Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 57

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By MihBrandao

Angeline narrando:

Não era assim que eu pretendia deixar minha mãe saber sobre a gente. Deus, definitivamente não assim.

Enquanto caminhava até o casebre para onde ela havia se dirigido, milhões de ideias diferentes de como me explicar passavam pela minha mente num borrão, mas nenhuma parecia boa o suficiente. Era óbvio que eu a havia decepcionado.

"Por favor, Senhor, permita que ela me entenda.", orei silenciosamente ao colocar a mão na maçaneta. "O que eu sinto não é pecado. Então por favor... permita que ela entenda."

Minha mãe já estava no banheiro quando entrei em casa, então me sentei no sofá e esperei ouvindo o som da água do chuveiro bater contra o piso. Ela deve ter gastado no mínimo dez minutos a mais do que geralmente gasta no banho, e quando finalmente saiu, eu podia sentir meu coração pulsar com força enviando a adrenalina pelas minhas veias.

Me levantei do sofá e ela me olhou, interrompendo o movimento que fazia com as mãos ao secar o cabelo úmido com a toalha. Depois de me encarar por um pequeno momento sem demonstrar nada, ela caminhou até a cômoda.

- Não pensei que você estaria de volta tão cedo. - Disse indiferente trocando a toalha pela escova de cabelo.

- Nós só íamos assistir um filme.

- Desculpe atrapalhar seus planos, então.

Eu a observei desembaraçar pacientemente seus fios ignorando minha presença, e tudo o que eu queria era que ela dissesse qualquer coisa que me fizesse saber o quão magoada ela estava. Mas ela não disse nada, apenas penteou o cabelo focando totalmente nele sua atenção. Então eu soube que a obrigação de dizer algo era minha.

Respirei devagar, engoli o nó em minha garganta e dei um passo à frente antes de começar:

- Mãe, eu sei a imagem que você criou dele. Eu sei que por nove meses você o viu sair de casa e voltar com uma mulher diferente a cada noite e agora está com medo que eu seja apenas mais uma delas, mas... ele mudou, mãe. Deus sabe o quanto ele mudou. Ele não me vê como alguém substituível, ele se importa de verdade. E não é apenas comigo, ele aprendeu a se importar com as pessoas, com todas elas. - Me calei por um momento, depois completei: - Ele é um homem bom.

Minha mãe soltou um suspiro e deixou a escova sobre a cômoda antes de me olhar novamente.

- Diana já sabe sobre vocês?

Assenti com a cabeça disposta a deixar claro o quanto minha amiga nos aprova, mas antes que eu pudesse dizer, a próxima pergunta foi feita:

- E o Matthew? E o seu pai?

Me senti perdida por um pequeno segundo, mas ao desviar os olhos como se fosse incapaz de continuar me olhando, minha mãe se apoiou na cômoda:

- Quantas pessoas você acha que se importam com você mais do que eu, Angeline?

Abri minha boca para responder, mas ela parecia subitamente seca como se eu tivesse comido um saco de areia. Portanto ela balançou a cabeça para os lados.

- Não precisa me dizer o quanto o Sr. Strorck mudou, eu sei disso tão bem quanto você. Eu sabia que ele estava apaixonado e era apenas questão de tempo até que você sentisse o mesmo, mas isso não me magoa. Isso não é uma surpresa pra mim. O que me surpreende... é o fato de eu não ter sido a primeira a saber. O que me magoa é você ainda não saber que sua melhor amiga sou eu. Isso me machuca.

Desviei os olhos para o chão, porque agora era eu quem não conseguia olhar para ela.

- Desculpa. - Falei num sussurro. - Eu ia te contar.

- Ia mesmo?

Não respondi, porque no fundo eu sabia que não iria. Bem, pelo menos não antes que todas as outras pessoas soubessem.

Fechei os olhos com força me perguntando o quão ruim isso me tornava, mas o pensamento logo se dissipou quando as próximas palavras da minha mãe foram emitidas em voz baixa:

- Ele vai te fazer chorar.

Olhei para ela, mas ela estava olhando para o chão. Balancei a cabeça.

- Não vai, não.

- Isso não é uma suposição, Angeline. Eu sinto. - Ela me olhou como se sentisse dor. - Ele vai destruir você.

Fechei a cara para ela.

- Ele jamais me machucaria.

- Talvez não agora, mas um dia ele vai.

Neguei com a cabeça, sentindo a frustração se alastrar sobre mim. Eu não podia acreditar que era essa a imagem que ela ainda tinha dele.

- Você não o conhece como eu.

- Filha, me escute...

- Não.

- Eu não quero estragar sua felicidade, mas um dia...

- Cale a boca! - Esbravejei. - Não é porque você teve uma vida amorosa desgraçada que a minha também vai ser!

Minha mãe se calou, e por alguns segundos o silêncio foi a única coisa que se fez ouvir. E foi só então que me dei conta do que havia feito.

Pisquei algumas vezes e implorei mentalmente que existisse algum jeito de consertar isso.

- Me desculpe, eu não...

- Tudo bem. - Ela gesticulou com a mão, mas antes que desviasse os olhos eu pude vê-los marejados. - Só... me faça um favor.

