Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 56

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By MihBrandao

Thomas narrando:

Eu havia acabado de acertar com as crianças e seus pais a excursão até a igreja que elas fariam no próximo domingo para ver Izzy cantar quando meu celular vibrou no bolso. Sorri ao ler o nome Angeline na tela, mas meu sorriso logo desapareceu quando abri a mensagem:

"Vou contar ao meu pai sobre a gente."

E como se para colocar uma cereja como detalhe final em um bolo, a bateria acima da tela piscou duas vezes antes do aparelho desligar. Merda.

- Tio Thomas, você está ouvindo? - Izzy perguntou puxando minha mão para chamar minha atenção.

- O quê?

- Você vai estar lá também, não é?

- Claro, princesa. - Respondi sem realmente escutar sua pergunta, voltando minha atenção para a tela do celular como se de algum jeito eu pudesse ligá-lo sem ter que ir até o carro colocá-lo para carregar.

Droga. Eu sabia que não devia ter me distraído tanto enviando mensagens para Angeline na noite anterior. Eu geralmente deixo o aparelho carregando sobre a mesa da cabeceira durante toda a madrugada, mas ontem eu estava tão cansado, que depois que consegui convencê-la a dormir eu simplesmente peguei no sono também, me esquecendo totalmente que eu precisava do celular carregado no dia seguinte.

- Legal! - Izzy deu um pulo de alegria. - Você pode me filmar pra gente mostrar às crianças que não vão poder ir!

Eu a olhei confuso por um segundo. Ela acha que eu vou à igreja? Espera... foi isso o que ela me perguntou? E eu disse "Claro, princesa"?!

Droga!

- Você acha que a tia Angie canta comigo se eu ficar com vergonha, tio Thomas?

Levei um segundo para conseguir raciocinar direito após saber que eu havia acabado de confirmar a uma criança que eu estaria em um lugar onde havia prometido a mim mesmo não ir.

Okay, isso é importante pra ela. Pelo menos dessa vez, talvez eu possa abrir uma exceção à regra.

- Não tenho dúvidas disso. - Respondi guardando o celular no bolso, tentando esquecer pelo menos momentaneamente a mensagem que recebi segundos atrás. - Ela só precisa saber o que você vai cantar.

- Hm... - A garotinha olhou para a mãe e estreitou os olhos. - Pode ser uma música da Barbie?

- Acho que nesse caso seria melhor uma diferente, amor. - A mulher respondeu carinhosamente, se abaixando na frente dela. - Afinal você vai cantar na casa do Papai do Céu. Precisa ser uma especial pra Ele.

Lutei contra o impulso de revirar os olhos antes de voltar minha atenção para a garotinha, que depois de pensar por alguns segundos pareceu se iluminar:

- My prayer for you! - Exclamou erguendo um dedinho.

- Ótima escolha. - A mãe sorriu.

- É isso. Diga a ela que vou cantar My prayer for you, tio Thomas. Ela precisa aprender pra cantar comigo.

- É uma canção de Alisa Turner, caso ela fique perdida na hora de procurar. - A mulher concluiu ao se levantar.

- Certo. Agora se me dão licença, eu preciso...

- Tio Thomas, está na hora das marionetes! - Agnes pronunciou se aproximando da gente e me pegando pela mão. - Vamos lá, eu conheço uma história que você pode contar.

Durante os próximos minutos que pareceram horas, tentei prestar o máximo de atenção à história que a menina me contava sobre uma girafa que foi à Marte e as aventuras que ela viveu por lá. Quando ela finalmente terminou, eu sabia que a essa altura era tarde demais tentar impedir Angeline de contar sobre nós ao seu pai. A merda com certeza já havia sido feita.

Enquanto eu reproduzia a história de Agnes para as crianças usando as marionetes, tudo o que eu conseguia pensar era o que eu faria para me explicar. O que eu diria a ela. Pra começo de conversa, será que ela iria querer me ouvir?

- Tio Thomas, você está contando errado! - Agnes me repreendeu de cara fechada. - Nessa parte a Girafa pega a lanterna para explorar a caverna, ela não fica parada desse jeito!

- Acho que o tio Thomas está cansado. - Doutora Killian comentou me salvando dos julgamentos infantis. - O que acham de fazer uma pausa para almoçarem agora? Ele continua a história depois.

