória tudo o que vivemos até ali desde que ela chegou à minha casa e não demorei a perceber que já a amava antes que eu soubesse. Não era como se eu pudesse definir um ponto específico na linha do tempo onde o sentimento começou, mas gradativamente, conforme os pensamentos se organizavam em minha mente, eu pude definir com precisão o momento em que me dei conta disso.

- Quando você se demitiu. - Falei por fim.

Angeline me olhou e eu sorri para ela com carinho.

- Não existe muita coisa que consegue me amedrontar, sabe? Mas aquele dia... quando você saiu do meu escritório e eu me dei conta de que não te veria na minha cozinha quando chegasse para almoçar no dia seguinte... não ouviria mais sua voz, nem veria mais seu sorriso, nem teria mais seu jeito impulsivo e sua língua afiada... - Sorri e acariciei sua bochecha com o polegar antes de continuar. - Aquilo me deu tanto medo que eu não consegui respirar. Era como se... você estivesse levando embora tudo o que trouxe para minha vida, entende? A luz, a alegria, a esperança... tudo ficou cinza outra vez. E droga, Angeline, aquilo me apavorou.

Ela piscou algumas vezes sem dizer nada e depois de uma pausa, completei:

- Naquela hora ficou claro que sou capaz de controlar muita coisa... quase tudo na verdade, e sou bom nisso. Mas não sou capaz de controlar o que sinto por você. - Deixei que um leve sorriso surgisse no canto do meu lábio. - Então eu soube que era amor.

Ela desceu o olhar para o meu braço ponderando minhas palavras. Logo sua voz foi emitida num sussurro fraco:

- E isso te assusta?

- Não mais.

Ela respirou fundo e olhou para o oceano.

- Engraçado, porque... assusta a mim.

Franzi a testa, mas antes que pudesse responder, ela completou:

- Me assusta imaginar o dia em que vou acordar de manhã e descobrir que tudo não passou de um sonho. Vou olhar uma foto sua numa revista de fofoca ou de negócios... e perceber que você é apenas um homem que conheci há muito tempo. E então... tudo terá acabado tão rápido quanto começou.

Suas palavras entravam em meus ouvidos, mas não faziam o menor sentido ao chegarem em meu cérebro. Minha expressão devia estar épica enquanto eu me perguntava em que parte da conversa me perdi. Do que ela está falando?!

- Isso me assusta. - Angeline continuou e percebi sua voz se tornar embargada. - Eu sei que nos conhecemos a pouco tempo e estamos juntos a menos ainda, e sei que existem mais maneiras de um relacionamento entre a gente dar errado do que dar certo, mas... eu nunca me senti assim em relação a ninguém. E se isso acabar... eu não acho que vou conseguir sentir de novo.

Eu podia sentir as lágrimas que escorriam em seu rosto pingarem em meu braço, mas tudo o que eu conseguia fazer era permanecer estático, sem saber o que dizer.

Angeline se desvencilhou dos meus braços e se afastou de mim, se virando para me olhar de frente ajoelhada sobre a areia.

- Thomas, eu acho... - Ela apertou os lábios e mais lágrimas escorreram. - Acho que eu amo você.

Houve um pequeno intervalo de tempo entre o momento em que ela proferiu as palavras e o momento em que meu inconsciente as registrou. Eu gostaria de ter sido capaz de despejar meus sentimentos para ela do modo como ela acabara de fazer, mas minha voz estava perdida e eu não fazia questão de encontrá-la. Ela me amava... mesmo que eu fosse o maior filósofo pensador do planeta, nada que eu dissesse poderia ser melhor do que isso.

Me posicionei sobre meus joelhos em sua frente e a puxei para mim, envolvendo-a pela primeira vez naquela noite em um beijo de verdade. Não sei ao certo se eram seus lábios que estavam frios ou se eram os meus que estavam quentes demais, mas Angeline não recuou.

Por um milésimo de segundo tudo o que existia em minha mente eram as palavras que ela disse, porém quando ela se moveu para mais perto de mim e seu corpo tocou o meu, a situação em que estávamos se acendeu em minha cabeça como uma lanterna de alta potência. A combinação do nosso beijo ardente, nossos corpos semi-nus, suas palavras e o fato de que eu não ficava com mulher alguma em um tempo relativamente amplo, causou em mim uma reação que eu não pretendia ter com ela tão cedo.

Merda, merda, merda!

Segurei seus braços e a afastei de mim, buscando respirações lentas e constantes para tentar me controlar.

- Thomas...? - Angeline chamou numa voz fraca, evidentemente confusa com minha separação repentina.

Abri meus olhos para encontrar os seus e soltei seus braços, usando todo meu autocontrole para cumprir minha promessa de não olhar para o seu corpo.

Aparentemente tê-la em meus braços até o sol nascer estava fora de cogitação, afinal.

- Acho que devemos nos vestir agora.

#-#

Heeeeey amores da Mih!

É, eu sei... muito tempo sem postar nada e devendo 4 dias consecutivos de capítulos pra vcs. Não me esqueci disso, gente, mas eu estou meio travada. Dá pra ver, né? :(

Não tem como responder às mensagens, mas de vez em quando apareço nos grupos do whats e nos stories do Instagram. Não é grande coisa, mas quando atraso, isso é o máximo que consigo fazer.

Enfim. Espero que vcs estejam bem e não tenham desistido da história. A quem está esperando uma bomba explodir sobre nosso casal a qualquer momento, fiquem tranquilos que isso não vai acontecer agora. Pelo menos não por enquanto. Temos algumas partes interessantes que eles precisam ter como casal ainda. Uhuuu tem novidade chegando por aí! Hahaha

E só pra lembrar: meu atraso geralmente é devido à falta de tempo, às vezes ao bloqueio criativo, e em hipótese alguma à desistência da história. Não se esqueçam disso.

Beijux, eu amo vcs 😍

P.S.: Existe alguma cena que vcs gostariam que tivesse na história? Algum momento ou situação que vcs imaginem que seria interessante se eles passassem? Me contem, eu adoraria adotar algumas ideias além das minhas!

Tenham uma boa semana, minhas razões. Até breve ❤

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