Ela respirou fundo e apertou os lábios antes de me encarar outra vez, o olhar firme tentando camuflar a tristeza:

- Não se esqueça de quem você é, Angie. Não se esqueça de onde você veio. Não perca sua essência.

E depois de alguns segundos me observando, ela pegou seu casaco e se dirigiu para a porta.

- Onde está indo? - Eu quis saber.

Ela parou com sua mão na maçaneta e se virou para mim outra vez.

- Orar.

E sem ter mais o que dizer, apenas abriu a porta e se foi para a noite.

Soltei o ar num suspiro e senti as lágrimas queimarem no fundo da minha garganta. Por que fiz isso? Eu nunca havia gritado com minha mãe antes. Nunca havíamos nos desentendido assim. Ela só estava preocupada... por que fiz isso?

Permiti que as lágrimas se misturassem à água do chuveiro enquanto tomava banho, e embora tenha ficado ali por um tempo que pareceu horas, minha mãe ainda não havia voltado quando saí. Me troquei em modo automático, me ajoelhei na frente do sofá e chorei de novo. Palavras não precisavam ser ditas pra Deus saber que eu me arrependia, e tudo o que eu queria era que ela me perdoasse do modo como eu sabia que Ele já havia.

Me deitei e fechei os olhos, mas as palavras que eu proferira mais cedo se repetiam em minha mente num ritmo tão frenético, que eu não conseguiria dormir nem sob efeito de remédios.

Minha mãe chegou horas depois e se aprontou para dormir sem fazer barulho, e embora grande parte de mim quisesse levantar, correr até ela e abraçá-la, eu não sabia se tinha esse direito; então apenas fingi estar dormindo. Quando ela apagou a luz e se deitou eu quase consegui me convencer de que conseguiria dormir, mas minha esperança foi embora uma hora depois ao perceber que a sensação sufocante crescia em meu peito sem dar nenhum espaço para o sono.

Me levantei e fiz meu caminho até a cama dela.

- Mãe...? - Chamei ao parar em sua frente, conseguindo vê-la apenas pela fraca luz do jardim que iluminava o quarto através da cortina entreaberta.

Ela abriu os olhos.

- Posso dormir com você essa noite?

Ela me olhou por um pequeno instante antes de levantar a coberta para mim. Eu subi na cama e ela me cobriu, me aninhando em seus braços. Fechei os olhos sentido-me subitamente aliviada.

- Me desculpe. - Pedi baixinho.

- Está tudo bem, querida.

- Eu não queria te magoar.

Ela passou a mão pelo meu cabelo e beijou minha cabeça.

- Você me assustou mais do que me magoou.

- Assustei? - Ergui os olhos para vê-la e ela assentiu.

- Quando vi vocês juntos hoje... pareciam recém-casados em lua de mel. Eu quase caí da escada.

Sorri e me deitei em seu braço novamente.

- Eu tinha acabado de vencer uma corrida contra ele.

- Entendo. - Ela começou a fazer carinho em meu cabelo. - Eu nunca te vi tão feliz. Nem quando estava com o Tyler.

- Eles não têm nada em comum. - Destaquei o fato.

- Dá pra ver.

Quando o silêncio se infiltrou entre a gente, me permiti desfrutar do abraço da minha mãe e de sua mão acariciando meu cabelo. No fim, essa é a melhor sensação que existe.

Quando o sono começou a tomar seu espaço em mim ela perguntou naturalmente:

- Você o ama?

Pensei por um momento, tentando responder a ela algo da qual eu não tinha a menor certeza.

- Amor é uma palavra forte, não é?

- Não tanto pra quem sente.

Me mexi para ficar mais confortável.

- Eu me importo com ele. E o admiro muito. Mas sabe... o que eu sinto está longe de ser o mesmo que ele sente por mim.

- Parece que não está tão longe assim.

Sorri, embora não existisse graça.

- Eu não tenho certeza se um relacionamento entre a gente vai dar certo, mãe.

- Por quê?

- Ele está escondendo alguma coisa de mim, alguma coisa importante. O papai sabe o que é, mas eu não acho que ele vá me contar.

- E você tem medo que isso afaste vocês.

- Não é medo, é uma certeza. Eu sei que isso pode nos afastar. Mas mesmo que eu só queira ajudar, Thomas morre de medo de me contar, então eu não posso me entregar totalmente se existe a chance disso tudo escorrer por entre meus dedos como areia.

Minha mãe soltou um longo suspiro.

- Existem muitas coisas que você pode controlar, filha. O amor não é uma delas.

- Eu sei, mas não tenho outra escolha. Eu sei que ele não vai me machucar, mas se eu não quiser machucar a mim mesma, preciso controlar meus sentimentos. Eu não posso amá-lo agora, entende? Só... não posso.

Ela me apertou delicadamente antes de dizer numa voz terna:

- Entendo.

Adormeci um tempo depois sem saber se ela realmente entendia, porque na verdade, nem eu mesma conseguia.

*~*~*~*

No dia seguinte eu estava cortando uma cebola quando três batidas na porta desviaram minha atenção. Sorri ao ver Thomas, embora minhas bochechas estivesse molhadas pelas lágrimas.

- Oi.

Ele franziu a testa preocupado.