As crianças resmungaram insatisfeitas, mas nenhuma delas recusou o convite. Em questão de poucos segundos eu e Killian estávamos a sós.

- O senhor está bem? - Ela perguntou preocupada. - Parece que ficou distraído de repente.

- Estou com um problema. - Respondi soltando as marionetes dentro da caixa e descansando os cotovelos sobre a bancada.

- O que houve?

Pensei por um momento, minha testa franzida de medo e preocupação. Depois ergui os olhos para a médica.

- Preciso ver Angeline. - Falei sem tentar esconder nada. - Agora.

- Aconteceu alguma coisa com ela? - Ela ergueu as sobrancelhas atenta.

Suspirei.

- Eu acho que sim.

- Vá. - Disse tirando a caixa de marionetes da minha frente. - As crianças irão entender. Eu continuo a história por você.

Eu hesitei, por um momento dividido entre ficar ou partir. Eu precisava aproveitar o tempo com as crianças já que as via apenas uma vez por semana, mas por outro lado, corria o sério risco de não ver mais Angeline se não voltasse agora.

Me levantei decidido.

- Não as deixe esquecer da excursão no próximo domingo. Diga que eu estarei aqui cedo pra ir com elas.

- Sim, senhor. - Killian gesticulou para a saída. - Espero que a Angie esteja bem.

- Eu também.

E tentando ignorar o desagradável sentimento de ir embora sem me despedir, eu saí sorrateiramente pela porta dos fundos. Espero que Killian esteja certa ao afirmar que as crianças irão entender.

Ao entrar no carro eu inconscientemente decidi não perder tempo conectando o telefone ao carregador portátil, apenas deixei os portões do Clube e ganhei as ruas da cidade. Xinguei mentalmente todos os palavrões que eu conhecia ao me ver preso em um engarrafamento antes de chegar em Boston, e após cogitar todas as saídas e atalhos possíveis acabei chegando à conclusão de que minha única opção era esperar.

Eu não fazia ideia de quanto tempo havia se passado até que o trânsito enfim seguisse seu curso normalmente, mas podia sentir meus pulsos doendo de tanto que havia apertado o volante tentando descontar minha frustração.

Quando estacionei na frente da casa de Mike meu estômago roncou, o que me lembrou que a única coisa que tomei durante todo o dia foi um copo de café expresso assim que cheguei ao Clube. Considerando que o sol já havia se posto e as primeiras sombras noturnas começavam a se esgueirar sobre a rua, minha fome repentina era compreensível. E então, tudo o que eu queria naquele momento era entrar naquela casa, pegar minha garota e a levar até um restaurante onde poderíamos jantar tranquilamente a sós.

Bati o punho no volante e fechei os olhos. Por favor, Angeline, me permita fazer isso. Me permita explicar antes de me expulsar...

Alguém bateu em minha janela dissolvendo meus pensamentos. Abri os olhos e encontrei Ethan do lado de fora me olhando confuso, então respirei fundo e desci do carro.

- Sr. Strorck, eu estava tentando te ligar... aconteceu alguma coisa?

Balancei a cabeça e bati a porta, caminhando até a entrada da casa enquanto respondia:

- Fiquei preso no trânsito.

- Eu não sabia que estava vindo aqui, senhor.

Olhei para ele por cima do ombro.

- Eu não sabia que precisava da sua permissão.

Ele não respondeu, porque antes que tivesse a chance eu bati na porta da casa.

Era possível sentir meu coração pulsar em meus ouvidos enquanto os segundos se arrastavam antes que alguém viesse atender, e quando a porta finalmente se abriu, meus olhos se prenderam aos de Angeline antes de focarem seu pai parado atrás dela. A princípio Mike franziu a testa confuso, como se perguntando o que raios eu estava fazendo em sua casa. Mas antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Angeline soltou um suspiro e correu para mim.

- Thomas! - Exclamou numa voz se equilibrando entre alívio e emoção ao me envolver em um abraço apertado, por pouco não me derrubando.

Dei um passo para trás encontrando equilíbrio enquanto a recebia em meus braços, sem saber ao certo o que aquilo significava. Eu esperava que ela fosse gritar comigo ou simplesmente me ignorar e bater a porta na minha cara... o que ela estava fazendo?