- O que houve?

Funguei e tentei secar os olhos com a manga da blusa. Missão fracassada.

- Decidi colocar cebola na salada.

Ele entrou na cozinha e se aproximou de mim, colocando o pequeno pacote embrulhado que trazia sobre a bancada. Em seguida levou as mãos ao meu rosto e secou minhas lágrimas com os polegares.

- Obrigada. - Sorri.

- Você conversou com sua mãe?

Assenti, voltando a cortar a cebola.

- Está tudo bem agora. Ela só ficou magoada por não ter sido a primeira a saber.

Thomas franziu a testa.

- Sério?

- E um pouco assustada também. Pelo modo como descobriu.

Ele soltou o ar e passou as mãos pelo cabelo, fechando os olhos.

- Droga. Será que podemos tornar esse assunto de domínio público agora? Eu não aguento passar por isso de novo.

Eu ri e funguei outra vez, colocando a cebola sobre a salada na tigela de vidro.

- Sinto muito, mas prefiro manter privada minha vida pessoal. Não sou muito fã de holofotes.

Thomas ficou em silêncio enquanto eu lavava a tábua e a faca na pia, e quando não consegui definir o que ele estaria pensando tão quieto, mudei de assunto:

- Você chegou cedo.

- Ah... - E pegando o pequeno pacote embrulhado sobre a bancada, o estendeu para mim. - Trouxe isso pra você.

- O que é? - Franzi a testa secando minhas mãos na toalha de cozinha antes de aceitar o presente.

- Eu estava te devendo um bolo de chocolate.

Olhei para ele, abrindo um sorriso logo em seguida.

- Não achei que você fosse me comprar um bolo.

- É só um pedaço. Não achei justo te mandar fazer um pra pagar a dívida que eu criei.

Apertei os lábios e balancei a cabeça, abrindo apenas um pouco do embrulho para ver o que havia dentro.

- Obrigada. - Eu disse ao fechar novamente. - Eu adorei.

- Você ainda nem provou.

Sorri.

- É um bolo com cobertura e recheio de chocolate. Eu não preciso provar pra saber que adorei. - E me aproximando dele, me coloquei na ponta dos pés para beijar seus lábios rapidamente. - Você é demais.

Caminhei até a geladeira para guardar minha sobremesa enquanto perguntava:

- Você se importa se eu chamar o Matt pra almoçar com a gente hoje? Estou morrendo pra saber como foi o pedido de casamento ontem.

Thomas ergueu as sobrancelhas surpreso ao se apoiar na bancada de braços cruzados.

- Você ainda não sabe?

- Eu ainda não vi ele. Além disso, pensei que você ficaria chateado se eu soubesse antes de você.

Ele sorriu pra mim e desviou os olhos.

- Na verdade, eu preciso fazer algumas ligações agora. - E me olhando outra vez, completou: - Podemos almoçar juntos amanhã, se você quiser.

Coloquei uma mão na cintura e ergui uma sobrancelha.

- Quer que eu controle minha curiosidade até amanhã?

Seu sorriso se abriu e ele se afastou da bancada pra se aproximar de mim.

- Não, amor. Almoce com seu amigo hoje, amanhã eu acompanho vocês. - Ele me segurou pela cintura e beijou minha testa. - Não vou ficar chateado por ser o último a saber.

- Você não vai almoçar?

- Vou pedir ao George pra levar até meu escritório.

Concordei com um gesto de cabeça e ele se inclinou, levando a mão ao meu rosto enquanto me beijava com ternura. Eu o retribui sem hesitar, sabendo que não teríamos outra chance de fazer isso antes que ele voltasse ao trabalho.

Ele quebrou o beijo, mas não se afastou.

- Divirta-se. - Falou antes de me dar um último selinho, então sorriu. - Mas não tanto.

Eu sorri de volta e ele se afastou de mim, fazendo seu caminho para fora da cozinha sem olhar para trás.

Minutos depois, enquanto eu despejava o molho branco sobre o macarrão, George apareceu na porta e cruzou os braços se encostando no batente. Eu sorri pra ele quando ele não disse nada.

- O que foi?

- Não existe nada que a senhorita queira me contar? - Ele perguntou estreitando os olhos.

Meu sorriso se abriu enquanto eu colocava a panela do molho - agora vazia - dentro da pia e retirava a luva térmica.

- Minha mãe já falou com você, não é?

- Sua mãe não. O patrão já.

Minhas sobrancelhas se ergueram automaticamente enquanto eu me voltava pra ele.

- Thomas te contou sobre a gente?

- Pois é, eu também fiquei surpreso por saber por ele e não por você. - George descruzou os braços e entrou na cozinha, me olhando atentamente antes de perguntar: - Você está feliz?

Eu assenti, um pequeno sorriso tomando espaço em meu rosto.

- Muito. Ele me faz bem.

George inspirou o ar profundamente e levou as mãos à cabeça, expirando aliviado.

- Finalmente, Deus. - Ele me olhou de novo. - Não sei se agora eu devo te aconselhar, te agradecer ou te parabenizar.

Encolhi os ombros.

- Você pode fazer os três.

- Certo. - Ele balançou a cabeça e seu sorriso desapareceu em seguida. - Talvez o Sr. Strorck pise na bola algumas vezes, mas dê um desconto a ele. É a primeira vez que ele ama alguém, ele não é nenhum especialista nisso.

- Tudo bem. - Assenti.

- Mas não faz mal ficar sempre com um pé atrás. - Ele continuou com as sobrancelhas levemente franzidas. - Ele mudou muito nos últimos meses mas ainda é Thomas Strorck: o homem mais imprevisível que eu já conheci na vida. Tenha em mente que o progresso não é algo que acontece da noite pro dia, é gradativo.

Eu assenti e George sorriu.

- Obrigado. Se não fosse a sua paciência e esse seu coração maravilhoso, essa casa ainda seria um caos. Você mudou tudo, e acredite em mim: eu não sou o único grato aqui.

Eu sorri de novo com um aceno de cabeça.

- Foi um prazer, senhor.

- E parabéns por ter aceitado em seu coração o homem de quem certamente devia ter mais rancor. Você é o maior exemplo de perdão que eu conheço, Angie. É surpreendente o fato de que existe tanta bondade em alguém tão pequena.

Minha boca se abriu e eu levei uma mão à cintura enquanto George ria, se aproximando de mim.

- Você acabou de me chamar de baixinha?

Ele balançou a cabeça e me abraçou com carinho.

- Você é importante pra mim, menina.

Eu fechei os olhos e o abracei de volta, sorrindo também.

- Você é importante pra mim também, Georgito.

- Eu sei que você fez as pazes com seu pai, mas quero que saiba que eu não me importo em ocupar o segundo lugar. Então se precisar de algum conselho paterno e ele estiver indisponível, eu sempre estarei aqui. - Ele se afastou para me olhar nos olhos. - É só me procurar.

Balancei a cabeça afirmativamente.

- Obrigada.

Ele beijou minha testa antes de se afastar.

- Agora preciso levar o almoço do patrão. Você sabe, a fome por ter um impacto imenso no humor das pessoas.

Eu ri.

- Está bem.

- Você vai almoçar sozinha?

- Não, eu vou procurar o Matt daqui a pouco.

- Bom apetite pra vocês dois, então.

- Obrigada.

E quando George saiu da cozinha levando o almoço de Thomas, eu não consegui me livrar do sorriso bobo enquanto lavava a louça na pia.

*~*~*~*

- Ainda falta muito? - Perguntei em voz alta ao avistar Matt no topo de uma escada portátil de dez degraus podando uma árvore quando cheguei ao jardim segurando duas marmitas nas mãos.

Ele me olhou e sorriu.

- Trouxe comida pra mim?

- Por quê? - Perguntei me sentando sobre a grama. - Você não fez seu almoço?

- Fiz, mas o seu é melhor.

Eu sorri e coloquei a marmita dele ao meu lado, enquanto abria a minha.

- Desça logo daí antes que eu coma os dois. Não tem como essa árvore ficar mais bonita.

Ele se inclinou um pouco para trás pra observar seu trabalho e balançou a cabeça, aprovando. A árvore que ele podava era a sexta e última de uma fileira de árvores em forma de cones, e sentada onde eu estava, não conseguia ver nenhuma diferença entre elas. Estavam absolutamente iguais, em formatos, tamanhos e espaçamentos.

Matt desceu da escada e deixou a grande tesoura em um dos degraus, tirando o avental sujo de folhas.

- Achei que você almoçaria com o patrão hoje. - Ele disse se aproximando de mim.

- Nem pense em se sentar aqui antes de lavar as mãos.

Ele parou, fez uma careta e deu meia volta em direção à mangueira do outro lado do jardim. Segundos depois voltou sacudindo as mãos molhadas.

- Thomas teve que fazer algumas ligações hoje. - Eu informei enquanto ele se sentava ao meu lado. - E como eu sei que você adora minha companhia, decidi almoçar com você.

Ele me olhou desconfiado, abrindo a marmita que pegou do chão.

- Não é só por causa disso que você está aqui.

Pensei em agir na defensiva e fingir que não estava interessada em nada mais além de um almoço tranquilo, mas minha curiosidade me obrigou a colocar as cartas na mesa:

- Okay, me conte tudo do começo. Quero cada detalhe.

Ele balançou a cabeça para os lados sorrindo, como se já esperasse pelas minhas palavras.

- Então vamos comer primeiro. Tenho muito o que contar, mas estou morrendo de fome.

Sorri de volta e assenti, sem ter como recusar.

#-#

Matt narrando - flashback

Eu podia sentir o suor brotar nas minhas palmas quando parei na frente da casa onde não aparecia há mais de quatro anos, vestido em minha melhor roupa e com um anel guardado no bolso interno do meu blazer. Uma fileira de carros estava estacionada ao longo da calçada e algumas pessoas conversavam e sorriam no quintal, mas eu não reconheci nenhuma delas.

Por favor, não tenha mudado, desejei profundamente. Por favor, seja minha Anne.

Respirei fundo e entrei na casa, olhando ao meu redor procurando por um rosto familiar. Quando não o encontrei na sala, me espremi entre as pessoas e me encaminhei até a cozinha. E então a encontrei.