Eu a segurei firmemente e observei a expressão de seu pai mudar devagar, como se lentamente estivesse começando a entender algo.

Ah, não... só pode estar de brincadeira.

- Você quase me matou de susto! - Angeline exclamou à beira das lágrimas. - Onde estava? Por que não atendeu ao telefone?!

Ela se afastou de mim, me forçando a desviar os olhos de seu pai para ela.

- Descarregou. - Respondi simplesmente antes de olhá-lo vez.

De repente tudo fez sentido e dois fatos simples se destacaram em minha mente: Angeline não havia contado a ele sobre a gente... e eu havia entregado tudo de bandeja, da pior maneira possível

- Você está bem? - Ela perguntou chamando novamente minha atenção.

- Claro. - Respondi colocando uma mecha do meu cabelo atrás de sua orelha, ciente de que era apenas uma questão de tempo até nosso momento desmoronar. - E você?

Ela soltou um longo suspiro e fechou os olhos, encostando a testa em meu peito.

- Agora eu estou.

- Angie, pode me dar um momento a sós com o senhor Strorck? - Mike perguntou firmemente, me encarando como se eu tivesse acabado de revelar que havia deflorado sua filha por pura diversão. - Precisamos conversar.

Angeline se virou para olhá-lo com a testa franzida.

- Sobre o quê?

Mike ergueu quase imperceptivelmente uma sobrancelha para mim, me desafiando a responder. E sem pensar muito, a resposta me surgiu:

- Negócios.

Angeline se virou para me encarar, a confusão estampada em seu rosto.

- Vocês querem falar de negócios agora? Mas hoje é domingo.

- Vá para o seu quarto, Angeline. - Mike ordenou parecendo se enfurecer mais a cada segundo, e eu fechei a cara para ele.

Seu problema é comigo, não com ela.

De qualquer forma, eu sei que também não estou certo. Não posso culpá-lo por não conseguir controlar a raiva. Se eu estivesse em seu lugar, certamente não faria diferente.

Olhei para Angeline que tinha os olhos atentos em mim, surpresa com a atitude do seu pai e sem saber ao certo como lidar com isso.

- Eu te encontro depois. - Falei, sabendo que a situação só tendia a piorar se ela continuasse ali.

Ela olhou para o pai outra vez e novamente se voltou para mim, totalmente perdida.

- Está tudo bem. - Balancei a cabeça incentivando-a. - Vá.

Ela hesitou por um longo momento, mas logo percebeu que não tinha muitas outras opções. Então assentiu devagar e se virou, olhando fixamente para seu pai enquanto passava por ele.

Enquanto percebia pelo meu olhar periférico Angeline subir as escadas lentamente, sustentei o olhar furioso de Mike sem conseguir evitar me sentir em parte grato a ele. Ele podia ter jogado tudo no ventilador sem cerimônia e sem aviso prévio assim que percebeu que estávamos juntos, mas decidiu poupar a filha de escutar nossa conversa. Talvez fosse para protegê-la, talvez por causa do termo de confidencialidade que ele assinou, talvez para poupá-la de assistí-lo me espancar até a morte... mas ainda assim, ele decidiu não deixá-la saber sobre o contrato. O que de certo modo, me dá uma chance.

- Obrigado por não ter contado a ela. - Quebrei o silêncio vários segundos depois que Angeline desaparecera no topo da escada.

- O que te garante que eu não contei?

- Ela não teria me abraçado daquele jeito se você tivesse.

Mike me olhou por um longo tempo antes de soltar um suspiro frustrado.

- Ela é minha filha, Sr. Strorck. O senhor não pode pensar que eu colocaria meu emprego ou minha reputação acima dela.

- Eu não espero que você faça isso.

- Então o que o senhor espera?

Permaneci o encarando por um tempo antes de desviar os olhos, me sentindo totalmente vulnerável.

- Eu amo sua filha.

Ele soltou uma risadinha, trocando o peso dos pés.

- É mesmo? Mais do que ama seu dinheiro?

Ergui os olhos para ele outra vez.

- Você não faz ideia.

- O senhor tem alguma ideia do que está dizendo?

- Eu abro mão de qualquer coisa por ela. - Admiti. - Estou disposto a abrir mão de tudo. Mas não posso abrir mão dela.