Anne estava perto da porta que dava para os fundos da casa, conversando com um grupo de pessoas que eu nunca tinha visto na vida mas que deviam ter mais ou menos a idade dela. Seu cabelo estava mais curto do que eu me lembrava e seu corpo parecia absurdamente diferente, mas o sorriso que ela sustentava ainda era o mesmo. E foi apenas olhar para ele que toda a ansiedade se esvaiu de mim.

Anne parece ter sentido minha presença, porque quase imediatamente depois que meus olhos a encontraram, os dela me encontraram também. Seu sorriso vacilou por um pequeno momento dando lugar à surpresa, mas ele logo voltou ao seu rosto maior do que antes enquanto ela corria para mim sem nem sequer se despedir das pessoas com quem estava conversando.

- Matt! - Gritou alegremente se esbarrando em algumas pessoas aqui e ali antes de pular sobre mim, envolvendo meu pescoço com os braços e minha cintura com as pernas.

Eita merda!

Os olhos de todos os convidados que estavam em meu campo de visão se voltaram pra gente. Alguns sorriram, outros franziram a testa. Tentei desviar minha atenção deles e focá-la apenas na garota em meus braços, que aparentemente havia sentido tanta falta de mim quanto eu sentira dela.

Ela soltou suas pernas da minha cintura e ficou de pé no chão, se afastando um pouco.

- Quando surgiram esses músculos? - Perguntou olhando meus braços enquanto os apertava com as mãos.

- Quando surgiram esses peitos?

Ela me olhou tentando fingir estar chocada pela minha pergunta, mas quando não conseguiu controlar seu sorriso, me deu um tapa no braço.

- Você é tão indecente! - E se virando para o grupo de pessoas com quem estava conversando, ela pegou minha mão. - Venha comigo, quero te apresentar meus amigos.

Caminhei atrás dela, sentindo todas as minhas sensações focadas apenas na mão que ela segurava. Tudo o que eu queria era que aquela apresentação fosse rápida e que finalmente pudéssemos ficar a sós, pra eu matar a saudade que tinha dela.

- Pessoal, esse é o Matthew. - Ela disse sorrindo quando nos aproximamos do grupo de três moças e dois rapazes.

- Minha nossa, você realmente faz jus à fama. - Uma das mulheres disse ao me olhar.

- Cara, eu ouvi tanto sobre você que é como se eu já te conhecesse. - O homem loiro pronunciou antes de estender a mão para mim. - Eu sou Phillip.

- É um prazer.

- Me chame de Carol. - A moça que se pronunciou anteriormente se apresentou apertando minha mão também. - Agora entendo o motivo da Anne fazer um voto de celibato durante todo o tempo em que esteve estudando.

- Informações desnecessárias, Caroline. - Anne resmungou olhando para ela de cara fechada, mas eu podia ver a sombra de um sorriso em seus lábios. Em seguida, como se para camuflar o assunto anterior, ela olhou para mim e apontou a moça mais baixa do grupo. - Essa é a Mayra.

- Mayra. - Repeti com um sorriso. - É o nome da minha irmã.

- Anne me contou. - Ela sorriu de volta, depois estendeu a mão pra mim. - É um prazer te conhecer.

- Igualmente.

- Essa é a Brianna e esse é o Will. - Anne me apresentou os dois últimos integrantes do grupo.

Brianna estava sorrindo como todos os outros três, mas Will me encarava como se eu tivesse roubado algo valioso que o pertencesse.

- Anne falou muito sobre você, Matt. - Brianna disse se aproximando para apertar minha mão. - Eu já te considero parte do time.

Eu sorri e acenei com a cabeça, depois olhei para Will, que após me encarar por um momento, deu um passo à frente estendendo a mão.

- Me chame de Willian. - Disse sem demonstrar nada. - Soube que você é estudante de Harvard.

Por um minuto ninguém disse nada. Enquanto minha mão direita permanecia apertando firmemente a mão de Willian, pude sentir com a outra o quanto Anne de repente ficou tensa. O sorriso de todos eles desapareceram por um momento, até que Phillip quebrou o silêncio:

- Desculpe, cara. Anne nos disse que você é humilde e não gosta de cantar vantagem, mas todos nós te achamos um gênio por conseguir estudar direito em Harvard.

- Não fique chateado por ela ter nos contado. - Mayra disse com cuidado. - Isso é algo de que você deve se orgulhar.

Eu não sabia exatamente como reagir a isso, então depois de tentar sorrir para eles, olhei para Anne. Ela engoliu em seco e deu um riso forçado.

- Okay, agora que vocês já se conhecem nós vamos dar uma volta. Nos vemos depois.

E após mandar um beijo no ar para eles, ela puxou minha mão me conduzindo entre as pessoas até a porta dos fundos. Não existiam muitos convidados naquela parte da casa, e os poucos que tinham nem sequer notaram nossa presença.

Anne soltou minha mão e cruzou os braços, evidentemente constrangida. Depois de apertar os lábios e respirar fundo, ela me olhou e sorriu.

- Meu pai sentiu sua falta. Ele disse que você nunca mais veio aqui depois que eu fui embora.

Eu sabia que ela estava propositalmente mudando de assunto, mas apesar de existir um nó em minha garganta e um milhão de pensamentos em minha mente, eu decidi não questioná-la. Talvez pudéssemos esquecer isso se eu fingisse que nunca aconteceu.

- Achei que ele só me aturasse por sua causa.

Ela revirou os olhos esfregando os braços com as mãos, um sorriso frouxo brincando em seus lábios.

- Não seja bobo, ele adora você.

Ele não adorava. Quando éramos crianças o Sr. Evans até parecia incentivar um relacionamento entre eu e sua filha num futuro distante, mas depois que meu pai foi embora ficou claro que ele mudou de ideia. Eu não o culpei, mas ele nunca tentou esconder seu gradativo descontentamento quando me encontrava com Anne conforme os anos se passavam. Algo me dizia que parte do motivo de ele se sentir tão feliz por mandar sua filha para o outro lado do país era porque ela se afastaria de mim, e Anne sabia disso tudo tão bem quanto eu.

Escondi minhas mãos dentro dos bolsos da calça e olhei para o chão.

- Você está diferente. - Deixei escapar em voz baixa.

- Você também.

Olhei para ela.

- Mas não estou estudando direito, caso queira saber.

Seu sorriso desapareceu e ela desviou os olhos para o outro lado do quintal, permanecendo em silêncio por um tempo.

- Me desculpa. - Disse por fim sem olhar pra mim. - Eles estudavam comigo em Washington. Fiquei com medo de que você se sentisse... - Ela parou.

- Sentisse o quê?

Anne respirou profundamente e esfregou os braços outra vez, me olhando em seguida.

- Inferior a eles.

- Eu não tenho vergonha do que eu faço.

- Eu sei disso, Matt, mas... bem, não é uma mentira tão grande assim, certo? Afinal seu sonho é ser advogado.

- Não é mais.

Ela ficou me olhando em silêncio, então completei:

- Achei que você soubesse que agora meu sonho é garantir o futuro dos meus irmãos.

- Eles não podem depender de você pra sempre.

- Mas enquanto eles dependerem de mim, eu estarei disponível pra eles.

Anne riu e balançou a cabeça, desviando os olhos.

- Você já encaminhou o Michel e a Mayra, não acha que está na hora de pensar em si mesmo? Tenho certeza que sua mãe é capaz de lidar com a Maddie agora.

Fiquei calado olhando para ela mas sem realmente vê-la. Aparentemente eu estava errado, afinal. Não foi apenas fisicamente que Anne mudou, foi por completo.

Respirei fundo lentamente antes de saber o que dizer.

- Você se lembra de qual foi nossa última conversa antes de você partir?

Ela piscou algumas vezes e olhou pra baixo, levando um tempo até assentir devagar.

- Sabia que eu te esperei todos os dias de todos os meses nos últimos quatro anos?

- Eu também, Matt! - Ela exclamou ao me olhar de novo, se aproximando de mim para segurar meu rosto entre as mãos. - E nós podemos recuperar o tempo perdido agora! Podemos ter nossos felizes para sempre!

- Desde que seus amigos não saibam que eu sou jardineiro, certo?

Ela deixou suas mãos caírem e me encarou como se sentisse dor.

- Você entendeu tudo errado.

- Ótimo, então vamos esclarecer o mal entendido.

Eu ia entrar na casa novamente, mas ela me segurou pela mão.

- Espere! - Quando eu a olhei, ela hesitou por um tempo e soltou minha mão devagar. - Eu... não quero que eles tratem você diferente.

- Diferente? - Franzi a testa.

- Eu não quero que eles... menosprezem você... por causa do cargo que você ocupa.

Eu poderia dizer que não era esse tipo de amigos que eu esperava que ela fizesse na faculdade, mas ao invés disso o que saiu da minha boca foi:

- Eu não me importo.

- Mas eu me importo! - Ela bateu a mão no peito. - Eles são importantes pra mim, Matt. Tudo o que eu quero é que eles gostem de você, que... sejam seus amigos também.

Eu não respondi. Não sabia o que responder. Uma grande bola de pensamentos e sentimentos formavam um emaranhado em minha mente, me deixando totalmente sem reação.

Anne suspirou e passou os braços em meus ombros, seu rosto ficando a poucos centímetros do meu.

- Escuta, você não precisa mentir se não quiser. - Ela acariciou minha nuca com a mão. - Não diga nada. Apenas... finja por alguns dias, e quando eles forem embora, tudo vai voltar a ser como era antes. - Ela fechou os olhos e tocou sua testa na minha. - Me deixe te mostrar que eu não mudei, que ainda sou a Anne de sempre. A sua Anne.

Segurei seu braços e a afastei de mim para olhar seus olhos, antes que suas palavras me fizessem esquecer o motivo de estarmos ali.

- Eu nunca vou ser advogado. - Falei com firmeza.

Ela balançou a cabeça, sua expressão se equilibrando entre tristeza e aceitação.

- Tudo bem.

Meus olhos permaneceram presos aos dela por um momento, então ela acariciou meu rosto.

- Matt, eu sou apaixonada por você. Em todo esse tempo que estive fora, nunca senti por alguém o que você me fez sentir. Então não importa o que você vai ser daqui a dez anos... se estivermos juntos, isso será suficiente pra mim.