Ele não respondeu, apenas ficou me encarando como se tentando me entender. Respirei fundo e facilitei:

- Minha vida só começou a ter algum sentido depois que eu a conheci, Mike. Ela me virou do avesso e me ensinou a dar valor ao que realmente importa. Eu não sou perfeito... mas antes dela eu era pior. Então... - Desviei os olhos para o chão e balancei a cabeça. - Não preciso de mais nada. Se tiver ela, eu tenho tudo.

Sua expressão dura não mudou imediatamente, mas depois de um longo tempo, sua voz soou um grau menos acusadora:

- Ela realmente gosta do senhor.

Assenti.

- Eu sei disso. - Não sei como nem porquê, mas sei.

Mike apertou os dentes e balançou a cabeça, respirando fundo.

- Eu não sou o pai mais perfeito do mundo, Sr. Strorck, mas eu amo minha filha. Se o senhor a machucar de qualquer maneira que seja, se tirar dela uma mínima lágrima sequer... eu juro por Deus que acabo com você. Acredite em mim, seu dinheiro não vai te proteger.

- Eu não vou machucá-la.

- Te dou o prazo de um mês. - Ele concluiu. - Ou resolve toda a sua merda de uma vez, ou eu mesmo afasto ela de você.

Respirei fundo, o alívio inundando cada milímetro do meu corpo.

- Okay. Entendi.

Longos segundos se passaram enquanto ele me encarava furiosamente sem se mover, então a menos que eu quisesse permanecer ali durante o resto da noite, me vi obrigado a quebrar o silêncio:

- Posso levá-la para jantar?

Ele ainda precisou pensar por um tempo, mas sabendo que eu estava dentro do prazo estabelecido por ele mesmo, deu um passo para trás a contragosto abrindo meu espaço.

- Ela está no quarto. Segunda porta à direita.

Balancei a cabeça e passei por ele, subindo a escada até o segundo andar. Não demorei a encontrar a porta do quarto de Angeline entreaberta, com uma placa onde li "Aqui dorme a filha do Rei" em letras douradas.

Bati duas vezes, mas não esperei permissão para empurrar a porta.

- Oi. - Falei ao encontrá-la sentada na cama, com um livro aberto em seu colo. - Posso entrar?

Ela assentiu, me encarando com os olhos inocentes.

Dei alguns passos para o interior do seu quarto olhando em volta. As paredes tinham um tom claro de rosa, a cama estava forrada com um lençol florido e enfeitada com dezenas de almofadas, o guarda-roupa tinha todas as suas portas revestidas de espelho, uma escrivaninha sustentava um notebook e alguns livros, e uma cômoda branca exibia suas fotos.

- Não é assim que eu imaginava seu quarto. - Admiti estudando os porta-retratos na cômoda, em sua maioria com fotos antigas.

- Não sabia que você andava imaginando como seria meu quarto. - Ela respondeu bem-humorada.

Olhei para ela e sorri, antes de desviar os olhos para as fotos novamente.

- Achei que teriam alguns pôsteres de Jesus nas paredes e santinhos por aqui. Talvez algumas citações da bíblia escritas em algum canto também.

Ela deixou escapar uma risadinha.

- Te decepcionei, então?

Balancei a cabeça antes de desviar minha atenção das fotos e me aproximar dela para me sentar na cama ao seu lado.

- Você nunca me decepciona.

Seu sorriso desapareceu devagar:

- O que meu pai te disse?

Enruguei o nariz e desviei os olhos.

- Nada que eu não teria dito se estivesse no lugar dele. - E olhando para ela outra vez, completei: - Ele se importa com você.

Ela continuou me olhando por um momento como se esperasse por mais alguma coisa antes de se pronunciar outra vez, numa voz neutra:

- Então está tudo bem.

Balancei a cabeça afirmativamente, descansando os cotovelos sobre as coxas e cruzando os dedos das mãos.

- Por que estava tão preocupada comigo? - Eu quis saber.

Ela engoliu quase parecendo decepcionada. E após desviar os olhos para o livro em seu colo, sua expressão relaxou visivelmente embora ela tenha franzido a testa.

- Tyler estava aqui quando eu cheguei.

Me sentei reto, batendo as mãos nos joelhos.

- O quê?

- Tudo bem, ele não fez nada comigo. - Ela disse rapidamente. - Eu o expulsei. Mas...

Franzi a testa quando ela travou, sem saber como continuar.

- Mas...?

- Ele ameaçou você. - Revelou me olhando.

Ergui as sobrancelhas e Angeline desviou os olhos outra vez.

- Ele me mandou aproveitar o tempo que temos juntos, porque não sabemos quando uma despedida é um adeus.

- E isso te assustou?

Ela me olhou de cara fechada.

- Não teria assustado tanto se você tivesse atendido ao telefone quando eu te liguei.

Soltei um suspiro reconhecendo que o erro foi meu.

- Me desculpe.

- Eu achei que alguém tivesse se livrado do seu telefone pra você não ser rastreado. Achei que você estava em perigo.

- Eu estou bem.

Ela expirou o ar pela boca.

- Eu nunca pedi tanto a Deus pra proteger alguém quanto o pedi pra te proteger.

Permaneci a encarando por um momento antes de erguer a mão para acariciar seu cabelo.

- Seria preciso mais do que o espírito vingativo do seu ex-namorado pra me impedir de chegar até você.

Agora foi ela quem ficou em silêncio, me olhando como se a preocupação ainda não tivesse se dissipado totalmente.

- Eu estou bem. - Garanti. - De verdade.

Ela apertou os lábios juntos e balançou a cabeça, desviando os olhos para o livro outra vez.

- Por que você veio aqui? - Perguntou em voz baixa. - Não devia estar no Clube agora?

- Devia. Mas recebi sua mensagem antes do telefone morrer.

Ela me olhou.

- E...?

- Fiquei com medo do seu pai ter te convencido a me deixar.

Ela piscou algumas vezes ao registrar minhas palavras antes de balançar a cabeça, uma leve ruga entre suas sobrancelhas.

- Thomas, em todo o planeta Terra existe apenas uma pessoa capaz de me convencer a te deixar.

O quê?!

- Quem?

- Você mesmo. - Ela fez uma pausa antes de prosseguir: - O dia que você olhar em meus olhos e disser que não me ama mais... então eu vou embora.

Soltei um suspiro, balançando a cabeça para os lados.

- Isso nunca vai acontecer.

- Então não há nada com o que você precise se preocupar.

Eu a olhei, e o modo como ela me olhou de volta quase me fez acreditar que ela sabia de algo e estava esperando eu revelar o resto.

Não. Impossível. Embora a porta do quarto não estivesse totalmente fechada quando cheguei, ele não fica tão perto da sala a ponto de permití-la ouvir a conversa que eu e seu pai tivemos.

- Quer sair comigo? - Perguntei.

Ela franziu a testa surpresa com a mudança repentina do assunto.

- Hoje?

- Agora.

- Mas... eu estava assistindo um filme com meu pai.

- Tudo bem, eu já tenho a permissão dele. - Sua expressão confusa não mudou, então eu sorri. - Podemos terminar o filme na minha casa.

Angeline não respondeu imediatamente, o que me fez soltar um suspiro.

- Por favor, Angel... se eu não comer nada na próxima meia hora vou desmaiar de fome.

Ela arregalou os olhos.

- Você não almoçou?

Neguei com a cabeça e ela fechou a cara, olhando para a própria roupa.

- Eu não estou arrumada para jantar fora com você.

- Você é linda de qualquer jeito, Angeline.

Ela me olhou novamente.

- Nós podemos comer aqui.

Fiz uma careta.

- Não me leve a mal, mas prefiro manter distância do seu pai por enquanto.

Ela revirou os olhos e pensou por um momento antes de me olhar outra vez, a sombra de um sorriso finalmente surgindo em seus lábios.

- Está bem. Mas eu escolho o restaurante.

Sorri.

- Fechado.

Ela balançou a cabeça e se levantou, mas antes que pudesse dar sequer dois passos, eu me levantei também, a puxei para mim e a envolvi num abraço. Ela permaneceu imóvel por segundo antes de me abraçar de volta, hesitante.

- O que foi? - Perguntou com a bochecha pressionada acima do meu peito.

- Estou feliz que a gente esteja bem.

Ela continuou paralisada por um momento, em seguida me apertou suavemente e se aconchegou em meus braços.