Qualquer barreira que eu havia criado para me manter imune às suas palavras se desfizeram como areia. Eu era totalmente apaixonado por essa mulher, não tinha como permanecer indiferente depois disso.

- Será que você é capaz de sacrificar alguns dias... pra passar o resto da sua vida comigo?

Pensei por um segundo, mas a verdade é que eu não tinha motivos suficientes para dizer "não". Ela havia acabado de se declarar para mim, e só queria que eu fosse aprovado pelos seus amigos. Se eu não pensasse demais, isso não seria tão errado assim.

Desviei os olhos e balancei afirmativamente a cabeça devagar.

- Mas eles não serão meus amigos. - Falei antes de olhá-la outra vez. - Se eles acham justo menosprezar outras pessoas apenas por causa de suas condições financeiras, então eu prefiro manter distância.

A decepção gritou nos olhos de Anne, mas depois de me olhar em silêncio por um segundo, ela acabou assentindo.

- Tudo bem. - Falou em voz baixa.

- E talvez seja melhor a gente dar um tempo. - Completei. - Pelo menos até eles irem embora. Eu não quero participar dessa mentira.

Ela amuou totalmente, olhando para baixo e engolindo. Cinco ou seis segundos se passaram até que ela balançasse a cabeça tão devagar, que eu quase não percebi.

- Me ligue quando você tiver voltado de verdade. - Finalizei tentando ignorar o sentimento de sentir meu coração se quebrar por tê-la magoado. Mas esse é quem eu sou, e ao contrário dela, não vou mudar para agradar outras pessoas. Mesmo que eu a ame... não posso me diminuir a esse ponto.

Ela segurou minha mão novamente quando me virei para sair, então me voltei para ela. Anne me olhou com os olhos brilhando como se prestes a chorar, e depois de me encarar em silêncio por um segundo, abriu a boca devagar e pronunciou:

- Você pode me dar um beijo?

Eu não respondi, então ela emendou:

- Por favor.

Ainda permaneci a observando por um tempo, mas lentamente, o desejo que guardei por quatro anos de tê-la em meus braços se sobressaiu. Ela estava em minha frente. Estava me pedindo. Como eu poderia negar?

Me aproximei dela devagar, e quando meus lábios encontraram os seus qualquer sentimento negativo que eu sentia antes desapareceu. Me permiti sentir seus lábios explorando minha boca, sua mão acariciando meu rosto e seu cabelo entre meus dedos. Okay, não era exatamente nessas circunstâncias que eu imaginava esse momento, mas o faria perfeito em seu jeito.

- Senti tanto sua falta. - Sussurrei ao tocar sua testa com a minha, sem soltá-la.

Duas batidas na porta chamaram nossa atenção, e nós nos viramos ao mesmo tempo.

- Desculpe atrapalhar os pombinhos. - Uma mulher bem vestida disse com um sorriso se equilibrando sobre um salto agulha. - Mas como eu estou de saída, gostaria de falar com você um pouquinho. Será que pode me dar um minuto da sua atenção?

Ela estava olhando para mim, mas minha testa se franziu quando eu não a reconheci.

- Agora não é uma boa hora, senhora Morris. - Anne interviu imediatamente, puxando minha mão pra ficar entre eu e a mulher. - Será que eu posso te ligar mais tarde?

Mas por algum motivo, suas palavras apenas despertaram mais minha curiosidade.

- Na verdade, eu gostaria de ouví-la. - Falei, embora não soubesse se isso era mesmo verdade.

- Vai ser rápido, Anne, prometo. - Ela disse ao se aproximar, estendendo a mão para mim. - Meu nome é Daphne Morris. Faço parte da associação de advogados criminalistas de Washington, você já ouviu sobre a gente?

Inclinei a cabeça levemente antes de balançá-la para os lados, já formando minhas teorias de onde esse assunto nos levaria.

- Não, sinto muito.

- Ah, tudo bem. - Ela gesticulou com a mão. - Acredito que vocês dois ainda não tiveram muito tempo para conversar. Mas eu ouvi muito sobre você, Matthew. Meu marido é professor do curso de gastronomia e Anne foi uma de suas melhores alunas. Se olharmos pela lógica, o namorado dela só pode ser um dos mais brilhantes alunos de sua faculdade também, certo? Ela não parece se contentar com menos do que isso.

Ela riu como se tivesse acabado de contar uma piada e eu tentei sorrir de volta, embora quisesse chutar alguma coisa. Isso apenas piora...

- Enfim. Quando Anne me disse que você vai se mudar com ela para Washington assim que se formar no final do mês que vem, decidi que devia trabalhar conosco. Acredito que digo em nome de todos os meus colegas de trabalho que será um prazer te receber. - Ela bateu as palmas das mãos e trocou o peso de uma perna para a outra. - O que me diz da proposta?

Fiquei a olhando por um tempo sem saber ao certo que expressão eu sustentava. Me virei devagar para olhar Anne, mas sua cabeça estava baixa então não pude ver seus olhos. Portanto me voltei para Daphne.

- Sinto muito, não vai rolar.

Ela franziu a testa, momentaneamente confusa.

- Como assim?

- Eu nunca estudei em Harvard, nunca cursei direito, e certamente nunca cogitei a ideia de me mudar para Washington.