- Estou feliz que você esteja bem. - Sussurrou de volta.

Eu me afastei e ergui seu queixo para mim com o dedo indicador. Ela olhou em meus olhos sem oferecer qualquer resistência. Então me inclinei e a beijei sem pressa, desfrutando do momento que minutos atrás imaginei estar perdido.

- Vamos... - Falei alguns segundos depois, acariciando sua bochecha com o polegar ao me afastar dela. - Vamos jantar.

*~*~*~*

- Você tem uma semana para aprender a música. - Falei sentado na frente de Angeline, depois de praticamente raspar o prato de comida em minha frente. - Acha que consegue?

- Meu bem, eu só preciso de três dias.

Sorri, tanto pela sua confiança quanto pelo fato de acabou de me chamar de meu bem. Gostei disso.

- Você quer que eu peça alguém pra gravar pra você assistir depois? - Ela perguntou.

Apertei os lábios e me recostei na cadeira, negando com a cabeça.

- Não precisa.

Seu sorriso desapareceu enquanto ela focava sua atenção no prato, tentando disfarçar sua decepção enquanto terminava de comer.

- Eu estarei lá. - Completei.

Angeline levantou seus olhos para mim novamente.

- O quê?

- Prometi à Izzy que iria.

Ela piscou. Uma, duas, três vezes. Então um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e não parou de crescer até mostrar seus dentes. Não pude evitar sorrir de volta.

- Coma. - Pedi gesticulando para seu prato.

Ela assentiu e se pôs a comer em silêncio, tentando parar de sorrir.

- Olha só quem temos aqui. - Reconheci a voz de Wesley atrás de mim e me virei. - Senti sua falta ontem, rapaz. Por que não apareceu na pista?

- Eu estava no Brasil.

- Oi, tio Thomas. - Seu filho me cumprimentou sem soltar a mão do pai, arrumando os óculos com um dedo. - Você se lembra de mim?

Sorri, bagunçando seu cabelo carinhosamente.

- É claro que me lembro, carinha. Você cresceu.

Wesley se abaixou para ficar do tamanho do filho.

- Você se lembra da moça que te contei? - Perguntou antes de gesticular para Angeline. - É ela.

Anthony a olhou por um momento, inclinando a cabeça para trás para aproveitar as lentes dos óculos.

- Você é a namorada do tio Thomas?

Olhei para ela ao mesmo tempo que ela me olhou, mas mesmo que ela evidentemente esperasse que eu respondesse, permaneci em silêncio e ergui uma sobrancelha incentivando-a. Afinal a pergunta foi feita a ela.

- Sim. - Ela sorriu, olhando para o garotinho novamente. - Sou eu. E você é o Anthony, certo?

- Pode me chamar de Tony. - Ele disse soltando a mão do pai para apertar a dela.

- É um prazer te conhecer, Tony. Seu pai me falou sobre você.

- Você é mais bonita que a Kelly. - Ele disse naturalmente.

Eu e Wesley rimos.

- Muito bem, está na hora de ir. - Ele disse pegando a mão do garotinho outra vez. - Se despeça, filho.

- Você vai ver o tio Thomas treinar no sábado? - Ele perguntou à Angeline.

Ela me olhou sorrindo.

- Se ele me convidar...

- É claro que ela vai. - Respondi sem hesitar.

- Legal. - Anthony acenou para ela. - Até sábado, então.

- Até sábado.

- Vou te esperar, rapaz. - Wesley bateu em meu ombro. - Vê se aparece mesmo.

Eu assenti e ele se foi, levando o filho para ocupar uma das mesas nos fundos do restaurante.

Me voltei para Angeline sem conseguir esconder meu sorriso maroto.

- Então... eu sou seu namorado.

- Isso tira de você qualquer direito que tinha de beijar outras mulheres. - Ela respondeu indiferente antes de tomar seu refrigerante. - Especialmente uma tal de Kelly.

Ergui uma sobrancelha, por pouco não explodindo numa gargalhada.

- Está com ciúmes?

Ela revirou os olhos colocando o copo ao lado do seu prato.

- Não pense que eu esqueci do dia que você a beijou, comigo a menos de dez metros de distância.

- Tecnicamente, quem me beijou foi ela.

Angeline ergueu uma sobrancelha pra mim deixando claro que minha desculpa era inútil.

- E além do mais, a gente ainda não tinha nada naquela época.

Ela estreitou os olhos, ainda insatisfeita.

Okay, cartas na mesa:

- Por um segundo, eu pensei que fosse você.

Ela arregalou os olhos.

- O quê?

- Eu estava pensando em você enquanto corria. Eu não estava exatamente atento a quem estaria me esperando na linha de chegada. Eu não vi que era ela. Só notei o engano depois que a boca dela estava na minha.

Angeline tinha a palavra REPULSA estampada no rosto, todas as letras em maiúsculas escritas num vermelho fluorescente.

- O cheiro de cigarro não te deu nenhuma pista de que não era eu?

- Foi isso o que me fez recuar.

Ela fez uma careta de desgosto, balançando a cabeça para os lados.

- Esqueça isso. Eu só quero terminar de comer.

Concordei, ciente de que no momento, o silêncio era minha melhor resposta.

Minutos depois saímos do restaurante de mãos dadas, Angeline perdida em seus próprios pensamentos e eu lutando para encontrar qualquer coisa que pudesse desviar sua mente do assunto "Kelly".

- Angel... - Chamei enquanto caminhávamos tranquilamente até meu carro parado na esquina.

Ela me olhou, mas não respondeu.

- Quer morar comigo?

Ela piscou seus olhos levemente mais abertos que o normal, mas quando não respondeu, completei:

- Tem muitos quartos de hóspedes na casa. Você pode ficar com um deles.

Angeline parou na minha frente e ficou na ponta dos pés para aproximar seu rosto do meu, então inspirou fundo e enrugou o nariz.

- Você pediu alguma bebida alcoólica?

Sorri e balancei a cabeça aliviado por ela estar levando o assunto na esportiva. Tomei sua mão novamente e continuei andando, induzindo-a a me acompanhar.

- Se estamos juntos, não vejo lógica você continuar morando nas instalações.

- Por quê?

- Porque é desconfortável.

Ela ponderou minha resposta por um tempo antes de me olhar de novo.

- Mas os outros empregados moram lá. Incluindo minha mãe.

- Sua mãe pode vir com você.

- E quanto aos outros?

- Eu não tenho nenhum tipo de relacionamento com os outros.

Ela sorriu.

- Você precisa parar de pensar que eu quero tratamento especial por estarmos juntos, Thomas.

- Mas...

- Tenho uma ideia melhor. - Ela me interrompeu. - Reforme as instalações e aproveite melhor os espaços. Assim eu vou ficar confortável.

- Reformar as instalações... - Repeti, considerando sua ideia por alguns segundos. - É uma boa opção.

- Eu sei, sou um gênio. - Ela respondeu animada.

Olhei para ela e estreitei suavemente os olhos.

- Então você quer ser tratada da mesma maneira que eu trato meus outros funcionários.

Ela assentiu com a cabeça e eu suspirei, abrindo a porta do carro assim que chegamos até ele.

- Eu não consigo te entender, sabia?

- Então estamos quites. - Ela sorriu pra mim antes de entrar. - Eu só acho que se você acredita que eu mereço um tratamento melhor... provavelmente eles também merecem.

E depois de uma piscadela, ela entrou e eu fechei a porta.

Durante todo o caminho até minha casa uma conversa tranquila e divertida fluiu entre a gente. O clima estava tão leve, que parecia inacreditável o fato de que horas atrás eu estivera tão tenso imaginando que a perderia.

- Quem chegar por último na porta da minha casa é um ovo estragado. - Ela exclamou sorrindo, abrindo a porta e saindo correndo em direção à área das instalações, mas antes mesmo de cobrir metade do caminho, eu a alcancei agarrando-a pela cintura em um abraço.

- Ei, ei, ei... ainda temos um filme pra assistir.

- Agora? - Ela se virou pra me olhar. - São mais de oito horas.

- Acabou de dar oito horas.

- Mas está tarde. Minha mãe deve estar me esperando.

Olhei sobre seu ombro para o casebre de Sarah e balancei a cabeça ao notar que as luzes estavam apagadas.

- Pode apostar, ela não está te esperando chegar agora.