Ela riu sem graça, olhando para Anne por um segundo antes de se voltar para mim, balançando a cabeça para os lados.

- Desculpe, acho que não estou entendendo.

- Não, sou eu quem devo pedir desculpas. - Falei tentando não descontar nela o que eu sentia. - Tenho certeza que essa associação é ótima, mas eu sou jardineiro, senhora Morris. Estou nessa profissão há quase sete anos e não me imagino fazendo outra coisa além de cortar folhas e cuidar das plantas. Eu agradeço sua oferta, mas infelizmente a experiência que eu tenho não me permite aceitá-la. - Inclinei a cabeça. - Eu sinto muito.

Ela estava me olhando com a boca entreaberta e as sobrancelhas levemente erguidas. Foi assim que ela permaneceu por alguns segundos antes de fechar a boca e balançar a cabeça, voltando sua atenção para Anne.

- Tudo bem. - Disse, e me olhou de novo. - Eu também sinto.

E sem ter mais o que dizer, hesitantemente, ela se virou e voltou para o interior da casa.

Me afastei de Anne sem conseguir olhar para ela, passando a mão na boca e olhando para os convidados que conversavam distantes.

- Matt...

- Tem mais alguma coisa sobre mim que você saiba e eu não?

- Eu... sinto muito...

Balancei a cabeça e passei as mãos pelo cabelo, fechando os olhos em seguida.

- Parece que o problema não são seus amigos, afinal.

Ela ficou em silêncio, e quando finalmente consegui olhá-la, seus olhos estavam focados no chão e ela se abraçava como se sentisse frio.

Senti as lágrimas nascendo em meus olhos. Eu sabia que existia a chance de ela ter mudado, mas nunca imaginei que seria tanto...

- Eu não conheço mais você. - Admiti. - Eu amei uma garota uma vez. Você não é ela.

- Não diga isso. - Ela levantou seu rosto pra mim e eu pude ver suas bochechas molhadas.

- Sabe de uma coisa? Você devia voltar para os seus amigos. Afinal, não existe nada que te torne diferente deles.

Ela inclinou a cabeça e a balançou para os lados, e sem aguentar olhar aquela expressão, me virei para ir embora. Pela segunda vez naquele dia ela agarrou meu braço.

- Espera...

- Não! - Puxei minha mão. - Eu entendi que não sou suficiente pra você, Anne, entendi que não respondo às suas expectativas. Mas na minha casa existe uma garotinha de sete anos que me acha o máximo e me ama sem exigir nada em troca. Por ela eu sou capaz de mover o mundo. Por você... eu só sinto pena.

Ela soluçou e balançou a cabeça de novo, como se assim pudesse apagar os últimos minutos. Então eu me virei para sair, mas depois de três passos, parei. Não sei ao certo o motivo que me levou a fazer isso, mas apenas fiz: coloquei minha mão dentro do bolso interno do meu blazer, peguei a pequena caixinha onde estava o anel, me virei novamente e a joguei no chão aos seus pés.

- Parece que você precisa mais disso do que eu.

E fingindo não ter visto o momento em que ela caiu de joelhos para pegar a caixinha do chão aos prantos, me virei e fiz meu caminho para fora.

Ao contrário do que imaginei que seria, pela primeira vez naquele dia eu me senti aliviado.

#-#

FELIZ ANO NOVO MEUS AMORES!

Aqui nós temos 6.400 palavras (exatamente), e espero que não se importem, mas o próximo capítulo será menor. Assim, se juntarmos esse enorme com o outro menor, teremos o tamanho de dois capítulos normais. Apoiam?

POOOOR FAVOOOOR, NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR E COMENTAR. Eu amo ler os comentários de vocês, e não apenas o típico "Estou amando", "Está lindo", "Continue escrevendo"... eu gosto mesmo dos "Aaaaaahhhh", "Não acredito nisso!!!", "Maravilhosa, arrasou!" que eu encontro nos parágrafos específicos. Se vocês tem uma reação, por favorzinho, me deixem saber. De novo: eu gosto de ler isso tanto quanto vocês gostam de ler a história (talvez até mais).

Desculpem pelo atraso. Quem leu o recadinho no meu mural sabe, mas vou falar de novo: eu estava com intenção de postar dois capítulos como presente de Natal pra vocês, mas estive sem internet e não pude escrever. Como prometido, o presente de ano novo está aqui. Se tudo der certo, até dia 04/01 os capítulos serão diários (UHUUUUUU)

Gente, obrigada por todas as mensagens de feliz natal. Desculpem não ter respondido antes, mas devo dizer que tive um ótimo natal. Espero que vocês também tenham tido.

Que novo ano de vocês seja repleto de bênçãos, felicidade, amor, perdão, sabedoria e livros. Que Deus esteja na direção de cada um dos 365 dias desse ano que se inicia. Que 2019 seja melhor do que 2018 em todos os aspectos e que eu consiga terminar UPPN antes de 2020 👐

Enfim. Feliz ano novo, minhas razões. Espero ter vocês comigo em 2019. Eu amo vocês demais mesmo. Até amanhã. ❤❤❤

(Agora são 6675 palavras)

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