- Bem, então nesse caso... - Ela se desvencilhou do meu toque suavemente, dando alguns passos em direção à minha casa. - Quem chegar por último na sua casa é um ovo estragado!

Eu ri e corri atrás dela, mas não me esforcei para alcançá-la. Parecia ser importante para ela vencer essa corrida.

Angeline riu vitoriosa quando terminou de subir a escadaria externa da mansão e se virou para mim.

- Ganhei! - Exclamou erguendo os braços. - Qual é meu prêmio?

Eu me aproximei dela me divertindo com sua euforia e a peguei pela cintura, beijando-a delicadamente.

- Eu não quero esse prêmio. - Ela disse me empurrando.

Franzi a testa achando graça, enquanto a levava porta adentro sem soltá-la.

- O que você quer, então?

- Hm... um bolo de chocolate, com cobertura de chocolate e recheio de chocolate.

Eu ri.

- Não sabia que você pudesse ser tão exigente.

- Seria uma ótima sobremesa agora.

- Seria... - Beijei sua bochecha. - Mas receio que dessa vez você vá ter que ficar apenas na vontade, porque a cozinheira da casa está ocupada.

E quando eu beijei seus lábios, ela não recuou. Suas mãos subiram pelos meus braços e se embrenharam em meu cabelo, enquanto ela me permitia explorar sua boca com a minha. Puxei seu lábio inferior entre meus dentes e soltei um suspiro antes de me afastar.

Mantenha o controle, Thomas...

- Venha. - Falei me inclinando para pegá-la no colo.

Angeline soltou um gritinho quando eu a ergui do chão, mas subitamente a coloquei de pé novamente quando meus olhos encontraram os de Sarah, parada de pé no segundo degrau da escada.

- Mãe. - Angeline emitiu depois de seguir meu olhar, a graça se perdendo de repente.

Ela passou as mãos pelo cabelo e ajeitou a roupa, como se isso pudesse amenizar o que quer que viria em seguida.

Merda! Mil vezes merda! Espero que esse dia não tenha como piorar...

Sarah inspirou o ar e o soltou devagar, erguendo suavemente a cabeça para parecer natural:

- Eu perguntaria se o senhor precisa de algo antes de eu me recolher, mas parece que já tem tudo o que quer. - E após olhar sua filha com um expressão que me causou um tremendo desconforto, ela se voltou para mim. - Então tenha uma boa noite... senhor.

E sem esperar uma resposta, ela passou pela gente e se foi nos deixando momentaneamente paralisados.

- Vou falar com ela. - Eu disse me virando de repente, mas Angeline segurou minha mão.

- Acho melhor você ficar fora disso. O problema é comigo.

- Não, Angeline, é em mim que ela não confia.

- Você só vai piorar as coisas. Vá descansar, a gente conversa amanhã.

Agora foi minha vez de segurá-la quando ela ameaçou partir.

- Eu não vou te deixar fazer isso sozinha.

Angeline respirou fundo e balançou a cabeça, puxando sua mão do meu alcance.

- Dessa vez isso não depende de você.

E sem esperar meu consentimento ela apenas se foi, me deixando mais apavorado do que quando eu precisava lidar apenas com seu pai.

#-#

Desculpem não ter postado ontem, amorinhos. Não consegui terminar o capítulo a tempo 😢

Queria agradecer a todas as mensagens de apoio que recebi no capítulo passado, no Instagram e no Whatsapp. Obrigada por serem tão carinhosos, compreensíveis e pacientes. Não se preocupem comigo, eu estou bem agora. Sei que Deus sempre sabe o que faz e que minha avó está bem nos braços dEle.

Não estou dando conta de responder às mensagens mas eu sempre leio todas, então se vcs tiraram um tempo pra vir falar comigo, recebam meu abraço. Eu tenho tanta sorte por ter vocês na minha vida...

Mas enfim, chega de drama. Não se esqueçam de me manter atualizada em suas opiniões sobre a história, porque se algo não estiver bom, é sempre melhor arrumar no começo. Então por favor, comentem. Lembrem-se que eu gosto de ler seu comentário (qualquer que seja ele) tanto quanto você gosta de ler meu livro. Então sejamos justos kkk

É isso. Até mais. Desculpem pelo atraso. Beijos da Mih. Amo vcs ❤

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